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Tony Goes

"Priscilla" e "Família Addams" comprovam o amadurecimento dos musicais no Brasil

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Aproveitei a visita de um casal de amigos cariocas para assistir, no último final de semana, a dois dos grandes musicais que estão em cartaz em São Paulo. E saí abestalhado com o que vi.

Sei que parece papo de colonizado, mas as montagens brasileiras de "Priscilla, a Rainha do Deserto" e "A Família Addams" são coisa de primeiro mundo. Nem era para menos: ambas são franquias da Broadway. Réplicas quase exatas dos originais estrangeiros.

Mas o que me encantou não foram propriamente os valores de produção, realmente espetaculares, e sim a qualidade dos elencos. Pouco mais de uma década depois que os grandes shows internacionais começaram a ser reproduzidos fielmente no Brasil, já temos atores-cantores-bailarinos que não ficam nada a dever aos melhores do mundo.

Não é mole encarar o palco de um musical. A pessoa tem que atuar, cantar, dançar e esbanjar carisma ao mesmo tempo, geralmente sob um figurino pesado e sobre um chão com dez graus de inclinação, que é para a plateia enxergar melhor.

Vejamos o caso de "Priscilla": a verdadeira estrela da peça são as roupas das drag queens, ainda mais exageradas que as da versão para o cinema. Mesmo assim, debaixo das perucas e da maquiagem, o elenco consegue brilhar.

Meus destaques vão para André Torquato, que já tinha me chamado a atenção em "Gipsy", e a pequenina Simone Gutierrez, que também faz a Ariela da novela "Cheias de Charme".

Isto não quer dizer que "Priscilla" seja perfeita. As músicas são todas clássicos da era das discotecas e a maioria manteve suas letras em inglês. O que acaba por prejudicar o entendimento da ação e até de algumas piadas: muita gente boiou no trocadilho visual com a letra de "MacArthur Park" (aquele trecho do "someone left my cake out in the rain", o bolo que foi deixado na chuva).

Já os personagens de "A Família Addams" cantam apenas em português, em versões do competentérrimo Claudio Botelho. Mas aqui são as próprias canções que não ajudam: nenhuma é assobiável, nenhuma gruda na cabeça.

E isto apesar do musical que se vê em SP ser bastante diferente do que estreou em Nova York (e que já saiu de cartaz por lá, por não ter feito muito sucesso). Muitos números foram cortados, outros incluídos, mas ainda persistem algumas "barrigas" aqui e ali.

Já o elenco está sensacional, com o reforço de duas estrelas da TV. Daniel Boaventura deita e rola como o patriarca Gomez.

Veterano de muitos musicais, ele está totalmente à vontade e tem a plateia nas mãos. Já Marisa Orth revela uma faceta inusitada como sua esposa, a gélida Morticia.

Estas duas superproduções contaram com o apoio de verbas públicas, e é para lá de discutível se de fato o mereciam.

Afinal, são produtos importados, e os ingressos continuam salgadíssimos. Mas cumprem o que prometem: enchem os olhos, fazem rir e dão emprego a muita gente, além de ajudar na formação de atores cada vez mais completos.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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