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Rodrigo Faro abre novo capítulo da história da TV aos domingos

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Sou antigo o suficiente para me lembrar de Silvio Santos na Globo. Do começo dos anos 60 ao fim dos 70 do século passado, ele ocupava as tardes de domingo da emissora. Não era contratado da casa: alugava o espaço, assim como também alugava as noites de quinta-feira na extinta TV Tupi.

Sua atração dominical começava por volta do meio-dia e, no auge, chegava até as 9 horas da noite. Silvio comandava tudo sozinho, e ao vivo. A época era pródiga em programas de auditório, mas nenhum outro apresentador ficava tanto tempo no ar.

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Depois ele conseguiu a concessão para seu próprio canal, a TVS, embrião do que é hoje o SBT. Levou seus programas para lá e, em meados dos anos 80, cedeu parte de seu próprio espaço aos domingo para uma jovem revelação de sua emissora: Gugu Liberato.

Enquanto isto, a Globo tentava preencher o vácuo deixado por Silvio com variedades, filmes e futebol. Não dava certo: o domingo era o único dia da semana em que a rede carioca perdia o primeiro lugar de audiência.

A solução foi fazer um programa nos moldes de Silvio Santos. E a escolha óbvia para comandá-lo era Gugu Liberato.


Aqui cabe um parênteses: esse formato de longo programa de auditório aos finais de semana não é exclusivo do Brasil. Há muitos outros pela América Latina. O mais famoso é "Sábado Gigante", apresentado durante décadas pelo chileno Don Francisco. Mas é um fenômeno regional. No resto do mundo, domingo costuma ser um deserto na TV.

A Globo resistiu, mas acabou se rendendo ao formato. Só que não conseguiu tirar Gugu do SBT. Saiu-se então com um lance inesperado: contratou Fausto Silva, que apresentava o anárquico "Perdidos na Noite" na Band, aos sábados.

Estava armado o confronto que dominaria as tardes de domingo por mais de dez anos. Faustão na Globo versus Gugu no SBT. A disputa era acirradíssima. Numa semana ganhava um no Ibope, na seguinte ganhava o outro. A imprensa se deleitava.

Até que Gugu começou a perder gás. Reportagens falsas minaram sua credibilidade. Enquanto isto, o elenco de estrelas globais ajudava Faustão a se consolidar na liderança.

Gugu foi para a Record, Eliana ocupou parte de seu espaço no SBT, Faustão continuou firme na Globo. Mas dando sinais de cansaço: já sinalizou mais de uma vez que está exausto, talvez pronto para uma dourada aposentadoria.

Este quadro se desestabilizou na semana passada. Gugu encerrou seu contrato com a Record e está estudando ofertas: dizem que andou conversando com a Band.

Enquanto isto, sua antiga emissora deslocou Rodrigo Faro dos sábados para os domingos. A estreia será agora, no dia 16, com um programa pré-gravado que não terá nada de especial. Um tipo de "soft opening", sem grandes pretensões, só para testar as águas.

Mas Faro tem todas as condições de se dar bem. É descolado e está em ascensão no mercado publicitário. A própria Globo já estaria de olho em seu passe, preparando-se para um futuro pós-Faustão.

Por outro lado, com concorrentes fortes em quase todos os canais, mais a expansão da TV a cabo, a consolidação do "video on demand" e, óbvio, a internet, pode ser que ninguém se dê especialmente bem nos domingos à tarde. Os hábitos dos brasileiros estão mudando, e eu estou curioso para ver o que acontece.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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