Tony Goes

Marisa Monte, totalmente à vontade em seu novo show

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Lembro muito bem da primeira vez em que vi Marisa Monte. Foi num show do Nouvelle Cuisine, em 1988, no auditório do MASP. A banda recriava "standards" norte-americanos e era meio "cult". Marisa entrou em cena no final do espetáculo, para um dueto com o vocalista Carlos Fernando.

O impacto foi enorme. Quem era aquela moça esguia, de longos cabelos ondulados, cantando uma ária da ópera "Porgy and Bess", de Gershwin, como se fosse a coisa mais fácil do mundo? Voz e figura lindas. Mas ela parecia tensa - algo perfeitamente compreensível para uma garota de apenas 21 anos.

Depois disso revi Marisa Monte muitas vezes. Em seus próprios shows, em números no VMB ou se apresentando ao lado do músico argentino Gustavo Santaolalla. Sempre uma virtuose, mas também algo empertigada.

Ontem essa minha percepção mudou. Marisa está relaxada e totalmente à vontade em seu novo show, "Verdade, uma Ilusão", que estreou quinta passada e fica em cartaz até 15 de julho no HSBC Brasil, em São Paulo (depois sai em turnê pelo Brasil e o mundo). Bonita, sorridente, conversando com a plateia como se estivesse numa roda de amigos.

Crédito: Joel Silva/Folhapress A cantora Marisa Monte na estreia do show "Verdade, uma Ilusão"
A cantora Marisa Monte na estreia do show "Verdade, uma Ilusão"

E olha que o espetáculo é uma superprodução, com projeções, transparências, iluminação sofisticada e muitos músicos no palco. Tudo deslumbrante, mas às vezes acho que Marisa não precisa de nada disto. Alguns dos melhores momentos são quando ela canta de violão em punho, sozinha e sem efeitos especiais.

O repertório é baseado em seu último disco, "O Que Você Quer Saber de Verdade". Na época do lançamento me encantei com suas canções simples, para cantarolar no chuveiro, mas depois me deixei contaminar pelo que li em algumas críticas.

Marisa foi "acusada" de não sair de sua zona de conforto, enquanto que uma veterana como Gal Costa se arrisca na experimentação eletrônica com "Recanto" ou uma novidade como Gaby Amarantos mistura o brega e a vanguarda de maneira divertidíssima.

Voltei a ouvir "O Que Você Quer Saber" nos últimos dias e me reencantei. No show, então, as músicas ficam ainda mais deliciosas, acompanhadas por hits de todas as fases da carreira de Marisa.

E algumas coisas que ela nunca tinha cantado antes, como "ECT" - que é uma parceria sua com Nando Reis e Carlinhos Brown, mas ficou conhecida na gravação de Cássia Eller. Marisa faz um discurso emocionado sobre Cássia, que termina com uma frase de impacto: "saudade não é sentir a falta, é sentir a presença".

Outro ponto alto é "Sono Come Tu Me Vuoi", do repertório da diva italiana Mina. Marisa conta que enviou "Ainda Bem" para esta lenda viva e propôs um dueto. Mas Mina gostou tanto que gravou sozinha a canção, e em português mesmo. Ficou bonito, e um pouco esquisito para os nossos ouvidos.

Mas voltando ao show: não perca. Marisa Monte está transbordando uma felicidade em cena que deve ser reflexo de sua vida pessoal. No esplendor dos 45 anos, ela é senhora de si mesma e tem o público nas mãos.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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