Torcida por Félix e Niko de "Amor à Vida" mostra que o Brasil mudou
Em 1998, o casal de lésbicas da novela "Torre de Babel" (Globo) foi tão rejeitado pelo público que as personagens precisaram ser eliminadas da trama.
Antes de ir pelos ares abraçada a sua amada Leila (Silvia Pfeiffer), na explosão do shopping Tropical Towers, Rafaela (Christiane Torloni) ainda mandou um recadinho para os espectadores: "A culpa é desse maldito preconceito!".
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Em 2011, o casal gay formado por Marcos Damigo e Rodrigo Andrade teve sua importância diminuída na trama de "Insensato Coração", tantas foram as reclamações. E olha que os dois eram discretos e sem trejeitos —o que, paradoxalmente, pode ter contribuído para que a audiência os rechaçasse.
Afinal, o brasileiro está acostumado com figuras espalhafatosas, como o Crô (Marcelo Serrado), de "Fina Estampa", ou a Valéria (Rodrigo Sant'anna), do "Zorra Total". Mas o gay discreto e bem-ajustado ainda assusta, e muito.
Aí surgiu o Félix de "Amor à Vida": pintoso como manda o estereótipo, mas também cheio de conflitos internos. Um tipo complexo, que, no entanto, caiu no gosto do povo com a interpretação de Mateus Solano.
O ex-vilão da história de Walcyr Carrasco passou por um longo processo de redenção, e agora é praticamente o mocinho. Com direito a par romântico e tudo: já se sabe que ele vai terminar ao lado de Niko, o dono de restaurante feito por Thiago Fragoso.
O curioso é que dessa vez a torcida é majoritariamente a favor. Velhinhas e machões empedernidos estão se comovendo com o paulatino envolvimento entre os dois personagens (que não estava previsto na sinopse original da novela). Gente que sempre torceu o nariz para os homossexuais, agora, quer que dois deles se unam e sejam felizes para sempre.
Claro que não é uma unanimidade. O ex-deputado Adroaldo Streck escreveu em sua coluna no jornal gaúcho "O Sul" uma longa arenga contra a suposta "homossexualização" do país que a TV estaria promovendo. O jogador Mauricio Souza, da seleção masculina de vôlei, publicou no Facebook um post cheio de erros de português atacando "essa galera das novelas que querem mostrar (...) que ser gay é normal".
Muita gente os apoiou, mas muito mais gente discordou. Ambos foram criticadíssimos, nas redes sociais e na imprensa. Isso já é um sintoma óbvio de que alguma coisa mudou no Brasil.
Enquanto isso, Félix e Niko caminham céleres rumo a um final feliz. Fala-se até que, contagiada pela aprovação popular ao romance dos dois, a emissora estaria cogitando exibir o tão discutido beijo gay masculino.
Se o beijo vier mesmo, ótimo: um tabu a menos na televisão brasileira. Mas o mais importante já foi feito. Em pleno horário nobre, boa parte do público pôde ver que o amor entre duas pessoas do mesmo sexo é exatamente igual a todos os outros tipos de amor.
E na próxima segunda-feira (3 de fevereiro) estreia "Em Família", de Manoel Carlos. Dessa vez o casal gay será interpretado por Giovanna Antonelli e Tainá Müller. Como será que o público vai reagir?
Ainda melhor, aposto.
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