Tony Goes

Não, Maria Gadú, os concursos musicais da TV não existem para revelar novos talentos

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Maria Gadú deu uma entrevista à coluna de Monica Bergamo que foi publicada no domingo (5) pela Folha e está repercutindo até agora. Tudo por causa do trecho em que a cantora comenta sua participação como técnica auxiliar no “The Voice” (Globo):

"Vi ali uma galera sedenta de sucesso e acho... Não sei. Fiquei um pouco chocada com isso de procurar uma voz. Acho que o caminho artístico não se baseia só nisso. Eu não vi um conteúdo da voz, qual a mensagem que você quer transmitir. Por isso até que eu nem quis participar mais."

Gadú, vem cá que eu vou te contar um segredinho: concursos como “The Voice” e “Superstar” não estão aí para revelar novos talentos musicais. Eles são programas de TV e, portanto, seu objetivo é mais prosaico: dar audiência.

Os shows de calouros vêm desde a era do rádio, e são inúmeros os artistas que tiveram neles sua primeira grande chance. Mais incontáveis ainda são os que ficaram pelo caminho, apesar de terem voz e talento.

O gênero parecia esquecido, até ser ressuscitado no começo da década passada por grandes formatos internacionais. As primeiras edições do “American Idol” foram um celeiro de estrelas: lançaram Kelly Clarkson, Carrie Underwood, Chris Daughtry, Jennifer Hudson e Adam Lambert, entre muitos outros.

No Reino Unido, o vencedor do “X Factor” costumava emplacar a música nº 1 do Natal, algo que tem bastante peso por lá. E Susan Boyle tornou-se uma estrela planetária graças ao “Britain’s Got Talent”, apesar de ter ficado em segundo lugar na competição.

Aqui no Brasil, o “Popstars” do SBT gerou dois grupos de sucesso fulminante (e efêmero), o Rouge e o Br'oz

Mas tudo isso é efeito colateral. Apesar dos júris de alguns desses certames incluírem executivos de gravadoras e produtores renomados, o sucesso dos campeões é lucro. O programa só existe para dar audiência.

De uns tempos para cá, ocorre um fenômeno curioso. As últimas temporadas do “American Idol” (que acabou este ano) passaram meio batidas. E os vencedores dos concursos, na maioria dos países onde eles são realizados, estão sendo esquecidos em pouco tempo.

Aqui no Brasil, Ellen Oléria, a primeira vencedora do “The Voice”, continua em evidência —mas não se tornou a estrela que prometia ser. A primeira edição do “Superstar” fez a banda Malta galgar as paradas de sucesso, e não muito mais do que isso.

Mas a audiência desses programas continua sólida, porque o público, na verdade, está mais interessado no drama humano do que na música propriamente dita.

Queremos conhecer as histórias pessoais dos candidatos, vê-los se digladiando entre si, superando suas próprias limitações. E só. Quando eles lançam seus discos, já estamos prestando atenção em outra coisa.

Mas eu entendo seu desapontamento, Gadú. Você esperava encontrar almas gêmeas na arte e deu de cara com um esquema que não está realmente interessado em descobrir e lapidar talentos. Afinal, estamos na TV aberta: é apenas o Ibope que importa.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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