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Tony Goes

"Jogos Vorazes" é o "BBB" de um futuro que já começou

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Já pensou que divertido se, durante as festas do "BBB", os "brothers" recebessem mais do que bebida? Uma espingarda para Laisa, um machado para João Carvalho, um tacape para Fael Quem matasse mais concorrentes seria o novo líder da semana, e ainda ganharia um ano de Niely Gold.

Que horror, não é mesmo? Mas esta é mais ou menos a premissa de "Jogos Vorazes": um "reality show" cujos participantes são adolescentes que precisam lutar até a morte. Com o agravante de não estarem lá por livre e espontânea vontade, mas terem sido sorteados à revelia.

O filme estreou neste final de semana passado e arrebentou nas bilheterias. Só nos Estados Unidos foram mais de 150 milhões de dólares em três dias (os números brasileiros só saem amanhã, mas com certeza "Jogos" foi o líder por aqui também). O que só comprova uma coisa: sim, adoramos ver gente se matando. Grande novidade.

Aliás, esta é uma das ironias do livro de Suzanne Collins, a autora da trilogia que agora começa a ser adaptada para as telas. Um dos vilões da saga de Katniss Everdeen, a heroína da série, é o próprio público que assiste fascinado aos tais jogos. Ou seja, nós mesmos.

"Jogos Vorazes" se passa num futuro hipotético, mais ou menos daqui a uns 300 anos, quando grande parte da América do Norte foi destruída por guerras ou catástrofes naturais. O que sobrou agora integra um estado totalitário chamado Panem.

O nome do novo país remete ao "pão e circo" com que o Império Romano apaziguava sua população, e a parte circense é suprida por um torneio ainda mais cruel do que as lutas de gladiadores. Para amedrontar o povo e manter viva a memória da repressão a uma revolta ocorrida 75 anos antes, todos os 12 distritos que compõem Panem enviam anualmente à Capital um casal de jovens escolhidos por sorteio.

Os 24 "felizardos" precisam lutar entre si até que sobre apenas um. Mas não é só a força física que conta: alguns concorrentes tentam cativar o público com sua simpatia, pois isto serve para atrair patrocinadores e aumentar as chances de sobrevivência. Um deles até encena um romance imaginário com uma rival, lançando mão de uma tática consagrada ao longo de muitas edições do "BBB".

O filme de Gary Ross é de tirar o fôlego. O sangue corre com parcimônia e muito da violência é mais sugerida do que mostrada, mas o ritmo não para um segundo. Jennifer Lawrence está sensacional como Katniss, apesar da personagem ser praticamente idêntica à que ela fez em "Inverno na Alma", que lhe rendeu uma indicação ao Oscar: a garota pobre que vive nas montanhas e precisa caçar no mato para alimentar os irmãos menores.

Só não gosto muito das caracterizações ridículas dos habitantes da Capital, com muitas perucas rosas e azuis. São fiéis aos figurinos que a autora descreve nos livros, mas na tela parecem rejeitados de um filme de Tim Burton. A série "Harry Potter" falava da descoberta do potencial que cada criança tem dentro de si. A série "Crepúsculo", da descoberta do sexo. "Jogos Vorazes" junta-se a elas trazendo um ingrediente politico interessante. Porque é obviamente uma alegoria: Panem já começou, é o mundo de hoje. E quem garante que a pancadaria de um UFC não tem nada a ver com um jogo voraz?

Crédito: Divulgação Cena do filme "Jogos Vorazes", que bateu recorde nos EUA

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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