Tony Goes

A sombrinha de Angélica e a volta da escravidão

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

A semana passada não foi fácil para a família Huck. Começou com Luciano sendo bombardeado (inclusive por este colunista ) por causa da camiseta infantil "Vem Ni Mim que eu Tô Facin" vendida em seu site. Terminou com Angélica sendo impedida de gravar uma matéria numa universidade carioca.

A apresentadora deixou o local sob o apupo de alguns estudantes, que gritavam "o povo não é bobo, abaixo a Rede Globo".

Angélica tenta gravar em universidade e é vaiada por alunos e expulsa do campus; assista

O entrevero já foi chato o suficiente, mas ainda gerou um subproduto. O tribunal da internet logo reparou que Angélica saiu da UniRio protegida por uma sombrinha segurada por uma moça negra.

A cena "digna de Debret" causou comoção. Angélica não tem mão para segurar a própria sombrinha? Precisa de uma escrava para isto? Estamos de volta ao século 19?

Ai, gente, que preguiça.

A falta de conhecimento sobre como funciona uma equipe de gravação, aliada à vontade de esculachar qualquer celebridade por qualquer coisa, acabou gerando uma caça às bruxas onde elas não existem.

Sim, estou defendendo Angélica. Do mesmo modo como critiquei Luciano Huck, agora me vejo impelido a resguardar sua mulher das críticas injustas.


Não sou o único. A atriz Mika Lins escreveu o seguinte no Facebook:

"Não sou amiga da Angélica mas não posso ser hipócrita: quando gravamos externa na Globo sempre tem uma equipe da produção que nos protege do sol ou da chuva enquanto esperamos para gravar. Isso para não derreter o make ou molhar cara, cabelo e figurino. Já tive alguém segurando a sombrinha para mim sem que essa pessoa estivesse em situação de humilhação e sem que eu a deixasse de tratar com respeito pela sua função exercida naquele momento. Segurando um guarda-chuva, me trazendo uma cadeira ou servindo um copo d'água."

Ou seja: aquela moça que segurava a sombrinha não é uma escrava, nem é funcionária pessoal de Angélica. É uma assistente de produção que está sendo paga por seu trabalho.

"Mas é um trabalho humilhante!", exclamarão alguns. Que certamente nunca passaram perto de um set de filmagem, onde a equipe precisa se desdobrar entre dezenas de micos que precisam ser pagos.

Os mais puritanos ficariam horrorizados se soubessem das mordomias de que algumas grandes estrelas desfrutam em seus camarins. Com o perdão pelo péssimo trocadilho, são paparicos de luxo que fazem portentosa sombra à sombrinha de Angélica.

Mas o contexto não importa, não é mesmo?. O que interessa é que uma mulher branca e rica foi vista caminhando debaixo de uma sombrinha segurada por outra mulher, esta negra e provavelmente pobre.

O fato de ambas serem profissionais no exercício de suas funções não vem ao caso. Parecem escrava e sinhazinha, e isto já basta para nos divertirmos com nosso precipitado moralismo virtual.

LEIA TAMBÉM - 'A sombrinha de Angelica', por Luiz Fernando Vianna

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

Final do conteúdo
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Ver todos os comentários Comentar esta reportagem

Últimas Notícias