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Viva Bem

Dias melhores: Saiba os sonhos que brasileiros querem realizar após a vacina

'Sempre fui tão ambiciosa e agora só quero um abraço', diz Natália Ceripieri

A farmacêutica Kátia Cristina Bassani, 29, só quer poder dar sua festa de casamento e fazer sua lua de mel com o marido, o médico Arthur Geise, 29 Gabriel Cabral/Folhapress

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São Paulo

Sonhos, projetos, desejos, encontros, festas, viagens, trabalhos. Tudo o que planejamos para fazer ao longo de 2020 teve de ser interrompido e adiado por causa da pandemia do novo coronavírus. Aquele abraço teve de ficar para depois e, após quase um ano, ainda não chegou.

O que chegou é a esperança de uma vacina e, com ela, todos os desejos que ficaram para trás. A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) aprovou, por unanimidade, neste domingo (17), a autorização para o uso emergencial das vacinas Coronavac e Oxford/AstraZeneca. Os cinco diretores deram parecer favorável à liberação dos imunizantes, acompanhando a relatora Meiruze Sousa Freitas, primeira a votar.

São muitos os sonhos dos brasileiros para o período pós-imunização. A farmacêutica paulistana Kátia Bassani, 29, quer fazer a sua festa de casamento –que já está toda paga– e a tão aguardada viagem de lua de mel para a África do Sul. Ela e o marido, o médico Arthur Geise, 29, não veem a hora de poder curtir com segurança.

“Isso tudo fez a gente olhar com outros olhos para este momento. A expectativa de renovar os votos na presença de amigos e de familiares é a grande motivação para fazer tudo acontecer”, diz ela, que também não vê a hora de finalmente agarrar seus pais.

“Quando decidimos adiar a lua de mel e a festa de casamento, pensamos por diversas vezes se o melhor caminho não seria cancelar tudo. Mas mantivemos o casamento no civil, percebemos, ao longo do tempo, que o mais importante já tinha acontecido, que era estarmos juntos construindo nossa vida como casal”, afirma Bassani.

A bancária Vitória Cheretti Rodrigues, 28, de São Paulo, já tinha tudo planejado para passar oito meses na Irlanda, em um intercâmbio para aprimorar seus conhecimentos em inglês. Mas não desistiu e pretende retomar os planos assim que for vacinada.

"O jeito que eu achei para lidar com essa frustração foi fazer terapia. Dei uma surtada, obviamente, engordei muito também. Mas foi a análise que me ajudou a perceber que não era a hora, que tudo tem a hora certa e que vai acontecer”, diz Rodrigues. "Já avisei [os pais] que a vacina está chegando e que eu vou [viajar]. Eles me apoiam, mas percebo que vão sentir saudade."

Uma viagem também está no horizonte da empreendedora paulista Aline Oneda, 31. Ela e o marido, o representante comercial Luiz Henrique de Souza, 33, compraram passagens para Portugal ainda em 2019, para viajar em junho de 2020 com outro casal, mas tiveram que adiar o embarque. "Nunca fomos à Europa e tinha todos os roteiros. Está tudo pago, mas estamos esperando a vacina."

Por não fazerem parte do grupo de risco, que serão vacinados primeiro, Oneda sabe que a viagem pode demorar mais um tempo. Mas ela diz manter os pés no chão e o pensamento positivo. "Será ainda mais especial. Estamos com sede de conhecer outras pessoas. Sou tímida, mas agora quero fazer amizade, bater perna, entrar nos lugares e passar um ano dentro de aviões."

Além desse sonho, ela também quer construir a própria casa para morar com o marido. "O mercado de construção aumentou muito os preços. Até mudamos para uma casa na pandemia em condomínio, mas a vontade é construir a nossa. E com vacina espero que esse setor também volte ao normal."

Pessoas que sonham em ter filhos também suspenderam a ideia diante do avanço da pandemia. É o caso da professora paulista Luciana Abe Nakazato, 34, e do marido dela, o biólogo Ricardo Nakazato, 35, que decidiram esperar a imunização. "Quero tomar as duas doses da vacina antes de engravidar. Não queremos contar com a imunidade de rebanho para me proteger, quero tomar e ficar em paz", diz Luciana.

A professora afirma que a pandemia lhe trouxe mais ansiedade e medo, mas diz que, com a esperança de dias melhores em 2021, voltou a ter gana para correr atrás de seu maior objetivo. “Não queria ter uma criança num mundo como este, de medo e incertezas. Guardamos a ansiedade e vamos esperar um momento mais tranquilo.”

BRASILEIRAS NOS EUA QUEREM VOLTAR

Se tem uma coisa que a escritora Mary Guedelha, 56, está louca para fazer após tomar a vacina é voltar ao seu país. Natural de Belém do Pará, ela tem dupla cidadania e mora nos Estados Unidos há 25 anos, mas tem um filho e três netos vivendo no Brasil. Sua maior vontade é dar um abraço em sua família.

"Era para eu ter meu dia de autógrafos [de livros lançados recentemente] no Brasil em junho de 2020, mas a pandemia não deixou." Nos Estados Unidos, diz Guedelha, ela deve ser vacinada em meados de fevereiro ou começo de março. A fé continua em alta. "Num cenário pós-imunização, esse meu retorno ao Brasil seria ainda mais especial. Sou muito carismática e carinhosa, gosto do beijo”, diz a escritora.

