A maior ameaça à Globo é... a própria Globo?
Aconteceu há alguns dias, durante uma reunião no Projac. Perguntaram a um grupo de artistas e técnicos qual seria a maior ameaça à hegemonia da Globo no Brasil. A Record? Os canais pagos? A internet?
Foi então que alguém respondeu: a própria Globo.
A ideia é provocativa e pode soar exagerada, mas tem lá seu fundamento. Porque a Globo corre o sério risco de ficar para trás se não souber se adaptar aos novos tempos.
Muita gente na cúpula da emissora sabe disso, e luta para implantar uma nova mentalidade. Mas a Globo é tão grande e tão complexa que lembra um transatlântico, ou a Igreja Católica: não muda de curso de uma hora para a outra.
Mas precisa mudar logo, porque algumas oportunidades já foram perdidas. A começar pela própria internet. É inconcebível que o maior grupo de comunicação do país ainda tenha uma presença online tão confusa.
Qual é o site oficial da Globo? É a Globo.com? É o G1? O Gshow? Onde que eu encontro o capítulo de ontem da novela? Toda vez eu me perco. Pelo menos foi anunciado nesta segunda (26) que o serviço de "streaming" Globo Play será lançado no dia 3 de novembro. Ufa!
Durante muitos anos, um dos defeitos mais graves da emissora foi agir como se só houvesse ela no mundo. Artistas da concorrência não eram citados e sequer podiam aparecer em comerciais. Isso já mudou, felizmente: só na semana passada, Silvio Santos foi homenageado pelo "Vídeo Show" e satirizado pelo comediante Ceará no "Tomara que Caia".
No entanto, sobrevivem alguns vetos curiosos. Por exemplo: é proibido mencionar pelo nome o Facebook ou o Whatsapp. São apenas "redes sociais". A justificativa é que se trata de marcas comerciais, e que falar delas significaria veicular propaganda grátis. OK, faz sentido. Mas deixar de dizer seus nomes não impediu que essas redes crescessem incrivelmente no país.
No fundo, este é o problema da Globo. Setores do canal ainda agem como se os anos 1990 não tivessem terminado. Aquela década foi a última de domínio absoluto da emissora: a TV paga e a internet ainda eram incipientes, a concorrência na TV aberta era pífia e qualquer novelinha dava 50 pontos.
Esse monopólio virtual acabou. Hoje em dia, além de tudo, existe todo um público que não cresceu assistindo à Globo. É a chamada "nova classe C", que comprou seus primeiros televisores nos últimos anos. Ela não tem o hábito de ficar num só canal — e, para complicar ainda mais, costuma ser mais conservadora do que o espectador com que a Globo se acostumou.
Por outro lado, ninguém está melhor aparelhado do que a Globo para enfrentar as novidades. O capital humano, o capital técnico e o capital propriamente dito: o melhor de tudo isto está lá.
Falta cair de vez na real. Já começou, pelo menos em alguns setores. Ou este processo continua, ou a queda será para valer, no mau sentido.
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