Aviso
Este conteúdo é para maiores de 18 anos. Se tem menos de 18 anos, é inapropriado para você. Clique aqui para continuar.

Viva Bem

Cabelos brancos rompem ditadura do certo e errado impostos às mulheres

Grisalho faz sucesso até no tapete vermelho de Cannes; veja dicas

Andrea Hespanha Karime Xavier - 21.jul.21/ Folhapress

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

No filme “O Diabo Veste Prada” (2006), a protagonista Miranda Priestly (Meryl Streep) é uma mulher elegante que usa o cabelo branco acinzentado com um corte curto e moderno. Nos últimos anos, essa tendência de cabelos grisalhos vem ganhando força entre famosas e anônimas e recebeu o nome de gray hair (cabelo cinza).

No início do mês, as estrelas de Hollywood Jodie Foster, Helen Mirren e Andie McDowell ostentaram fios brancos e grisalhos no tapete vermelho do Festival de Cannes, chamando a atenção do mundo todo e provando que a tendência também vai bem com looks luxuosos.

No Brasil, Samara Felippo, Suzana Alves, Fafá de Belém, Astrid Fontenelle e Cassia Kiss são apenas algumas das famosas que abandonaram a tintura para assumir os fios naturais.

Denise Lourenço, mestre em comunicação e semiótica e coordenadora-geral do MBA Escola de Negócios Trevisan, afirma que a ideia do movimento gray hair é muito mais do que aderir a uma moda passageira. Segundo ela, o que está está em curso é a desconstrução de um jeito de pensar e viver que sempre esteve em voga, impondo às mulheres o que era certo ou errado.

“O que é bonito é que o movimento nos liberta dessa prisão de não poder fazer ou assumir algo que é absolutamente natural”, diz. "Amadurecer é uma conquista e você deve respeitar a sua trajetória, sua história. Ter cabelos grisalhos coroa essa experiência."

Para ela, a adesão de famosas contribui para o movimento por uma questão de representatividade. “A gente vê a atriz Samara Felippo agora com uma face madura [com cabelo grisalho] e isso não desmerece em nada a mulher maravilhosa e símbolo sexual que ela é."

A psicóloga Vitória Haidar, especializada em psicogerontologia (estudo do envelhecimento), afirma que a pressão sobre a mulher para se manter sempre jovem esteve enraizada na sociedade. “Você ouve que o homem grisalho é charmoso, mas a mulher é considerada desleixada. Antigamente, o cabelo branco em uma mulher tinha conotação de abandono.”

A psicóloga afirma que, mais do que assumir os fios brancos, as mulheres hoje estão aprendendo a aceitar a si mesmas. “Assumir os cabelos brancos é assumir que está envelhecendo. Ainda bem. Só não envelhece quem morre antes.”

Para Haidar, a mídia e o cinema têm colaborado com o movimento ao abrir espaço a corpos e cabelos diversos, como a própria protagonista de “O Diabo Veste Prada”. “[O cabelo da personagem] é sinônimo de grisalho chiquérrimo e lindo. O grisalho pode ser um sinônimo de autenticidade.”

Aos 65 anos, a professora de inglês Ana Luiza Nascimento é um desses exemplos de mulheres que aceitaram a passagem do tempo com naturalidade. Deu tão certo que há nove anos ela trabalha também como modelo profissional e há dois anos faz parte do casting da Ford Models, uma das mais importantes agências de modelos do país.

Ana Luiza Nascimento
Ana Luiza Nascimento - Alex Batista/Divulgação

Ana Luiza, que já havia trabalhado como modelo na juventude, conta que tudo começou após uma sessão de fotos de maquiagem em mulheres com cabelos grisalhos para a revista do cabeleireiro Celso Kamura. Segundo ela, o ensaio foi tão fantástico que ela recebeu outros convites e voltou a trabalhar como modelo profissional para grandes marcas, inclusive em ensaios de lingerie. “Me desaposentaram aos 60 para ser modelo, imagina”, diz, rindo.

Mas se engana quem pensa que Ana Luiza não foi criticada quando resolveu assumir os fios naturais. As próprias amigas diziam que o cabelo grisalho a envelhecia, e a pressão foi tanta que ela acabou cedendo. Mas não gostou do resultado. "As pessoas diziam que seu pintasse o cabelo eu iria ficar dez anos mais jovem. Eu pintei o cabelo e não fiquei nem dois minutos mais moça. Fiquei de cabelo pintado.”

A atriz Regina Restelli, 61, ficou conhecida nos anos 1990 como a Madonna brasileira após sua personagem Rosa na novela Barriga de Aluguel (Globo). Longe da TV e do teatro, ela se tornou terapeuta holística da Personare e, no final de 2019, trocou o loiro pelo branco.

