Globo abusa da boa-fé do público em 'Sol Nascente', em que pai e filha não são japoneses de verdade
Quando a Globo quer abusar da boa-fé do seu público, ninguém segura. Às vezes penso que os noveleiros deviam ir todos para a porta do Projac empunhando cartazes de "O povo não é bobo, abaixo a Rede Globo!".
Nesta segunda (29) estreou a nova novela das seis, "Sol Nascente". A história gira em torno de duas famílias, uma italiana e outra japonesa, cujos filhos foram melhores amigos na infância, e na idade adulta se descobrem apaixonados um pelo outro. Até aí tudo bem. Comunidade expressiva no país, os japoneses bem que andavam merecendo uma novela para eles.
Aí começam os problemas:
O patriarca da família japonesa, Kazuo Tanaka, é vivido por Luís Melo, que, apesar dos leves olhos puxados, não é japonês. Nesta segunda (29), em entrevista à Folha, o autor Walther Negrão diz que não encontrou nenhum ator oriental com a capacidade e o peso de Melo para o papel. Aí entramos naquele círculo vicioso do ovo e da galinha: enquanto não se der bons espaços para os atores japoneses, nunca vai haver mesmo um ator do peso dos veteranos da Globo para um personagem. Os atores japoneses têm mais é que reclamar mesmo.
A mocinha da novela, Alice, filha da família japonesa, não é a Daniele Suzuki, mas a GIOVANNA ANTONELLI, de família italiana, com dois N e dois L. Claro, a sinopse explica o absurdo: Alice é adotada. Mas por quê? Para quê? Não podemos ter uma mocinha japonesa? A Globo tem certeza de que o público não iria embarcar no romance? É o mesmo absurdo de Carolina Dieckmann, loira e de olhos claros, vivendo a jovem retirante nordestina de "Senhora do Destino". Ou do loirão Cláudio Heinrich fazendo o índio de "Uga Uga".
Diga-se a favor de "Sol Nascente "que, tirando-se os protagonistas, haverá uma pequena cota de atores nipônicos na história (Paulo Chun, Carol Nakamura, Miwa Yanagizawa). E a cota dos veteranos está garantida por Francisco Cuoco, Aracy Balabanian e Laura Cardoso.
E para os saudosos de "Quatro por Quatro", a volta de Babalu e Raí, Letícia Spiller e Marcello Novaes. Separados há uns bons anos na vida real, eles farão o caminho contrário na novela, se conhecendo e se apaixonando depois dos 40.
E atenção: "Sol Nascente" marca a volta da diva loura Silvia Bandeira após quase 20 anos sem um grande papel na Globo. Silvia reinou na minha infância como uma das mulheres mais lindas da emissora, em novelas como "Roda de Fogo" e "Um Sonho a Mais". Aos 64, continua com uma bela aura de Brigitte Bardot aliás, melhor do que a estrela francesa.
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