Thiago Stivaletti

Por que a Globo não encurtou a novela das oito durante a Olimpíada?

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Primeiro, deixe-me explicar: sou noveleiro desde que nasci, nunca liguei pra futebol e outros esportes. Aos quatro anos, meus pais fizeram uma megafesta de aniversário para mim num buffet com o tema: Santos Futebol Clube. Não podia ter ligado menos, e preferia que tivesse sido do tio Patinhas. Enfim, troco qualquer final de Libertadores da América por um capítulo bobo de novela das seis. Sou assim, e muito tarde para mudar aos 37 anos.

Ainda assim, curto a Olimpíada. Fico enjoado com essa dose cavalar de vôlei de quadra e vôlei de praia, que a gente não vê o ano todo e de repente tá lá, todo dia e toda hora na sua TV durante duas semanas. Mas aprecio o espírito olímpico e morar em Copacabana nestas semanas é ver uma cidade inteira virar de cabeça pra baixo com tanto gringo. E, como todo mundo nessa época, deixo a TV ligada pra ir pegando pedaços de provas disputadas.

Com tanto interesse por um evento extraordinário que só acontece a cada quatro anos, por que a Globo só entra com transmissão depois das 22h? A reportagem da Folha esclareceu que quem manda nos horários dos jogos não é ela, mas a americana NBC, que já gastou mais de US$ 12 bilhões para garantir os direitos de exibição dos Jogos até 2032. Mas nada justifica continuar passando "Velho Chico" normalmente nestas duas semanas. Vamos falar a verdade: nada acontece na novela há mais de um mês tá bom, o Santo (Domingos Montagner) desapareceu, a Camila Pitanga tá desesperada, e a gente já entendeu que ele vai aparecer vivo e lindo para um belo final feliz.

Seria pedir demais que, durante duas rápidas semanas, quando o maior evento esportivo do mundo está acontecendo pela primeira e única vez em terras brasileiras, o capítulo da novela das oito tivesse uns 20 minutos em vez de uma hora? Será que público que ama essa novela (não conheço, não vi, só ouço falar) iriam reclamar tanto? Noveleiros também curtem os jogos de vôlei, as corridas do Usain Bolt e da Simone Biles e o salto milagroso do Thiago Braz. Será que a audiência cairia muito com a seleção brasileira de qualquer modalidade em campo no lugar do entediante Coronel Saruê? Não sei.

Enfim: novela ainda é legal para alguns fiéis, mas é um formato antigo, com mais de 60 anos de estrada, cada vez mais superado por novas formas e plataformas. A Globo bem que podia deixar de tratá-la sempre como uma grande instituição nacional pelo menos em momentos únicos como esse. Mas velhos hábitos demoram a morrer principalmente nas grandes corporações.

Thiago Stivaletti

Thiago Stivaletti é jornalista e crítico de cinema, TV e streaming. Começou a carreira como repórter na Folha de S. Paulo e foi colunista do portal UOL. Como roteirista, escreveu para o Vídeo Show (Globo) e o TVZ (Multishow).

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