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Dia do Saci: Entenda a festividade que se contrapõe ao Halloween

'Festejar nossa cultura nos dá sensação de pertencimento'

Ilustração do Saci
Saci - Adobe Stock
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São Paulo

Com o objetivo de valorizar o folclore e a cultura popular brasileira, em 31 de outubro é celebrado também Dia do Saci. A data cai propositalmente no dia de Halloween para contrapor a festa norte-americana que conquistou também os brasileiros.

Para Mouzar Benedito, um dos fundadores da Sosaci (Sociedade de Observadores de Saci), o Dia das Bruxas é um "símbolo do imperialismo cultural" dos EUA. "Havia uma invasão cultural representada pelo Halloween que costumava desvalorizar tudo o que é brasileiro. A nossa ideia é manter e passar às novas gerações a importância de afirmar nossa cultura e fortalecer a brasilidade", diz.

A Sosaci foi criada para manter viva a lenda do saci-pererê, personagem negro de uma perna só, cachimbo na boca e capuz vermelho na cabeça, adepto de travessuras e conhecido protetor da natureza.

Não por acaso, a fundação da entidade se funde à história da festividade: em 2003, o então deputado Aldo Rebelo apresentou um projeto de lei (PL 2.762) que criava o Dia do Saci em 31 de outubro. A proposta acabou arquivada, mas no mesmo mesmo ano foi criada a Sosaci, com sede em São Luiz do Paraitinga (SP), e em 2004 o estado de São Paulo instituiu o Dia do Saci, por meio da lei nº 11.669. Minas Gerias, Espírito Santo e Ceará também celebram a data oficialmente, segundo Mouzar Benedito.

"Festejar nossa cultura dá a sensação de pertencimento a um povo", diz Benedito. É por isso que, durante todo o mês de outubro, a Sosaci promove uma série de atividades em seu canal no YouTube, com danças, brincadeiras de roda, contação de histórias e shows de música caipira.

Há muitas maneiras de celebrar a cultura brasileira, diz Benedito. "Basta promover uma forma de brincar longe dos eletrônicos, como pular corda, corrida de saco, pular em uma perna só como o saci, ler livros. Para não deixar morrer nossas tradições", diz.

O Halloween começou a ser celebrado no Brasil no final da década de 1980. Mas há indícios de que a festa tenha surgido há cerca de 3.000 anos, com os celtas, povo politeísta que acreditava em diversos deuses relacionados aos animais e às forças da natureza.

A festa como conhecemos hoje, exportada pelos norte-americanos, foi levada à América pelos ingleses e principalmente pelos irlandeses. Não é coincidência que as primeiras referências ao Halloween tenham aparecido nos Estados Unidos pouco depois de 1840, período conhecido na Irlanda como a "Grande Fome", quando milhares foram forçados a fugir para os EUA, levando suas histórias e tradições. A partir daí, a indústria cultural norte-americana se encarregou de espalhar o evento para o resto do mundo.

Para o professor Fernando Pereira, especialista em cultura brasileira da Universidade Presbiteriana Mackenzie, não há rivalidade entre uma celebração e outra.

"Grandes estudiosos não querem rivalizar ou ser contra o Halloween, desde que os educadores e os pais lembrem que no Brasil temos manifestações folclóricas e culturais tão ou mais interessantes, como o curupira, a mãe d’água, a cuca e o saci", explica.

Outro detalhe a ser lembrado, diz o professor, é que somos parte de um país miscigenado, com influências europeias, mas também africanas e indígenas. O saci é a representação dessa mistura, o que faz dele um personagem ainda mais importante.

Há várias figuras mitológicas pelo mundo com as mesmas características do saci, que surgiu no Brasil no final do século 18 e se popularizou no seguinte, época em que seu nome ainda era escrito com a letra "Y". Segundo o professor Pereira, o termo vem do tupi "çaa cy", que quer dizer "olho mau, olho doente" e "saltitante".

"É imprescindível manter as crenças. Asseguro que não existe nenhum outro lugar no mundo com tradições culturais tão ricas quanto o Brasil", afirma, para concluir: "Não se pode construir o futuro sem ter tido um passado".

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