Thiago Stivaletti

Com o fim de 'Velho Chico', relembre cinco novelas que se arrastaram e mataram o público de tédio

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Com "Velho Chico" (Globo) na reta final, me deu vontade de relembrar outras novelas de barriga imensa, essas em que a história de repente para, e você não sabe quantos capítulos passaram sem que algo de relevante acontecesse. Vamos a elas:

"PANTANAL" (1990)
Começamos relembrando a obra-prima de Benedito Ruy Barbosa, autor de "Velho Chico". Menina dos olhos da extinta Rede Manchete, "Pantanal" começou com uma primeira fase poderosa, com duas grandes personagens: Maria (Cássia Kiss) e sua filha, Juma Marruá (Cristiana Oliveira). E uma história de amor interessante entre a selvagem Juma e Jove (Marcos Winter), o moço da cidade, filho do coronel Leôncio, que vai pela primeira vez ao Pantanal.

Sim, no meio da história havia lindos "travellings" dos rios e dos tuiuius voando ao som da linda trilha incidental de Marcus Viana. Com o sucesso, porém, uma novela que devia ter 180 capítulos acabou tendo 216. A história foi ficando ralinha ralinha, e os tuiuius passaram a dominar uns 20 minutos por capítulo. Parecia descanso de tela de computador.

"PÁGINAS DA VIDA" (2006)
OK, as novelas de Manoel Carlos já são aquela imensa barriga passada à beira do lindo calçadão do Leblon. Em geral, apenas um evento define suas tramas inteiras. Em "Por Amor", Helena troca de bebê com a filha; em "Viver a Vida", a pobre Luciana sobre um acidente e passa a viver em cadeira de rodas. Em "Páginas da Vida", sua pior novela, até o evento central carecia de conflito: a pobre Nanda morre no parto e uma de suas filhas, Clarinha, nasce com Síndrome de Down e, rejeitada, é adotada pela médica Helena (Regina Duarte, quase sempre).

Ah sim, e havia os divertidos e emocionantes almoços e jantares (só que não) na casa da imensa família de Tarcísio Meira e Glória Menezes. Era mais divertido acompanhar o "Casseta & Planeta" fazendo a paródia Plásticas da Vida, com toda a turma do botox, que além de Regina incluía Zé Mayer e Natália do Valle.

"EXPLODE CORAÇÃO" (1995)
A novela mais chata da Glória Perez tinha tudo pra ser agitadona: uma comunidade de ciganos dançando sem parar, a inovadora internet que começava a dar as caras e um triângulo amoroso com Edson Celulari, a bela Tereza Seiblitz (a cigana Dara) e um belo e promissor jovem ator, Ricardo Macchi (cigano Igor),

Mas Macchi provou ser a pior aposta da Globo de todos os tempos para um ator, o triângulo amoroso era insuportável e ainda tinha uma causa a princípio nobre, mas dura de aguentar todo santo dia em horário nobre: as crianças desaparecidas, com a talentosa (só que não) Isadora Ribeiro à frente. (OK, pelo menos diz-se que mais de 50 crianças foram encontradas graças à novela, o que justifica o nosso tédio). O suplício podia ser mais curto, mas não foi. Durou 185 longos capítulos antes que uma novela mais curta, "O Fim do Mundo", viesse trazer um respiro.

Ricardo Marchi e Tereza Seiblitz em cena de 'Explode Coração'
Ricardo Macchi e Tereza Seiblitz em 'Explode Coração' - Reprodução


"PÁTRIA MINHA" (1994)
Depois do sucesso de Vale Tudo, Gilberto Braga pretendia fazer outra grande novela política, desta vez sobre os dilemas da classe média entre ficar ou deixar o Brasil, tendo como nó da história um conflito entre a estudante idealista Alice (Cláudia Abreu) e um empresário inescrupuloso e racista, Raul Pellegrini (Tarcísio Meira).

Mas dois dos atores principais do folhetim, Vera Fischer e Felipe Camargo, casados na vida real, começaram a ter altas brigas durante a novela, se separaram, não podiam mais se ver nem pintados de ouro e começaram a atrasar e atrapalhar as gravações. A solução de Gilberto foi matar os personagens deles, Lídia Laport e Inácio. Inácio nem era tão importante, mas Lídia era fundamental para a trama, dando um grande golpe do baú pra cima do personagem de Tarcísio Meira. A coisa toda deu uma desandada. Verdade seja dita: a culpa não foi só de Vera e Felipe. Muitos personagens importantes não tinham carisma, como os de Renata Sorrah, José Mayer e Eva Wilma.

"MANDALA" (1987)
A novela mais ousada de Dias Gomes, autor de "Roque Santeiro", transpunha o mito de Édipo e Jocasta para o Brasil dos anos 60. Giulia Gam fazia sua estreia na Globo de lentes azuis como a linda Jocasta na primeira fase, passando o bastão para Vera Fischer, que se apaixonava pelo filho Édipo (Felipe Camargo) sem saber quem ele era.

No papel era bonito, mas para seis capítulos por semana a coisa ficou meio massacrante. Nas últimas semanas, lembro que tudo se resumia às palhaçadas do bicheiro mal-educado Tony Carrado (Nuno Leal Maia), apaixonado por Jocasta, e seu bordão "Minha deusa!" acompanhado da lendária música de Rosana "O Amor e o Poder" e cenas de ritual sem fim do místico Argemiro (Carlos Augusto Strazzer) à base de velas, terços e (claro) mandalas.

mandala
Felipe Camargo e Vera Fischer na novela 'Mandala', de 1987 - Reprodução




Thiago Stivaletti

Thiago Stivaletti é jornalista e crítico de cinema, TV e streaming. Começou a carreira como repórter na Folha de S. Paulo e foi colunista do portal UOL. Como roteirista, escreveu para o Vídeo Show (Globo) e o TVZ (Multishow).

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