'Além da Ilusão' quer resgatar 'novela sem medo de ser novela' na Globo
Trama de Alessandra Poggi estreia nesta segunda-feira na faixa das 18h
Trama de Alessandra Poggi estreia nesta segunda-feira na faixa das 18h
No afã de conquistar um público mais jovem, as novelas têm apostado —com maior ou menor grau de sucesso— em narrativas mais serializadas, que as distanciam do aspecto mais folhetinesco consagrado no Brasil. Não vai ser assim com "Além da Ilusão", que estreia nesta segunda-feira (7) na faixa das 18h da Globo.
Segundo o diretor artístico Luiz Henrique Rios, a estrutura da trama, cujo principal tema é reconhecidamente o amor romântico, é a do folhetim clássico. "Eu sempre digo que a Alê [Alessandra Poggi, autora] faz uma novela sem medo de ser novela", afirma. "É uma novela que quer ser novela."
Não que a forma como a história é contada não tenha atualizações. "Ela não trabalha em um registro de imaginar o clichê como algo repetido e velho, mas inconsciente e próximo", explica. "Tem uma interpretação moderna do passado, uma linguagem mais contemporânea."
Paradoxalmente, Poggi faz sua estreia como autora principal de uma novela. Antes, ela dividiu com Ângela Chaves os créditos de "Os Dias Eram Assim" (2017), que a Globo vendeu como supersérie (uma minissérie com mais capítulos), e colaborou com Miguel Falabella nas séries "Pé na Cova" (2013-2016) e "Sexo e as Negas" (2014), entre outros trabalhos.
"Sou uma espectadora de novelas há anos", afirma a autora. Apesar de ter se inspirado em diversas outras histórias, fictícias ou não, ela diz não saber dizer "de onde saiu o que". "O ponto de partida foi um livro sobre os 100 anos da Fábrica de Tecidos Bangu [na zona oeste do Rio], que contava a história de como uma fazenda de algodão se transformou em uma fábrica e depois em um bairro."
Na novela, esse processo de industrialização é o pano de fundo para uma história de amor cheia de reviravoltas. Tudo começa nos anos 1930, quando a jovem Elisa (vivida por Larissa Manoela em sua estreia na Globo) conhece o mágico de rua Davi (Rafael Vitti). Os dois se apaixonam perdidamente, mas a relação não é aprovada pelo pai dela, o juiz Matias Tapajós (Antonio Calloni).
"A Elisa é uma filha muito querida por esse pai, que até então é a figura masculina que ela tem dentro de casa e o grande amor da vida dela —ela está ali vivendo por esse pai", conta Larissa Manoela. "Ele acaba ficando descontrolado e vai ter bastante conflito entre os dois, porque ela não vai compreender a reação dele, que sempre foi a pessoa que atendeu a todos os pedidos dela."
Em uma tentativa de afastar o casal, o magistrado acaba sendo o responsável pela morte da própria filha. Ele consegue colocar a culpa em Davi, que passa dez anos preso, até fugir e tomar a identidade de outra pessoa (quando a novela dá um salto temporal e finca pé definitivamente nos anos 1940).
"Pelo que tudo indica no comportamento do Matias, ele sempre foi um juiz correto, justo e ético", defende Antonio Calloni. "A partir do advento dessa tragédia, ele perde a razão, o juízo. O Matias não tem o hábito de cometer crimes, mas ele vira um criminoso. Isso é um detalhe que é fundamental para a compreensão do personagem. É um personagem muito fascinante, com muitas camadas."
Após sair da prisão, sem saber, Davi vai trabalhar na fábrica que é comandada justamente por Violeta (Malu Galli), a mãe de sua amada morta. Lá, encontra Isadora, a irmã caçula de Elisa, com quem tem uma semelhança física impressionante —a personagem também é vivida por Larissa Manoela.
"Deve ser bem difícil essa situação para o Davi", avalia Rafael Vitti. "Ele se depara com essa menina, que ele conheceu uma criança e que está muito parecida com a irmã. Acho que isso gera uma confusão mental, um choque. No começo, ele não queria se envolver, acha que precisa resolver a própria vida, mas ninguém manda no coração."
"Davi e Isadora compartilham de valores na vida, o que faz um se encantar pelo outro", continua. "Em algum lugar, ele acha que foi a Elisa que mandou esse amor. Ele tem uma sensibilidade para com essa relação de morte e vida que o permite viver esse amor sem julgar."
Como é de se imaginar, os dois se apaixonam e terão muitas adversidades para ficar juntos, incluindo aí novamente o juiz Matias Tapajós. "Matias tem uma predileção evidente pela Elisa", adianta Calloni. "A Isadora não é a filha preferida dele, e isso fica claro. Mas tem um agravante: ele começa a delirar na segunda fase da novela e, às vezes, até confunde a Isadora com a Elisa."
Poggi diz que decidiu centrar a ação nos anos 30 e 40 por ser um período "muito rico na história do Brasil". "Teve o fim Era Vargas, os movimentos feministas começaram a ganhar força, assim como os movimentos de classe... Muita coisa aconteceu no Brasil nessa época. A gente usa todo esse universo como pano de fundo, mas não é a intenção fazer um documentário de época."
O diretor artístico comenta que, no caso da novela, "o tempo não é limitante". "Trata-se de um registro mais colorido, como se falasse de um passado mais encantador, de uma realidade relativamente alterada", explica. "Quisemos fazer um passado muito livre, muito próximo do presente. Eu diria que é uma fábula temporal."
Isso explica a opção por uma trilha sonora que não corresponde ao período retratado, que inclui músicas atuais regravadas com uma roupagem diferente. Isso conversa diretamente com uma das obras citadas pelo diretor como referência, a série "Bridgerton", da Netflix. Ele cita ainda filmes como "O Ilusionista" (2006).
Mas não é só na trilha sonora que passado e presente conversam. Na trama, Violeta é a principal representante do que se poderia chamar de "uma mulher à frente do seu tempo". Feminista, ela tenta passar seus ideias para as filhas Isadora e Elisa.
A própria personagem também vai comandar a tecelagem fundada na antiga fazenda da família. Violeta terá como sócio Eugênio (Marcello Novaes), com quem acabará se envolvendo romanticamente, embora ainda esteja oficialmente casada com Matias.
"A Violeta condensa na história dela muitas das lutas da mulher no mercado de trabalho, do direito de conquistar mais direitos", conta Malu Galli. "Esse vai ser o embate principal entre a Violeta e o Eugênio, porque ele é um sujeito machista, apesar de ter bom coração."
"Eles brigam porque são sócios, e a Violeta considera que isso tem que ser em igualdade total, mas não é o que acontece na prática, porque o homem tem sempre aquela coisa de querer falar primeiro, tomar a frente, enfim...", reclama.
Marcello Novaes diz que a trama vai abordar esses preconceitos "que ainda existem hoje". "Naquela época era bem mais acentuado", avalia. "A Violeta vai acabar ensinando muita coisa para o Eugênio porque, apesar desse lado machista, ele acaba sempre a ouvindo."
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