Tony Goes

Só Cláudia Raia e seu núcleo salvam "Salve Jorge"

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Fátima Bernardes deve estar respirando aliviada. A novela "Salve Jorge" é o novo saco de pancadas dos comentaristas de TV.

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A trama de Glória Perez alcança respeitabilíssimos 30 pontos de audiência, cifra jamais atingida por nenhuma outra emissora em qualquer horário que seja. Mesmo assim, está bem atrás de "Avenida Brasil", cuja média girava em torno dos 36 pontos.

Pior: a repercussão de "Salve Jorge" é quase toda negativa. Os espectadores reclamam do excesso de personagens (entre os fixos, são nada menos que 80) e dos temas repetidos. Amor "proibido" entre pessoas de diferentes classes sociais? Em que ano estamos mesmo?

Tenho cá para mim que a ambientação no Complexo do Alemão também espanta parte do público. Todo mundo adorava ver o Divino, o bairro fictício de "Avenida": um subúrbio feliz, sem pobreza, onde os moradores eram amigos entre si.


Bem diferente do Complexo do Alemão, onde a barra continua pesada mesmo depois da pacificação. Violência, miséria, ações de despejo: acho que não é bem isto o que muita gente quer ver na TV depois do jantar.

Mas nem tudo está perdido em "Salve Jorge". As paisagens turcas - tanto as autênticas como as meticulosamente reproduzidas nos estúdios do Projac - são um colírio para os olhos. O mesmo não pode ser dito sobre os personagens daquele país, que soam ainda mais forçados que os indianos de "Caminho das Índias".

O que "Salve Jorge" traz realmente de novo é a abordagem do tráfico de seres humanos. Um problema grave e real que transcende o mero marketing social, costumeiro nas novelas de Glória Perez. Mocinhas ingênuas Brasil afora devem estar se assustando com este alerta.

É neste núcleo que também estão as atuações mais arrebatadoras de todo o enorme elenco, especialmente entre as vilãs. Totia Meirelles faz uma Wanda simpaticíssima, que abre um enorme sorriso ao guarda rodoviário enquanto dirige uma van abarrotada de bebês.

Vera Fischer também está engraçada (talvez sem querer) como a russa Irina, a traficante trapalhona. O rosto de Vera atingiu aquele patamar em que é impossível deduzir sua idade: qualquer ponto entre os 40 e os 90 anos parece possível. Sua Irina está eternamente sobressaltada, com os olhos meio arregalados entre músculos que mal se mexem.

Mas ninguém está mais soberba do que Cláudia Raia. A chefona do esquema dá à atriz a oportunidade de liberar toda sua canastrice. Lívia é imperiosa, grandiloquente, artificial mesmo quando está dizendo a verdade. Não sei dizer se Cláudia está levando o personagem super a sério, ou se está se divertindo ao fazer uma vilã de filme da Disney. Só sei que eu estou me divertindo.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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