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'Noé' com Russell Crowe abre mini-dilúvio de filmes bíblicos

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Houve um tempo em que o cinema transbordava de histórias tiradas da Bíblia, ou mesmo inspiradas nela. Títulos como "Os Dez Mandamentos", "O Manto Sagrado", "Ben Hur" ou "Quo Vadis" atraíam Oscars e bilheterias.

A maré recuou a partir dos anos 60. O Novo Testamento só chegava às telas em releituras ousadas como "O Evangelho Segundo São Mateus", de Pasolini, ou "A Última Tentação de Cristo" de Scorses. O Antigo Testamento foi relegado às minisséries de TV.

Há exatamente dez anos, parecia que teríamos uma nova leva de filmes religiosos. O sucesso avassalador da "Paixão de Cristo" fez com que os estúdios de Hollywood aprovassem alguns projetos do mesmo gênero, mas nenhum alcançou a repercussão da sangrenta obra de Mel Gibson.

Agora estamos a ponto de mergulhar em mais uma onda carola. "O Filho de Deus" já estreou nos Estados Unidos, e entra em cartaz no Brasil no próximo dia 10. No papel título, o ator português Diogo Morgado, que também interpretou Jesus Cristo na série "A Bíblia" (e que a Record tentou contratar para a novela "Vitória".)

No final deste ano chega "Êxodo: Deuses e Reis", uma superprodução dirigida por Ridley Scott e com Christian Bale fazendo Moisés.

Crédito: Divulgação Russell Crowe no filme "Noé"
Russell Crowe no filme "Noé"

Nesta quinta-feira (3) irrompe em nossos cinemas o barulhento "Noé". É uma versão longa e violenta de uma trama que ocupa poucas páginas do Livro do Gênesis, e que estava em vias de se transformar num conto infantil.

O diretor Darren Aronofsky faz devolve Noé ao mundo dos adultos, fazendo-o sofrer com guerras e dúvidas sobre a própria fé. Também recheia a narrativa com personagens que não aparecem no original, como Ila, a mulher de Sem, ou os polêmicos "guardiães", de longe a maior audácia do filme.

Sim, a Bíblia cita "en passant" que, no tempo de Noé, viviam gigantes na Terra. Mas é no Livro de Enoque, um antigo texto hebraico que não entrou para o Antigo Testamento, que os descreve como seres de luz aprisionados pela matéria, como castigo por terem ajudado os homens.

"Noé" mostra essas criaturas como imensos monstros de pedra, que lembram uma versão pré-histórica dos Transformers. O resultado é que a parábola bíblica ganha ares de ficção científica.

Este não é o único defeito do filme. Os animais, todos gerados por computador, estão longe da perfeição do tigre de "As Aventuras de Pi". Os efeitos especiais parecem efeitos mesmo, aplicados na pós-produção. E o protagonista Russell Crowe, como sempre, está à beira da canastrice.

Salva-se Emma Watson, a Hermione da série "Harry Potter". Ela amadureceu como atriz e chega a emocionar na pele da nora do patriarca, sugerindo que tem uma longa carreira pela frente.

"Noé" já está fazendo um dinheirão pelo mundo afora, e seu êxito pode provocar um dilúvio para valer de filmes bíblicos. Muitas dessas histórias são de fato boas, e merecem ser contadas com os recursos de que dispomos hoje.

Mas, dados os fracassos recentes, nada garante que todos esses filmes terão grande público. Filmar a Bíblia continua sendo uma questão de fé.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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