'Meu Bem, Meu Mal', uma novela cafona pra quem quer melão
Aos 12 anos, eu ainda não tinha noção do que era bom ou ruim, de bom ou mau gosto. Mas de alguma forma eu já entendia o que era uma novela ruim e cafona. Tive essa certeza assim que estreou “Meu Bem, Meu Mal” (1990/91), que além de tudo vinha tirar do ar uma das minhas preferidas, “Rainha da Sucata”.
O canal Viva volta a reprisar hoje “Meu Bem, Meu Mal” —de novo em substituição uma novela maravilhosa, “Cambalacho”. Uma novela que bem podia ser mexicana, com a trama em torno da poderosa família Venturini, um filho bastardo que ameaça tomar o poder na família (o Ricardo Miranda de José Mayer) e o romance secreto deste com a cunhada viúva (a Isadora de Silvia Pfeiffer em sua estreia na Globo —uma atuação que só não foi mais criticada do que o cigano Igor em “Explode Coração”).
O autor Cassiano Gabus Mendes vinha de uma trinca sensacional de novelas cômicas no horário das sete —“Ti Ti Ti”, “Brega & Chique” e “Que Rei Sou Eu?”. Não dava pra acreditar que viesse com uma novela tão fraca e fora do seu registro. Antes de morrer, Cassiano ainda voltou às sete com sua pior novela cômica, “O Mapa da Mina”.
Uma coisa podia salvar “Meu Bem, Meu Mal”: seria a música-tema de abertura na versão maravilhosa de Gal Costa. Mas nem esse favor a Globo fez —a abertura vinha com uma versão tão cafona quanto a própria novela de um tal Marcos André.
Verdade seja dita: “Meu Bem Meu Mal” entrou para a história como a novela do “Eu quero melão!”, primeira frase que o poderoso Dom Lázaro Venturini (Lima Duarte) fala ao se recuperar de um derrame, assustando a enfermeira Elza (Zilda Cardoso, a eterna Catifunda baforando seu charuto na "Praça É Nossa" e na "Escolinha do Professor Raimundo").
A única coisa que divertia em “Meu Bem Meu Mal” era ver o mordomo Porfírio (Guilherme Karan) babando na divina Magda (Vera Zimmerman, no auge da beleza). Era de longe o melhor texto da novela, e dá saudade de um ator cômico tão bom quanto Karan.
Não dá nem pra dizer que o saldo foi positivo do lado do elenco. Veteranos como Yoná Magalhães, Jorge Dória e o próprio Lima Duarte estavam todos em papéis esquecíveis. Além da fraca Silvia Pfeiffer, a novela ainda fazia a estreia de Mylla Christie, outro grande talento só que não, hoje na Record. E foi a última novela da grande Lídia Brondi, depois de grandes papéis em “Roque Santeiro”, “Vale Tudo” e “Tieta” —Lídia decidiu largar a carreira de atriz para se tornar psicóloga. Salvou-se a estreia do galã Fábio Assunção, que depois só foi crescendo na emissora.
Só desgraça
Os primeiros capítulos de “Velho Chico” continuam com aquela direção espetacular, imagens deslumbrantes etc. etc. Mas um diagnóstico do que pode levar a novela a perder a audiência veio dá avó noveleira da minha amiga Luiza: “Essa novela tá muito pesada! É só desgraça!”.
De fato: “Velho Chico” não tem um núcleo cômico definido, daqueles que fazem o povo rir especialmente em momentos de crise aguda como este. Até aí, a turma de Moisés também não é expert nas risadas lá na concorrente. Vamos ver quem se dá melhor quando “Os Dez Mandamentos” estrear em abril sua nova temporada.
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