Thiago Stivaletti

A angústia de todos nós: como dar conta de tantas séries?

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É estranha a vida de um noveleiro que tenta se habituar ao fantástico mundo das séries. Sempre me sinto atrasado em relação ao mundo. Outro dia, um meme no Facebook resumiu minha situação: "Os amigo tudo aí, indo pro segundo filho, e eu com um monte de série atrasada". É como me sinto.

Outro dia, conversando com minha amiga Claudia Croitor, dona de ótimo blog de séries no "G1", ela puxou minha orelha: "Como assim você só vê uma série de cada vez?". Pois é. Nunca tinha reparado, mas descobri que sim. Ainda mais com esse método Netflix de soltar todos os episódios de uma temporada juntos, eu me sentia obrigado a ser fiel até o final.

Foi então que comecei a me soltar. Vi "Narcos", "Transparent", "Grace & Frankie" e "Bloodline" até o final —e uma maravilhosa que recomendo a todo mundo, "Animal Kingdom", do TNT americano, sobre uma família de criminosos chefiada pela mãe, a mais bandida de todos.

Mas acabei largando no meio "Demolidor", "Jessica Jones" e "Mr. Robot". Largo com a promessa de voltar. Difícil cumprir —é tanta série nova que fica difícil voltar para as abandonadas.

De modo geral, fico longe do 'buzz' enlouquecido. Todo mundo engoliu voando os oito episódios de "Stranger Things", mil matérias e comentários nas redes sociais. Eu vi metade, fui viajar, voltei e demorei longos dias para retornar tranquilamente a ela. (Aliás: um ótimo roteiro, uma bela sessão nostalgia dos anos 1980... Mas como a Winona Ryder está péssima, Senhor. Espero que desenferruje essa atuação para a segunda temporada).

Tendo a concordar com a opinião que um analista deu outro dia: esse método da Netflix faz mal para fruição das séries. Em vez de comentar as tramas, os personagens ou a direção, a maioria dos papos na roda de amigos ou no escritório gira em torno do "Quantos episódios você já viu?".

Já descobri que as séries das quais faço maratona têm dificuldade de ficar salvas no meu HD mental. Engoli "Narcos" em um fim de semana; não me peça para relembrar a história —o máximo que me vem a memória é o Wagner Moura falando "o plata, o plomo" ("ou dinheiro, ou chumbo").

E (claro), no meio disso tudo ainda tenho que continuar vendo as novelas, e as séries —e os telejornais, que o Brasil continua pegando fogo. O meme tem razão: nem pensar em ter filhos, é muita coisa para ver.


Explode Pernambuco

É um prazer imenso ver que a originalidade do cinema pernambucano finalmente chegou à Globo. Na semana passada, em "Justiça", fiquei reparando como as cenas no bordel de Kellen (Leandra Leal) estão sendo inspiradas no bordel do filme "Baixio das Bestas" (2006), de Cláudio Assis —não por acaso, a série conta com o mesmo diretor de fotografia do filme, o grande Walter Carvalho.

Até agora, é interessante notar que todas as histórias têm se cruzado bastante e de forma bem hábil, com personagens como os de Leandra, Vladimir Brichta e Antônio Calloni fazendo as ligações.

Apenas a história da vingança de Elisa (Débora Bloch) contra Vicente (Jesuíta Barbosa) parece mais desconectada das outras. Tudo bem: ao mesmo tempo, é aquela que se segue com o maior interesse. (E Débora é uma atriz tão fantástica que dominou de jeito o sotaque recifense a gente nem diz que não nasceu pernambucana).


Thiago Stivaletti

Thiago Stivaletti é jornalista, crítico de cinema e noveleiro alucinado. Trabalhou no "TV Folha", o extinto caderno de TV da Folha, e na página de Televisão do UOL. Viciou-se em novela aos sete anos de idade, quando sua mãe professora ia trabalhar à noite e o deixava na frente da TV assistindo a uma das melhores novelas de todos os tempos, "Roque Santeiro". Desde então, não parou mais. Mesmo quando não acompanha diariamente uma novela, sabe por osmose todo o elenco e tudo o que está se passando.

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