O carnaval visto do sofá
Fui convidado pelo caderno "Cotidiano" da "Folha" para escrever dois textos para a coluna "No Sofá", comentando a cobertura do carnaval pela TV. O primeiro saiu ontem e o segundo sairá na quarta. É a primeira vez que encaro a folia pelo lado profissional.
Na verdade, a missão veio a calhar, pois não saí de São Paulo nesse feriado. Já ia mesmo passar algumas horas em frente à TV vendo os outros pularem e passando vergonha.
Ano passado eu tive a sorte de ir a um camarote na Sapucaí, e em outra vez cheguei a desfilar pela Viradouro. Também já fui a muitos bailes; só os blocos de rua é que não fazem muito meu gênero.
Mas claro que, aboletado no sofá, a perspectiva é outra. A verdade é que nenhuma cobertura, por mais ampla que seja, consegue passar a sensação do que é o carnaval para valer.
A folia é uma experiência avassaladora, em 3D, onde os sentidos são assaltados por todos os lados. Não cabe dentro dos limites da telinha, por maior que seja o aparelho.
Além do mais, todas as emissoras se sentem obrigadas a preencher a transmissão com um avalanche de informações. Parece que nada do que está aparecendo a qualquer momento é suficiente para prender a atenção de quem está em casa.
Assim, não basta mostrar o deslumbante abre-alas da Portela. É preciso interromper a transmissão do desfile para exibir um vídeo onde o carnavalesco da escola explica suas ideias, ou entrevistar um dirigente que também pertence à diretoria do Botafogo. E lá vai o sujeito comentar sobre a boa fase do time, enquanto passistas e alegorias arrebentam na avenida.
Quando não há dados novos com que soterrar o telespectador, inventa-se. Na Rede TV!, Robert Rey mostrou para as câmeras o que seria um terceiro seio. Como é carnaval e tudo é permitido, o Dr. Hollywood levantou o sutiã de uma moça para exibir a "aureóla" e a "mamila" extras (português não é a especialidade do cirurgião). Tudo pegadinha: era só enchimento, inclusive de linguiça.
Mas essa folia paralela criada pela TV também rende momentos que acabam se incorporando ao folcore da festa. Os mais velhos hão de lembrar do strip-tease de Íris Lettieri na extinta TV Manchete, em 1984. Durante dias a fio, a apresentadora tirarava uma peça de roupa, em contagem regressiva para o carnaval.
Claro que não posso deixar de citar a maior pérola de toda a história das transmissões, o lendário "fecha na Prochaska". Estava a atriz Cristina Prochaska, ainda bem novinha, apresentando um baile no Rio de Janeiro. O diretor mandou o cameraman "fechar na Prochaska". O rapaz não teve dúvidas: enquadrou a virilha da foliã que pulava na mesa atrás de Cristina.
"Fecha na Prochaska! Na Prochaska!!", urrava o diretor. E o pobre câmera dando closes cada vez mais próximos, até desistir: "Só se eu entrar dentro dela, seu diretor".
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