Tony Goes

Leis antigay da Rússia afetam o showbizz, para o bem e para o mal

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As Olimpíadas de Inverno de 2014 e a Copa do Mundo de 2018 não são os únicos grandes eventos programados para acontecer na Rússia. Antes deles, está previsto para novembro deste ano nada menos do que o concurso de Miss Universo.

Poucos certames envolvem tantos gays na produção quanto os concursos de beleza. Sim, as moças desfilam em trajes de banho para atrair um público masculino e heterossexual. Mas nos bastidores há um batalhão de maquiadores, cabeleireiros e estilistas, quase todos mais interessados no próprio sexo.

Às vezes eles também estão no palco. É o caso de Andy Cohen, apresentador do canal pago americano Bravo. Ou melhor, era o caso. Andy estava escalado para ser um dos anfitriões da final do Miss Universo, em Moscou. Mas já avisou que não irá: é assumidamente gay, e não quer prestigiar um país que reprime de forma tão abusiva aqueles que compartilham de sua orientação sexual.

Não foi só Andy que cancelou sua viagem. Esta semana o ator Wentworth Miller também recusou um convite para visitar a Rússia, mais precisamente para o festival de cinema de São Petersburgo. Numa carta que virou notícia no mundo inteiro, ele explicou que sua desistência também se deve à absurda legislação que proíbe a "propaganda gay".


Enquanto isto, políticos russos ameaçam processar, multar e até prender Madonna e Lady Gaga, que fizeram shows no país em 2012. É um pouco tarde demais, mas serve para intimidar qualquer artista que estiver pensando em excursionar pela Rússia.

A batata quente só está aumentando. Qualquer estrela pop que se atrever a participar das cerimônias de abertura ou encerramento dos Jogos de Inverno corre o risco de entrar para uma espécie de "lista negra", o que pode prejudicar sua imagem e sua carreira. Foi aconteceu com o grupo Queen e a cantora Dionne Warwick, que fizeram shows na África do Sul durante o regime do apartheid.

Aliás, o caso sul-africano mostrou como boicotes e sanções podem realmente ser efetivos. Enquanto manteve sua política racista, o país tornou-se um pária internacional. Foi excluído de quase todos os campeonatos esportivos mundiais e das rotas das grandes turnês. A pressão deu certo, e o apartheid acabou no início dos anos 90.

É bastante improvável que algo parecido se passe com a Rússia. O país é simplesmente grande demais e importante demais para ser ignorado. É um dos maiores produtores de petróleo e gás natural, e possui um arsenal atômico que só é menor que o dos Estados Unidos.

No entanto, não deixa de ser saudável que tantos artistas se levantem contra a legislação anti-gay insuflada pelo governo de Vladimir Putin. Copa, Olimpíadas e até o Miss Universo acontecerão nas datas marcadas. Mas sem o brilho que poderiam ter.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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