"House of Lies", "Mad Men" e o estilo HBO: uma segue, a outra não
A HBO é famosa pela qualidade de suas séries. "Família Soprano", "Sex and the City" e "A Sete Palmos" entram fácil na lista das melhores produções dos últimos dez ou quinze anos. Atualmente, "Game of Thrones" e "True Blood" fazem a delícia dos assinantes do canal (e de seus acionistas).
São programas muito diferentes entre si, mas que têm algo em comum: roteiros movimentados, ritmo ágil e cenas ousadas de sexo e/ou violência. Um estilo de fazer TV que ganhou muitos Emmys e atraiu muitos seguidores.
Mas nem todas as séries exibidas pela emissora no Brasil são produções próprias. "The Big C", cuja segunda temporada terminou por aqui há pouco mais de uma semana, é de sua arquirrival nos EUA, o canal Showtime. De lá também vem "House of Lies" cujo primeiríssimo episódio foi ao ar pela HBO brasileira na segunda passada.
A assinatura pode não ser dela, mas a influência da HBO é nítida nesta comédia sarcástica. Estrelada por Don Cheadle, "House of Lies" foca num consultor de gestão amoral e cheio de problemas pessoais. Sua maior rival nos negócios é sua ex-mulher; seu filho de oito anos gosta de se vestir de menina; e ele não tem o menor prurido em engabelar seus clientes bilionários.
A câmera é nervosa, hiper-ativa, e a todo momento a ação literalmente congela para o protagonista quebrar a quarta parede e se dirigir ao espectador. Um recurso manjado em versão moderninha, que funcionou bem na estreia mas pode cansar a curtíssimo prazo. O mesmo pode ser dito das cenas de nudez.
O contraste foi enorme com o programa que passou imediatamente antes: nada menos do que o primeiro capítulo da quinta temporada de "Mad Men". A série mais premiada dos dias de hoje é exibida nos Estados Unidos pelo AMC --um canal "low profile" que, de uns anos para cá, recheou sua grade de títulos badalados como "Breaking Bad" e "The Walking Dead".
"Mad Men" pode até fazer parte da programação da HBO no Brasil, mas foge com galhardia do figurino consagrado pela emissora. A produção é requintada, mas o ritmo nada tem de frenético. Muitas vezes parece que não está acontecendo nada, ou quase nada.
Foi o caso do episódio de estreia. Reencontramos os principais personagens do programa, a quem não víamos há quase um ano e meio. Mas o único acontecimento realmente digno de nota foi a secretária Megan (a lindíssima Jessica Paré) começar a perceber que seu casamento com o patrão Don Draper (Jon Hamm) talvez tenha sido precipitado.
Isto não a impediu de estrelar um dos momentos mais icônicos até agora da TV em 2012. Megan derreteu corações dos dois lados da tela com sua interpretação ultra-sexy de "Zou Bisou Bisou", um antigo sucesso de Sophia Loren que andava completamente esquecido. Só não convenceu o maridão.
Os fãs da série defendem ardorosamente o fogo brando que o criador Matt Wiener impôs a "Mad Men". Afinal, é mais parecido com a vida real do que a montanha-russa de um "Boardwalk Empire", por exemplo.
Mas é outra similaridade com a vida real que me incomoda um pouco no programa. Sou publicitário, e as cenas em que meus colegas da ficção têm suas campanhas recusadas pelos clientes são idênticas às que eu vivo quase todos os dias. Não é para repetir este sofrimento que eu assino a TV paga.
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