Thiago Stivaletti

Público noveleiro é um eterno insatisfeito

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Nos últimos dias, cheguei à conclusão que o noveleiro, assim como o ser humano em geral, é um eterno insatisfeito. Uma das grandes críticas a “A Regra do Jogo” era que a novela era acelerada demais, com reviravoltas todo dia. Quem perdia dois capítulos já não entendia mais nada. Romero (Alexandre Nero) era um dia mocinho, no outro dia vilão, no terceiro ambíguo, no quarto mocinho de novo. Era preciso botar um freio na coisa.

Aí entra “Velho Chico”, com uma primeira fase esbanjando visual e lindas paisagens durante um mês. Entra a segunda fase, não passa nem um mês e o público tem reclamado que o grande casal da trama, Maria Tereza (Camila Pitanga) e Santo (Domingos Montagner) ainda não se encontrou. Pô, mas não era para desacelerar, entrar no ritmo tranquilo das águas do São Francisco?

Até agora, os dois só se viram de longe, cada um deles uma pálida silhueta do outro, em margens opostas do Rio —um recurso poético que merece respeito. ​A primeira fase volta o tempo todo em lindos flashbacks — na última segunda-feira (2), o Santo de hoje (Domingos) se debruçou numa árvore e teve uma longa lembrança do casal jovem, sempre ao som da monumental “Mortal Loucura”, poema de Gregório de Matos na voz de Maria Bethânia.

Ou seja, os autores (que ninguém sabe mais se é o próprio Benedito, que escreve pouco, ou a filha Edmara, que teria saído da novela, ou o neto Bruno) estão cozinhando o galo. Mas deixa cozinhar. Tenho certeza de que o casal vai dar bela liga. “Velho Chico” é para se contemplar e relaxar os nervos, igualzinho eram “Pantanal” e “Renascer”. Novela não é série da Netflix, e o rio São Francisco não serve para bingewatching— esse hábito de engolir uma temporada inteira para chegar logo no final.

Se o problema da novela é falta de ação, o mesmo não se pode falar das atuações, que parecem ganhar corpo nas cenas contemplativas. Duas presenças estão dando aquele ar de novidade que toda novela precisa: o belo Gabriel Leone como Miguel, o filho de Tereza que ainda não sabe ser de Santo; e Lee Thaylor, grande ator do Antunes Filho, como Martim, o irmão sumido de Tereza, que acaba de entrar.

O erro mesmo é o pobre coronel Afrânio de Antônio Fagundes, uma composição exagerada, feita para ser engraçada, mas muito deslocada nessa novela lírica. Como novela também é correção de rota, Fagundes devia pensar em ir mudando aos poucos a atuação e até o visual “over” do coronel.

O canto doido da cidade

Não tem nada mais deprimente do que ficar vendo essas competições musicais domingo à tarde. Mas difícil não assistir ao “Superstar”. Daniela Mercury é uma bomba-relógio. Primeiro apertou um botão errado e quase desclassificou uma banda que na verdade ela tinha adorado. Agora, deu para interromper os colegas quando falam.

No último domingo, Paulo Ricardo foi comentar a performance de uma banda de rock baiana e comentou que “o rock da Bahia parece que sempre vem como uma vingança contra o axé”. Daniela se enfezou na hora, levantou e começou a dançar na cara dele: “Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante!”, do conterrâneo Raul Seixas. Paulo não disfarçou, e olhou como se fosse esganar a mulher. Aguardemos as brigas dos próximos capítulos.

Thiago Stivaletti

Thiago Stivaletti é jornalista e crítico de cinema, TV e streaming. Começou a carreira como repórter na Folha de S. Paulo e foi colunista do portal UOL. Como roteirista, escreveu para o Vídeo Show (Globo) e o TVZ (Multishow).

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