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Descrição de chapéu The New York Times Itália

'Attenzione, pickpocket': Quem é a mulher que alerta turistas para ação de batedores de carteira

Italiana de 57 anos que viralizou nas redes diz que já apanhou de ladrões, mas não vai parar

Monica Poli, ao centro, observa os transeuntes em Veneza - Matteo de Mayda/The New York Times
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Madison Malone Kircher
The New York Times

Você não deve conhecer o rosto de Monica Poli, mas é possível que reconheça sua voz profunda, vinda do seu telefone quando você está vendo vídeos no TikTok tarde da noite: "Attenzione, borseggiatrici! Attenzione, pickpocket!".

Poli, 57 anos, vive em Veneza e ganhou fama nas redes sociais por patrulhar as ruas de sua cidade, alertando turistas para a presença de batedores de carteira. Ela faz parte de um grupo chamado Cittadini Non Distratti (cidadãos não distraídos), cujos integrantes percorrem a cidade gritando com pessoas que acreditam ser ladrões tentando furtar carteiras, passaportes e outros objetos dos bolsos de transeuntes.

Às vezes, Poli e seus colegas guardas amadores denunciam esses suspeitos batedores de carteira à polícia. Em 2019, a The Economist divulgou que o grupo foi responsável por um terço das prisões de batedores de carteira feitas em Veneza.

O grupo civil é ativo há décadas, mas apenas recentemente criou contas no TikTok e Instagram, onde centenas de milhares de pessoas agora o seguem, graças em grande medida à voz inconfundível de Poli. Seus gritos de "Attenzione, borseggiatrici! Attenzione, pickpocket!" já viraram meme. Sua voz já chegou a ser remixada para figurar em uma faixa de dance music.

Em um vídeo típico, Poli filma uma área da cidade cheia de pessoas, como a estação ferroviária, por exemplo. E então começa a gritar. Em alguns dos vídeos os suspeitos batedores de carteiras são vistos fugindo para não ser flagrados pela câmera dela. Outros que aparentemente foram flagrados roubando escondem o rosto atrás de bolsas ou chapéus.

Se você usar fones de ouvido quando assistir a esses vídeos, fará bem em abaixar o volume. Afinal, Poli precisa gritar alto o suficiente para chamar a atenção não apenas dos supostos malfeitores, mas também dos turistas.

Entrevistada recentemente, ela, que sempre residiu em Veneza, falou de sua fama repentina na internet e por que ainda percorre as ruas da cidade, mesmo depois de tantos anos. A conversa foi editada e resumida.

Há quanto tempo você vem fazendo isso?
Somos um grupo de cerca de 50 pessoas. A primeira vez que pegamos um batedor de carteiras foi em Veneza, uns 30 anos atrás. Acho que fomos o primeiro grupo desse tipo na Itália. Somos o mais antigo.

Quer dizer que há outro grupos que combatem os batedores de carteira?
Sim, em Milão. Acho que há um em Roma. Na Espanha, em Barcelona.

Por que vocês foram para as redes sociais?
Abrimos contas no TikTok e Instagram para avisar às pessoas do mundo que quando você vem para Veneza, é bom tomar cuidado.

Com que frequência você patrulha as ruas?
Depende. Às vezes o dia todo depois do trabalho, porque eu trabalho de manhã. Faço faxina em escritórios. Depois disso, passo meu tempo protegendo os turistas. Podem ser três, quatro, cinco, seis horas.

O que você procura?
Eles ficam parados na estação. Fico atenta para o jeito como olham as pessoas, como olham as bolsas. Tenho um sexto sentido.

Você se preocupa com a possibilidade de estar apontando para uma pessoa que não é batedora de carteiras?
Não. Quando vejo um batedor de carteira, eu percebo na mesma hora. É estranho dizer isso. Tenho alguma coisa dentro de mim. Reconheço um batedor de carteiras imediatamente.

Hoje de manhã eu estava no ônibus, indo para Veneza. Olhando do ônibus, vi dois homens e uma mulher na rua. Eu nunca os vira antes. Desci do ônibus e os peguei. Olhei para a mulher e ela estava com uma bolsa aberta. Havia dois policiais ali e eu falei: "Pare essas pessoas!" Eram batedores de carteiras. Em um minuto eles tinham roubado as carteiras de três famílias.

Alguma vez a polícia lhe pediu para parar?
Não, nunca.

Como os ladrões reagem? Eles ficam violentos?
Houve uma vez, uns cinco anos atrás. Quatro garotas brigaram comigo, e pessoas pararam para assistir. Eu estava sozinha. As pessoas pararam para assistir, mas não me ajudaram. Foi horrível. Tive que usar protetor de pescoço por 20 dias.

Isso te deu vontade de parar?
Não faz mal. Vou continuar a fazer este trabalho.

Os batedores de carteira te reconhecem? Eles fogem quando percebem que você está por perto?
Eles me reconhecem. Os homens fazem um gesto obsceno para mim com o dedo médio. Tiram fotos de mim. As meninas fogem. Elas acham que talvez eu seja doida, sabe?

Você agora está famosa no TikTok.
Foi tão estranho para mim. Minha voz está em toda parte! Fico contente porque a mensagem chegou onde queríamos. Queríamos que os turistas, as pessoas que vêm a Veneza e Milão, prestassem atenção. Os batedores de carteira são muito ágeis.

Os turistas estão começando a te reconhecer?
Hoje cedo eu estava na rua e um turista me olhou. Ele disse: "Você é ‘attenzione, pickpocket!’" Ele estava com uma garotinha. Falei: "Sou, sim." "Eu te encontrei! Podemos fazer uma foto?" Ele era da Dinamarca, acho.

Como os turistas reagem quando você começa a berrar? Seu grito é fortíssimo.
Primeiro eles me olham por um instante, depois ficam observando o que acontece. "Attenzione, borseggiatrici!" Depois disso eles agradecem, porque entendem.

Os turistas não têm a melhor fama do mundo, especialmente não os americanos. Por que defendê-los?
Eu protejo todos os turistas. O turismo é muito importante para a Itália. Vivemos com os turistas. Quero que as pessoas que vêm para a Itália nos respeitem, e nós precisamos respeitá-las.

Tradução de Clara Allain

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