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Descrição de chapéu carros

'Ainda Estou Aqui' mostra uma frota valiosa de carros antigos, saiba detalhes

Kombi, Fusca, Opel Kadett, Opala, Karmann-Ghia: Veículos de colecionadores passaram por processo para trazer marcas de uso, como sujeira na carroceria

Cena do filme 'Ainda Estou Aqui' mostra partes de um Volkswagen TL verde e do Opel Kadett vermelho idêntico ao usado pela família do ex-deputado Rubens Paiva, interpretado por Selton Mello; ao fundo, há um jipe Rural Willys com pintura bicolor

Cena do filme 'Ainda Estou Aqui' mostra partes de um Volkswagen TL verde e do Opel Kadett vermelho idêntico ao usado pela família do ex-deputado Rubens Paiva, interpretado por Selton Mello; ao fundo, há um jipe Rural Willys com pintura bicolor Reprodução

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São Paulo

A orla do Leblon, no Rio, voltou no tempo em julho de 2023. Fuscas, Opalas e outros carros com mais de 50 anos percorreram a avenida Delfim Moreira durante as gravações de "Ainda Estou Aqui". O longa dirigido por Walter Salles é protagonizado por Fernanda Torres. Sua atuação rendeu o Globo de Ouro de melhor atriz em drama.

"Tudo foi feito de forma muito bem organizada, e muitos que por ali passavam ficavam admirados e com seus celulares na mão", diz o fotógrafo André Vasconcelos, que registrou a cena em foto e vídeo. "Disseram que Selton Mello e Fernanda Torres estavam ali, na areia, próximos ao mar."

Os carros também foram protagonistas e coadjuvantes do filme baseado no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva. É a história de sua mãe, Eunice, após o sequestro e assassinato de seu pai, o ex-deputado Rubens Paiva, durante a ditadura militar.

A produção de "Ainda Estou Aqui" recorreu a quatro empresas especializadas na locação de veículos para cenas, que entraram em contato com colecionadores. Restaurados e impecáveis, os automóveis precisavam passar por uma maquiagem antes de entrar em cena.

"Os carros sempre chegavam em reboque e muito bem conservados, todos limpinhos, e Walter,tinha o cuidado de respeitar e reproduzir fielmente como era na época", diz Lili Nogueira, produtora delegada do filme.

"Os contra-regras tinham borrifadores. Todos os dias, quando os automóveis chegavam, eles passavam por um processo, digamos, para sujá-los, para dar uma vivência de carros que dormiam na rua, que estavam em uso."

Lili conta ainda que uma pessoa da equipe rodava com os veículos para gravar os sons que passavam para o interior. Walter Salles ouvia e, a partir daí, sugeria ajustes e revisão mecânica. O diretor do longa já participou de provas de automobilismo e é fã do esporte a motor.

Sobre a pátina dos automóveis em cena, Salles revela o conselho dado a ele pelo cineasta alemão Win Wenders: "Vai fazer um filme de época? Suje os carros".

Foram 399 diárias de veículos. Com 65 locações, o Fusca foi o modelo mais comum no set de filmagem, o que reflete a realidade da época. Esse Volkswagen, então produzido em São Bernardo do Campo (ABC), liderava o mercado com folga. Em 1971, ano da prisão e morte do ex-deputado Rubens Paiva, foram vendidas 175,5 mil unidades do modelo.

Ao todo, foram 412 mil carros de passeio e 55 mil comerciais leves vendidos no Brasil naquele ano, segundo os dados da Anfavea (associação das montadoras). O número inclui modelos nacionais e estrangeiros, já que a proibição aos importados só passou a vigorar em 1976.

Foi em um Fusca que Eunice, personagem vivida por Fernanda Torres, seguiu para a sede do DOI-Codi. As cenas no órgão de repressão da ditadura foram gravadas no Instituto Municipal Nise da Silveira, no Engenho de Dentro (zona norte do Rio).

O Opel Kadett vermelho usado pela família de Rubens Paiva foi produzido na Alemanha. Lili Nogueira conta que o automóvel usado no filme era originalmente amarelo claro, mas foi pintado de vermelho para se manter fiel à história. O proprietário não se opôs à mudança, segundo a produtora delegada.

Opel Kadett B versão cupê de frente com mulher ao volante; esta geração foi produzida pela montadora entre 1965 e 1970
Opel Kadett B versão cupê, geração que foi produzida pela montadora entre 1965 e 1973 - Divulgação

Além da nova cor, o veículo passou por uma extensa revisão mecânica e teve as molas dos bancos trocadas para que o "nhéc-nhéc" não interferisse na captação do áudio.

O Opel alemão foi vendido por diferentes empresas no Rio. De acordo com anúncios publicados em 1968, o automóvel era negociado na Importadora Tijuca (zona norte) com entrada de 20% e o restante parcelado em 24 meses.

A concessionária Iamsa ("seu revendedor Chevrolet de confiança", segundo a propaganda) exibia o carro na loja da rua São Clemente, em Botafogo (zona sul do Rio). O local foi transformado em um condomínio residencial e comercial nos anos 1980.

Trata-se de um cupê duas portas da geração B do Kadett, que foi produzida entre 1965 e 1973. E, sim, é um antepassado do Chevrolet Kadett vendido e produzido no Brasil de 1989 a 1998. Na época, a General Motors era dona da Opel, e diversos modelos produzidos no Brasil tiveram origem nesse braço alemão da montadora.

Um deles é o Chevrolet Opala, que nasceu na Europa como Opel Rekord. Em "Ainda Estou Aqui", um modelo na cor verde antigo aparece em uma das cenas que retratam o ambiente de repressão da época.

Tons vibrantes com nomes exóticos eram comuns nos carros daqueles tempos. No filme, há Karmann-Ghia TC laranja outono, Ford Corcel turquesa royal, Variant verde amazonas e Kombi amarelo safari.

Um conhecedor de carros antigos pode reparar que há raras concessões históricas nas cenas, com alguns carros pintados de cores que só entraram no catálogo das marcas após 1971.

Tanto pela raridade como pelo nível de conservação ou restauro, os modelos usados no filme tem alto valor de mercado. Um Opel Kadett igual ao da família Rubens Paiva foi anunciado recentemente por R$ 170 mil em um site de classificados.

Um Opala 1970 original e em perfeito estado, por exemplo, é encontrado por valores entre R$ 100 mil e R$ 200 mil.

Já a tabela de preços dos Fuscas é uma montanha-russa. Considerando apenas modelos feitos entre o fim dos anos 1960 e o início da década seguinte, os valores para opções bem preservadas podem ir de R$ 30 mil a R$ 150 mil, de acordo com anúncios

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