Autor de 'Ugly' enumera 5 coisas que aprendeu sendo feio
O australiano Robert Hoge teve um tumor facial na infância que o deixou com o rosto deformado. Hoje, aos 43 anos, pai e escritor, ele falou em entrevista à "Time" sobre o que aprendeu com a feiura em um mundo cada vez mais obcecado pela beleza.
Autor do livro "Ugly" (feio, em inglês), Robert passou por 24 cirurgias na infância para tentar "consertar" seu rosto após a remoção do tumor. Apesar de bem-sucedidas, as operações o deixaram com muitas cicatrizes. Ele também teve as duas pernas amputadas devido a uma má-formação. Confira os cinco maiores aprendizados que o australiano enumerou:
1. Feiura não é ausência de beleza
Feiura não significa ausência nem o oposto da beleza. Definir a feiura como oposto da beleza limita nosso senso do que é normal. Uma rápida olhada na história mostra que as definições de beleza são escolhas de moda, que mudam de tempos em tempos. A aparência é ligada a identidade e auto-estima. É preciso reconhecer a amplitude das diferenças de aparência.
2. Podemos reconhecer diferenças na aparência sem dar tanto valor a elas
Parem de tentar fingir que diferenças de aparência não existem ou não importam. Muita gente tenta ser educada comigo e me diz coisas como "ah, você não é feio" ou "o importante é a beleza interior". Essa polidez desvaloriza minha aparência. O que é preciso fazer é remover associações erradas entre beleza e uma série de características de personalidade. Somos treinados a associar determinados padrões de personalidade com aspectos físicos. Até os contos de fada fazem isso. Só porque alguém é atraente não significa automaticamente que ele seja gentil ou inteligente. E só porque alguém é feio, não quer dizer que seja mau ou burro. Isso soa óbvio e falacioso, mas é assim que começa: com as pessoas entendendo que é "ok" reconhecer as diferenças e que é preciso desassociá-las de características de personalidade.
3. A beleza é um milhão de pontinhos num mapa
Beleza é um meio controverso. Noções do que é bonito ou não estão em mudança constante. Ninguém, exceto as supermodelos talvez, é unanimemente bonito. Beleza não é um único destino num mapa, é um milhão de destinos diferentes, com um milhão de caminhos diferentes para se chegar a eles. Definir a beleza de forma mais ampla cria espaço para uma aceitação maior da diversidade.
4. O jeito como falamos sobre aparência faz as crianças perderem sua aceitação natural do diferente
Nossas crianças estão anos-luz à nossa frente no que se trata de aceitação da diversidade. Converso muito com grupos escolares sobre aparência e deficiência física. Quando me perguntam como a aparência tem impacto na minha vida, digo a eles que tive momentos divertidos e momentos difíceis, mas que minha aparência não definiu minha vida inteira e que todo mundo enfrenta desafios. Crianças são curiosas com aquilo que é incomum. Quando perguntam porque alguém é diferente e lhes respondem que "aparência não importa", isso é um desserviço, porque cria um manto de invisibilidade sobre o assunto para eles. Engajar as crianças em sua curiosidade genuína vai encorajá-los a continuar curiosos e aceitadores.
5. Minha feiura é uma parte essencial de quem eu sou
Se você tentar me separar das minhas cicatrizes sem antes me envolver numa discussão sobre isso, talvez eu nem teria existido.
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