Tony Goes

O 'desafio do gelo' já está sendo criticado, mas é muito melhor do que nada

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Lembra do #SomosTodosMacacos? A moda começou quando Daniel Alves foi alvo do racismo da torcida adversária durante um jogo entre o Barcelona e o Villareal em abril passado. Alguém atirou uma banana dentro do campo, e o jogador brasileiro não teve dúvidas: saboreou-a ali mesmo, como se nada.

Esse gesto irreverente desmoralizou os racistas e gerou uma onda imediata de solidariedade. No mesmo dia, dezenas de outras celebridades postaram nas redes sociais fotos delas mesmas comendo banana. O "hashtag" foi compartilhado até mesmo pela presidenta Dilma Roussef.

Mas a reação contrária não demorou nem dois dias para surgir. Militantes negros reclamaram que só os brancos acham graça em serem chamados de símios. Houve gente que sugeriu mudar para #SomosTodosBananas. No final daquela semana, ninguém mais aguentava falar do assunto.

Algo parecido está acontecendo com o "desafio do balde de gelo". A campanha surgiu nos Estados Unidos e logo chegou ao Brasil. Sua intenção não poderia ser melhor: aumentar a conscientização sobre a esclerose lateral amiotrófica ("ela"), e também as doações para as ONGs que cuidam dessa doença gravíssima e pouco conhecida.

A regra é simples: um famoso despeja um balde d'água e gelo sobre a própria cabeça, e em seguida desafia três outros famosos a fazerem o mesmo. Quem não topar deve doar US$ 100 para alguma associação de pesquisa sobre a "ela". Conscientes do escrutínio da mídia, muitas celebridades americanas optaram por fazer as duas coisas: tomaram seus banhos gelados e doaram quantias consideráveis, muito além do estipulado.


No Brasil o desafio foi lançado por Luciano Huck, e em poucos dias já são dezenas os atores, cantores e apresentadores que postaram seus vídeos congelantes na internet. Inclusive já começou a "zoação": Rafinha Bastos despejou um balde vazio na cabeça, para criticar a falta d'água em São Paulo.

Também já começaram as críticas. Nos Estados Unidos, o jornalista Will Oremus do site "Slate" escreveu um artigo contundente, defendendo que as pessoas parem com essa bobagem do balde e simplesmente doem o dinheiro. Por aqui, comentários semelhantes também estão pipocando nas redes sociais.

Acontece que a campanha está tendo um resultado espetacular. Lá nos Estados Unidos, algumas entidades arrecadaram em um mês 50 vezes mais do que no mesmo período do ano passado. A soma total destinada às diversas ONGs americanas especializadas em "ela" já ultrapassa os 20 milhões de dólares.

E no Brasil? Eu conversei com Élica Fernandes, a gerente social e executiva da Abrela (Associação Brasileira de Esclerose Lateral Amiotrófica). Ela me disse que ainda é cedo para saber, mas que já vem recebendo cinco ou seis doações por dia. Parece pouco? A média da Abrela são dez doações por mês.

Além do mais, prosseguiu Élica, a "ela" nunca teve tanta mídia no nosso país. E ainda me contou da dificuldade que é angariar fundos para uma ONG voltada para uma doença fatal e que só atinge adultos. Mesmo que temporariamente, o "desafio do gelo" já está fazendo diferença.

Então vamos deixar de ser cínicos e parar de reclamar. Claro que tem muito famoso querendo apenas posar de bacana, mas e daí? As doações cresceram, a conscientização também. Só isto é que importa.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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