Tony Goes

Mesmo de graça, nem todo mundo quer o novo disco do U2

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Há mais de uma década que o U2 é a maior banda de rock do mundo. Concorrentes como o Coldplay até chegam perto, mas ninguém ameaça o reinado de Bono e sua turma. Os shows do U2 não só lotam como provocam engarrafamentos no mundo inteiro. E cada disco novo é recebido com aplausos da crítica e delírio do público.

Quer dizer, nem todos. "Songs of Innocence", lançado na semana passada com uma estratégia de marketing inédita, está provocando revolta entre alguns usuários do programa iTunes. Eles receberam o disco de graça, e agora querem se livrar dele.

A Apple pagou 100 milhões de dólares por "Songs of Innocence", para presenteá-lo a todos os consumidores que possuem uma conta na iTunes Store. As 11 faixas do álbum foram baixadas automaticamente nas bibliotecas de mais de 500 milhões de pessoas, em comemoração ao lançamento do iPhone 6 e do Apple Watch.

Que presentão, não é mesmo? Só que não. Teve gente que achou que seu computador estava sendo invadido por um vírus chamado "U2", e a caixa postal da Apple ficou lotada de reclamações. O Twitter também se encheu de gracinhas contra o disco indesejado. Para piorar, muitos dos queixosos simplesmente não conseguiam apagar as músicas de seus computadores.

A gritaria foi tamanha que a Apple se viu obrigada a lançar uma página com instruções para deletar "Songs of Innocence". É um caso inédito de uma empresa que distribui um brinde, e depois tem que ensinar a seus consumidores como se livrar dele.

Claro que também teve muita gente - a maioria - que adorou o presente. Tanto que todo o catálogo antigo do U2 voltou às paradas, um sinal certeiro de que o novo disco agradou.

Mas afinal, como é "Songs of Innocence"? É bom, mas não é ótimo. Não se compara aos petardos juvenis que a banda lançou nos anos 80, nem à fase experimental dos anos 90 que rendeu "Achtung Baby" e "Zooropa". Mas é um trabalho consistente e variado, com boas melodias e alguns toques eletrônicos. Em suma: não é de se jogar fora.

Mas muita gente jogou, e com todo o direito. A Apple não deveria ter simplesmente descarregado o álbum inteiro nas bibliotecas de seus clientes, mas disponibilizado o download para quem quisesse - como já faz, aliás, com o "Single da Semana" da iTunes Store, que é gratuito porém opcional.

Para quem já implicava com o império fundado por Steve Jobs, fica reforçada a imagem de uma empresa que quer controlar a vida de seus consumidores. Mas também é confirmada a sensação de que, nesses tempos de escolhas múltiplas e gratificação instantânea, é impossível agradar a todo mundo.


Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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