E como ela não estava disposta a passar pela fase da transição (com a raiz branca e as pontas coloridas), entendeu que teria que cortar bastante o cabelo e procurou um profissional que estivesse disposto a descolorir os fios tingidos, deixando o cabelo todo branco. “Ficou bárbaro e moderno. Fiquei feliz da vida com meus cabelos brancos.”

Depois, com a pandemia e os salões de beleza fechados, Regina acabou deixando o cabelo crescer novamente e hoje os fios já alcançam o meio das costas. “Eu sempre tive a ideia de que branco moderno é curto, mas isso era preconceito. O meu é super branco e está enorme. Faço até trança."

Regina Restelli
Regina Restelli - Divulgação

A jornalista Andrea Hespanha, 54, conta que os primeiros fios brancos começaram a aparecer quando ela tinha 17 anos. Ela tinha acabado de entrar na faculdade e, naquela época, pintava o cabelo de várias cores. Aos 30, com o surgimento de uma mecha branca bem na parte da frente, voltou a tingir o cabelo porque não estava disposta a fazer a transição. “A raiz branca [com o resto tingido] dava uma sensação de desleixo."

Foi então que, em 2009, Andrea decidiu que não iria mais pintar o cabelo. Antes, porém, descoloriu todos os fios, e três meses depois o cabelo dela estava grisalho. “A tintura era algo para brincadeira. No dia em que virou obrigação por causa da raiz [branca], deixou de ser divertido.”

A jornalista afirma que nunca se sentiu mais velha por causa do cabelo e que sempre achou lindas as mulheres grisalhas. Alem disso, diz que hoje se sente mais tranquila por não ser “escrava“ da tintura.

Cansada de retocar a raiz a cada 15 dias, Claudete do Prado Scarone, 80, parou de tingir o cabelo em dezembro de 2019. E admite que o fechamento dos salões de beleza deu uma força em sua decisão de abandonar a tintura.

Mais de um ano depois da transição capilar, Claudete não se arrepende de ter assumido os fios brancos e fala em sensação de liberdade. “Agora só vou ao salão para cortar o cabelo, e a cabeleireira penteia bonitinho com a escova. Ela indicou um xampu que é roxo para eu usar duas vezes por semana. O cabelo fica mais brilhante e não amarela”, conta.

GRISALHO EXIGE CUIDADOS

O cabeleireiro Celso Kamura conta que em seu salão aumentou muito o número de mulheres que decidiram assumir os fios brancos durante a pandemia. Mas ele afirma que esse movimento começou antes, cerca de dois anos atrás, e cita a francesa Christine Lagarde, ex-presidente do FMI (Fundo Monetário Internacional), como uma das precursoras.

Kamura, contudo, é do time que defende que uma superprodução é a melhor aliada do cabelo branco ou grisalho. Para ele, a mulher que assume os fios naturais precisa, por exemplo, investir na maquiagem. “Quem tem o cabelo branco tem que ter um cabelo absurdo. Se é curto, [precisa ser] todo desconectado. Chanel com umas pontas meio desfiadas. Eu acho que não pode ser um corte muito tradicional, muito clássico, porque envelhece", opina.

O cabeleireiro avalia que o melhor corte para um cabelo grisalho é aquele que transmite modernidade, mas admite que tem clientes com mais de 60 anos com o cabelo branco "na cintura".

Sobre a temida fase de transição, Kamura afirma que quem não quer esperar a raiz branca crescer pode descolorir os fios. Segundo ele, o processo pode demorar horas e, dependendo do cabelo, o ideal é cortar pela metade. “Dá para pegar um cabelo que tem crescimento de no mínimo 4 centímetros de raiz branca e transformar em grisalho. A gente não pode tocar na raiz.”

O cabeleireiro explica, ainda, que o cabelo grisalho exige cuidado especial porque é mais seco e poroso. Por isso é também necessário hidratar os fios com mais frequência. “Um cabelo branco que não é bem tratado tem frizz e pode partir, arrebentar, pode ressecar muito.”

Dicas do Celso Kamura para mulheres com cabelos brancos

  1. Xampu Silver (roxo) tem que fazer parte da rotina pelo menos duas vezes por semana para os fios não ficaram amarelados

  2. Adotar um cronograma capilar para o cabelo grisalho com máscaras capilares uma vez por semana e umectação com óleo.

  3. Use xampu hidratante, condicionador eum pouco de óleo de argan após lavar a os cabelos.

  4. Pode passar o óleo à noite nos fios e lavar de manhã.

  5. Secar o cabelo branco liso com secador para deixar mais solto. Nos cabelos cacheados devem usar o difusor até quase secar para ficarem com os cachos mais soltos.

  6. Maquiagem é indispensável.

  7. Bronzeado fica muito bom nas grisalhas porque dá um contraponto e deixa mais jovem. Se não tomar sol, use um autobronzeante.

Final do conteúdo
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Ver todos os comentários Comentar esta reportagem