Tony Goes

Facebook pede que rede evangélica Faceglória mude de nome

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Já faz algum tempo que temos a sensação de que o mundo é dominado pelo Facebook. Mas é ilusão: apesar de ter liquidado o Orkut e o MySpace, o site de Mark Zuckerberg ainda tem pouca penetração em países como a China ou a Rússia. E à sua sombra proliferam milhares de outras redes, tanto de interesse geral como bastante especializadas.

Muitas são de cunho religioso. Os muçulmanos, por exemplo, dispõem da Ummaland, que oferece "privacidade adicional para as mulheres" (uma burca virtual?). Ou do Naseeb, uma agência matrimonial online para os seguidores de Maomé.

Por isto, não deveria causar surpresa o surgimento do Faceglória, a rede social brasileira voltada para os evangélicos. Nos Estados Unidos existem várias: por que não aqui?

Criado em 2012, o Faceglória só foi lançado oficialmente em junho passado, na esteira da Marcha para Jesus realizada em São Paulo. Apesar de seus fundadores garantirem que não há nenhum investimento milionário por trás, diversas estrelas da música gospel e líderes de igrejas neopentecostais estão divulgando o novo site.

Crédito: Miguel Schincariol - 29.jun.15/AFP Thiago, Davis, Daiane e Atilla, criadores do FaceGlória, em São Paulo
Thiago, Davis, Daiane e Atilla, criadores do FaceGlória, em São Paulo

Ao contrário das grandes redes, o Faceglória não dá as boas-vindas para qualquer um. Ele "exige" que seus membros sejam cristãos, embora não tenha como verificar isto no momento da inscrição. Mas pode excluir quem julgar que saiu da linha, e incentiva os usuários a denunciar os indisciplinados.

Até aí tudo bem, não é mesmo? Quem não quer seguir as regras do clube, não pode ser sócio dele. Mas o Brasil, apesar de ser um país racista, machista e homofóbico, gosta de se imaginar sem preconceitos —e nossa mentalidade bom-mocista se escandaliza com qualquer discriminação escancarada.

Como, por exemplo, a proibição a fotos de beijo gay imposta pelo Faceglória (mulheres de biquíni são liberadas). Mas é bom lembrar que o próprio Facebook censura qualquer imagem que considere pornográfica, incluindo pinturas clássicas e cartuns de Adão e Eva. Além disso, bloqueia e até expulsa os "culpados".

No mais puro espírito de porco, alguns gays e autoproclamados "satanistas" (duvido que o sejam de verdade, mas vá lá) entraram para o Faceglória só para provocar o "povo de Deus", enquanto não forem expelidos sumariamente. The zoeira never stops!

Mas a verdadeira controvérsia envolvendo a rede recém-lançada vem de sua fonte de inspiração. O Facebook enviou uma notificação extrajudicial pedindo que seu jovem rival "redirecione usuários para outro sítio na internet, que não se confunda com o Facebook, ou seja, não contenha os termos FACE ou BOOK, qualquer logo de propriedade do Facebook, ou utilize qualquer estilização ou aparência que possa criar risco de associação com a rede social Facebook".

Em miúdos: o Facebook quer que o Faceglória mude de nome. Algo parecido aconteceu com o extinto UOLkut, a rede social lançada pelo UOL em 2005 e que precisou ser rebatizada de UOL K depois que o Orkut reclamou.

Mas a legislação brasileira respalda o Faceglória, cujo registro de marca foi concedido pelo INPI (Instituto Nacional de Propriedade Industrial) há mais de três anos. Vamos ver como a Justiça irá se posicionar.

Qualquer que seja o veredito, a reação do Faceglória provoca risos. Contaminados pela empáfia típica dos fundamentalistas, os responsáveis pela rede acham que o Facebook está "incomodado" com o crescimento do Faceglória, que já contaria com mais de 100 mil cadastrados. Será? O Facebook tem quase um bilhão e meio

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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