Tony Goes

O beijo entre Bruno Gagliasso e João Vicente de Castro foi mesmo necessário?

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A moda foi lançada por mulheres. Em março de 2013, durante a entrega de um prêmio de teatro no Rio de Janeiro, Fernanda Montenegro beijou Camila Amado na boca. A intenção? Protestar contra a homofobia.

A internet reagiu como era de esperar: uns contra, outros a favor. Mas a polêmica minguou em poucos dias. Não dá nem para comparar com a que envolveu o outro beijo lésbico de Fernanda, dois anos depois, com Nathalia Timberg, no primeiro capítulo da novela "Babilônia" (Globo).

Agora estamos vivendo uma outra controvérsia, dessa vez envolvendo dois atores comprovadamente heterossexuais. Como até as pedras sabem, Bruno Gagliasso e João Vicente de Castro se beijaram durante a entrega do prêmio "Men of The Year" da revista "GQ".

O objetivo era o mesmo: protestar contra a homofobia. Como o próprio Bruno escreveu em seu perfil no Instagram: "Aos machistas de carteirinha, hipócritas de plantão e preconceituosos... O nosso carinho e nosso amor de homem com H!"

No momento em que escrevo esta coluna, a foto já conta com quase 89 mil "likes". Mas, nos comentários, a paisagem é outra: muitas, muitas críticas. Até de gente que jura não ser preconceituosa, mas que diz que a atitude dos rapazes foi "desnecessária".


Será que foi mesmo? Num sentido imediatista, sim, foi. É claro que os direitos dos gays brasileiros não avançaram um milímetro desde o dia do beijo. Algumas almas mais sensíveis acham até que ele teria prejudicado a causa LGBT, pois seria uma "agressão".

Agressão? Oi? Vai dizer isto para o garoto que levou uma lampadada na cabeça porque um idiotinha cismou com a cara dele, ou para aquele outro que foi enforcado com sua própria camiseta por seus vizinhos de bairro.

É claro que não são necessários paus e pedras para se agredir alguém, mas quem acha que um simples beijo é violento está abusando do mimimi. O que Bruno e João Vicente fizeram foi só uma provocação: um gesto para "épater les bourgeois", chocar a burguesia. Que anda mais careta do que nunca.

Foi como se eles lançassem uma carapuça no ar. Muitos couberam nela. Como o cantor sertanejo César Menotti, que escreveu no próprio perfil de Gagliasso no Instagram: "É assim que (se) demonstra ser um homem com H? Se postar um vídeo transando com outro homem, aí será homem mesmo, seguindo esse raciocínio. Não sou machista, não sou hipócrita, não sou preconceituoso e não beijo outro homem na boca. Mesmo assim, continuo sendo homem com H".

Não, Menotti. Homem com H não se incomoda com essas coisas, nem liga para a sexualidade alheia. É por isto que atitudes como a de João Vicente Castro e Bruno Gagliasso são mais do que indispensáveis.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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