Tony Goes

O namoradinho do Brasil e a sobrevida do "BBB"

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Bem que a Marina Gurgel Prado cantou a bola. Essa colega do F5 me alertou logo no primeiro dia do "BBB 12": "E então, já podemos dar o prêmio para o Fael?".

Na hora não dei muita importância. O veterinário sul-mato-grossense me parecia um participante muito sem graça, que logo seria ofuscado por personalidades mais exuberantes.

Além do mais, àquela altura não sabíamos nada dele: Fael não estava entre os 12 "brothers" que tiveram seus perfis divulgados uma semana antes da estreia do programa. Ele foi um dos quatro concorrentes-surpresa, cuja existência Boninho só revelou ao mundo depois da largada.

A profecia de Marina foi pouco a pouco se confirmando. Mesmo com outros galãs dentro da casa, Fael foi se impondo com seu estilo discreto. Até certo ponto, é claro: ele também tem cara de seminarista tarado, que o salva de ser um completo bom-moço.

As redes sociais o apontam como "o mais ético" deste "Big Brother", mas será que ninguém notou como ele também é manipulador? Não houve confessionário em que o sujeito não apelasse: "eu sou umírrrrde, eu vim do interiorrrr, porrr isso eu mereço ganharrrr".

Ora, ora, ora. Ninguém merece ganhar um milhão e meio de reais, nem a Madre Teresa de Calcutá, além do mais de uma maneira tão fácil. Mas Fael conseguiu seduzir o Brasil, ou pelo menos boa parte das brasileiras. Ele tem jeito de cantor sertanejo, meio caipira e meio mauricinho. Uma mistura que muitas acham irresistível.

Também devolveu o "BBB" ao seu padrão habitual, que é premiar o rapaz branco de classe média --o grande protagonista dos sonhos nacionais. Achei que a vitória de Maria Melillo, no ano passado, tivesse quebrado esse paradigma, mas pelo jeito ela foi só um ponto fora da curva.

Fael venceu com 92% dos votos, o placar mais estrondoso de toda a história do programa. Ou será que foi Fabiana quem perdeu? A rejeição à "Mama" também bateu recordes históricos. Ela deve ter levado um baita susto quando viu os números.

No frigir dos ovos, esse "Big Brother" acabou se saindo melhor do que o esperado. Houve um momento, logo no começo, em que parecia que a receita iria desandar de vez: foi a semana do suposto estupro, seguida por dias de marasmo e fuga de anunciantes. Cheguei a pensar que esta seria a última edição do "reality".

Mas aí o jogo esquentou, e por uma razão simplérrima: a divisão dos candidatos entre os quartos "selva" e "praia". Desta vez Boninho não precisou formar equipes de "descolados" ou "marombeiros". Uma separação aleatória foi o suficiente para formar dois times rivais, do mesmo jeito que acontece na vida real.

Mais depurado, o programa fluiu bem em sua reta final. Para o ano que vem, podemos esperar mais do mesmo, tomara que com um elenco um pouquinho melhor escolhido (dessa vez não torci para ninguém).

Vamos encarar a realidade: o "BBB" é um fato da vida e um ritual de início do ano para os brasileiros. Ainda não foi dessa vez que nos livramos dele.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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