Tony Goes

Escassez de episódios ajudou a transformar 'Star Wars' numa obsessão

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Eu era adolescente quando saiu o primeiro "Star Wars". Naquela época, os filmes estrangeiros demoravam muito para chegar ao Brasil: o fenômeno das bilheterias de 1977 só estreou por aqui em 1978, mais de seis meses depois de ser lançado nos EUA.

Naqueles tempos pré-internet, não havia muita expectativa. "Guerra nas Estrelas" (que ainda não se chamava "Episódio IV - Uma Nova Esperança") entrou em cartaz sem causar muita comoção. Fez muito sucesso, claro, mas não ao ponto de se transformar em obsessão. Ainda nem existia o conceito de "nerd".

Dois anos depois surgiu o segundo volume da série, "O Império Contra-Ataca". E em 1983 veio o terceiro capítulo daquela fase, "O Retorno do Jedi". Todos faturaram fortunas, no Brasil e no resto do mundo. E então... silêncio.

Àquela altura, "Star Wars" já era um pilar da indústria de entretenimento. Gerava dezenas de derivados: livros, brinquedos, videogames, desenhos animados para a TV. Mas George Lucas, o criador e dono da série, parecia não estar mais interessado nela.


Passaram-se longos 16 anos até que ele se dignasse a dirigir um novo episódio. Mesmo assim, não era a continuação que os fãs tanto queriam: era um "prequel", "A Ameaça Fantasma". E a primeira parte de uma trilogia que contava como Anakin Skywalker se transformara no vilão Darth Vader, muitos anos antes do tempo em que se passavam os primeiros três filmes.

Foi uma decepção, mesmo para os fanáticos mais empedernidos. Ainda mais porque nenhum dos novos filmes se equiparava à qualidade dos primeiros. Mesmo assim, o sucesso foi avassalador. Toda uma geração que só conheceu "Star Wars" em videocassete estava ávida por novas aventuras, quaisquer que elas fossem.

Essa seca ajudou a transformar a série no colosso que é hoje. "Star Wars" virou artigo de luxo. Uma iguaria rara, que só vem à luz de tempos em tempos. A lei da oferta e procura contribuiu para elevar seu preço simbólico.

Basta comparar com outras franquias do cinema. "Harry Potter" teve oito longas em dez anos. Foi um arraso, mas não se converteu numa religião com milhões de aderentes mundo afora. O mesmo aconteceu com James Bond, "As Crônicas de Nárnia", "Jogos Vorazes" e tantos outros, cujas sequências chegam com regularidade às salas de exibição.

Agora isso vai mudar. George Lucas vendeu sua produtora para a Disney há alguns anos, e junto com ela foram os direitos de "Star Wars". A nova proprietária não perdeu tempo: começou imediatamente a produzir um novo episódio da saga, e promete outros de dois em dois anos.

Além disso, a Disney fez o que todo mundo queria: trouxe de volta Luke, Leia, Han Solo, Chewbacca, toda a galera. Por tudo isso, o frisson em torno da estreia de "O Despertar da Força" atingiu níveis estratosféricos.

Mas será que esse auê continua em 2017, quando sair o oitavo capítulo? "Star Wars" corre o risco de se tornar uma série como as outras. Com muito sucesso, claro, mas sem o clima de evento intergaláctico que vivemos hoje. Afinal, até caviar enjoa se for comido todo dia.


Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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