Mary Guedelha: escritora, roteirista e produtora que mora nos Estados Unidos - Arquivo Pessoal

A relações públicas Natália Ceripieri, 34, de São Paulo, está em uma situação parecida. Morando nos Estados Unidos há um ano e três meses, ela diz que percebeu, com a pandemia, que o tão falado sonho americano pode não ter tanta graça se ela estiver perto de quem ama. Ela está há dois anos longe da irmã, que mora na Espanha, e não vê os pais no Brasil há mais de um ano.

"Quando falamos em valorizar o que importa, a grande questão é o que é ser feliz para cada um. Será que é melhor estar em um país com qualidade de vida ou ver seus pais envelhecerem? Eu refleti muito e não descarto a possibilidade de voltar, de largar tudo nos Estados Unidos para estar perto da minha família", diz Ceripieri. ​

A relações públicas paulistana Natália Ceripieri, 34, tem a vontade de abraçar os pais, Miguel e Tereza, e a irmã, Mariana - Arquivo Pessoal

Casada com um americano, ela afirma que veria os pais e a irmã em abril de 2020, mas de repente tudo piorou, as passagens foram canceladas e houve a barreira para entrada de brasileiros nos Estados Unidos. "Na semana em que faria a biometria para o meu green card, teve o lockdown. Estou literalmente travada. Se saio do país perco esse processo, e meus pais não podem entrar."

"É muito louco, pois sentimos falta de umas coisas estranhas, como do cheiro da nossa mãe. Essa pandemia veio para a gente reavaliar o que realmente importa. Sempre fui tão ambiciosa e agora só quero um abraço”, diz a relações públicas.

'VACINA NÃO É PASSAPORTE DA IMUNIDADE'

Especialista em microbiologia pelo ICB-USP (Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo), Luiz Gustavo de Almeida afirma que o fato de estarmos vacinados não nos permitirá abandonar os protocolos de segurança imediato, como o uso de máscaras e de álcool em gel e manter o distanciamento social. É preciso ter calma e tranquilidade, diz Almeida, para aguardar o tempo correto até que a transmissão do coronavírus esteja em baixa.

"Não é porque há vacina que temos passaporte da imunidade. Não sabemos como será transmissão do vírus, mesmo com vacina tomada. Serão dois ou três anos de estudo para ver como o vírus se comporta em uma população imunizada. Se se tornará endêmico, igual [ao vírus da] gripe todo ano, por exemplo."

Para Almeida, dificilmente o Brasil conseguirá imunizar sua população com duas doses da vacina antes do prazo de um ano. "Teremos gente sendo vacinada até o fim de 2021. Claro, se tivermos doses e insumos disponíveis. No melhor cenário, com uma vacina como a da Pfizer, precisaríamos vacinar 52% da população. Com a CoronaVac, 64%."


TIRE SUAS DÚVIDAS

Após a vacina, suspende uso da máscara? Demora um certo tempo para atingir a imunidade geral. São duas doses que levam mais de um mês para ter eficácia. Tem que manter os protocolos.

Quanto tempo para o vírus ir embora? Ainda é cedo para saber. Provavelmente vai diminuir o índice de transmissão. Mesmo assim, após dois anos de todo mundo vacinado, tem de ver se não terá mutação e variantes.

Tomei vacina, estou completamente seguro? Pode ser que uma pessoa vacinada pegue o vírus, mas será em proporções menores. Quanto mais gente vacinada menor o índice de pessoas doentes.

Após a vacina, poderemos aglomerar? Não é porque tem vacina que poderemos ter passaporte da imunidade. Serão dois ou três anos de estudos para ver como o vírus se comporta em população imunizada.

Quando poderemos abraçar? Após um mês da segunda dose, poderemos visitar parentes com mais tranquilidade.

Dá para voltar a trabalhar na empresa? Questão de as empresas analisarem e continuarem a seguir os protocolos.

Se estiver com Covid na data da vacina, posso tomar? Quem estiver hospitalizado, ainda debilitado, não receberá a vacina, pois o sistema imunológico já está atarefado.

Em quanto tempo todo o Brasil será vacinado? Não conseguiremos vacinar a população inteira em um ano. Provavelmente levaria em torno de 300 dias ou mais para isso. Claro, se tiver insumos e doses para todos.

Precisamos tomar cuidado com quem não se vacinar? Na vacina da Pfizer, no melhor cenário, precisaríamos vacinar 52% da população. Com a CoronaVac, ao menos 64%.

E as reações à vacina? Reações adversas são dores de cabeça e febre, mas é sinal de que o sistema imunológico está funcionando. Pode acontecer uma reação mais forte, mas se acontecer vamos monitorar para alertar.

Grávidas poderão tomar? Teremos alguns grupos de estudo que verão isso em breve, mas a princípio, não. Mas neste caso levantamos a importância de vacinar o maior número possível de pessoas, pois temos que diminuir a taxa de transmissão.

Fonte: Luiz Gustavo de Almeida: PhD em Microbiologia pelo ICB-USP (Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo); diretor no Brasil do festival internacional de divulgação científica “Pint of Science – Um Brinde à Ciência” e coordenador dos projetos educacionais do Instituto Questão de Ciência

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