O programa não se chama "Mulheres Finas"
"Uma moça de família deve aparecer no jornal três vezes na vida: quando nasce, quando casa e quando morre". O ditado é ultrapassado e ignora solenemente a capacidade profissional do sexo feminino.
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Mas o mais chocante, para os dias de hoje, é que ele vem de um tempo em que a discrição ainda era considerada uma virtude.
As cinco participantes de "Mulheres Ricas", que estreou segunda passada na Band, são tudo menos discretas. Algumas nasceram em clãs endinheirados, outras trabalharam para conseguir fortuna ou simplesmente se casaram com homens ricos. Mas nenhuma está satisfeita com a grana que tem: agora elas também querem ser famosas.
Só o exibicionismo mais raso justifica estas senhoras se exporem de tal maneira na TV, mesmo sabendo que serão invejadas e ridicularizadas por todo o Brasil. Mas ainda bem que elas não têm desconfiômetro, porque "Mulheres Ricas" já desponta como o programa mais "cult" deste verão.
Nem todas rendem igual em frente às câmeras. A ex-sem-terra Débora Rodrigues é a mais pé no chão das cinco, mais preocupada com o filho vagal do que em adquirir modelitos. Lídia Leão Sayeg é levemente assustadora, com sua paixão por armas e duas armas no lugar dos peitos.
E Brunete Fraccaroli parece ter se esquecido de tomar seus remédios: onde já se viu uma mulher daquela idade andando para cima e para baixo com uma Barbie a tiracolo? Ela lembra o padre Antonio Maria, que carrega sempre uma imagem de Nossa Senhora. A Barbie de Brunete é uma Nossa Senhora de Mim Mesma.
As três tiveram seus momentos de brilho/vergonha alheia, mas as verdadeiras protagonistas de "Mulheres Ricas" são Val Marchiori e Narcisa Tamborindeguy. Com seus estilos antagônicos, elas têm tudo para levar a rivalidade entre São Paulo e Rio para um novo patamar. Plumas vão voar.
Val sugere um travesti extremamente bem-sucedido. É caricata a ponto de dispensar sátiras. E está tão empenhada em se firmar como a mulher mais fútil do mundo que acaba perdendo a naturalidade. Tudo nela parece falso ou ensaiado: do cabelo amarelo ao copo de champagne eternamente colado na mão, passando pelos incontáveis "hello" e "adoro" que pontuam seu vocabulário.
E Narcisa é o seu oposto. De longe a mais conhecida das cinco, há anos que ela vem nos brindando com entrevistas lindas, leves e soltas. A musa do "ai, que loucura" passa espontaneidade e uma alegria de viver ligeiramente desesperada, e não parece muito interessada em ostentar riqueza. Foram dela as melhores tiradas do primeiro episódio-- como quando respondeu com um "quem?" ao telefonema de Val, sua nova amiga de infância.
Podemos criticá-las à vontade, mas a verdade é que "Mulheres Ricas" cumpre o que promete. É uma bobagem colossal, uma divertida fogueira das vaidades e uma aula de como não se comportar em sociedade. Só não vale cobrar elegância das moças: afinal de contas, o programa não se chama "Mulheres Finas".
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