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Televisão

Casa dos Artistas faz 20 anos: conheça bastidores e a história do programa

Sequestro de Silvio, fuga de Frota e mudanças de regra marcaram o 1º reality brasileiro

Silvio Santos com os participantes do primeiro Casa dos Artistas, em 2001 - Divulgação
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São Paulo

Pioneiro dos realities de confinamento de pessoas na televisão brasileira, a Casa dos Artistas (SBT) completa 20 anos da estreia no dia 28 de outubro. A atração é até hoje um dos maiores sucessos de audiência da história do canal paulista e ficou marcada na mitologia da televisão brasileira.

O programa teve mais duas temporadas, uma delas mesclando artistas e fãs, mas acabou barrado na Justiça, ao ser considerada plágio do Big Brother Brasil.

Produzido em sigilo, o programa Casa dos Artistas entrou no ar pegando de surpresa os brasileiros que, naquela altura, nem bem sabiam o que era um reality show. E, uma vez no ar, a atração mostrou força e provocou a primeira derrota no Ibope do Fantástico. A Globo reagiu, e criou-se uma guerra entre as duas emissoras.

A Globo acusou o SBT de copiar o Big Brother, formato de programa que a emissora carioca havia acabado de comprar da Endemol após o próprio Silvio Santos desistir da negociação. Ela entrou na época com uma liminar na Justiça que obrigou o SBT a retirar o reality do ar. No lugar, o canal colocou um comunicado durante 15 minutos informando que o programa não seria exibido.

O SBT conseguiu reverter a liminar e voltou a exibir o reality, que reuniu 12 celebridades em uma mansão, ao lado da casa de Silvio Santos. Câmeras e microfones espalhados pelo local registraram o cotidiano de Bárbara Paz, Supla, Mari Alexandre, Patrícia Coelho, Alexandre Frota, Mateus Carrieri, Taiguara Nazareth, Nana Gouvêa, Núbia Óliiver, Marcos Mastronelli, Leandro Lehart (desistente) e Alessandra Scatena.

A modelo Núbia Óliiver relembra sua participação na atração que ela considera um divisor de águas na sua carreira. Ela diz que antes do reality tinha uma carreira consolidada no segmento sensual, apesar de ter feito duas novelas e de ter participado do Garota do Fantástico. "Na Casa dos Artistas eu consegui ir do Oiapoque ao Chuí. Quem não conhecia Núbia, passou a conhecer."

Núbia conta que foram chamados 250 artistas para o projeto do reality, e 25 foram selecionados pelo diretor Rodrigo Carelli. “Doze pessoas foram escolhidas pelo Silvio Santos, e isso, para mim, já me fazia campeã.”

Se hoje participantes de programas de confinamento se preparam e traçam suas estratégias de jogo antes, na época a Casa dos Artistas foi um salto no escuro para o grupo de celebridades. Núbia diz que a produção explicou muito pouco, apenas exibiu para cada participante um vídeo e falou que o reality já acontecia fora do Brasil. “Foi muito bacana, um projeto que ninguém sabia. Hoje as pessoas entram meio que moldadas em reality show, mas, naquela época, a gente não sabia o que era.”

MUDANÇA DE REGRAS

Outra característica do programa que ficou gravada no imaginário popular era a constante mudança de regra. Como um experimento em construção, um formato sendo descoberto na televisão brasileira, o reality foi sofrendo adaptações enquanto estava no ar.

A modelo lembra, por exemplo, que, no começo, a votação para eliminar participantes era feita em uma urna. Eles escreviam o nome de quem queriam eliminar e o motivo, sem se identificar. Mas logo isso mudou. ”As palavras começaram a ficar ofensivas e diziam 'eu não gosto de fulana porque ela tem cabelo de gema', começaram a ofender a menina", diz, sem revelar quem era a participante ofendida.

O ator Mateus Carrieri diz que entrou no programa "vendido, sem saber o que ia acontecer lá dentro”. Na visão dele, as regras da Casa dos Artistas eram muito bagunçadas. Ele lembra, por exemplo, do fatídico momento em que Alexandre Frota, um dos destaques da casa, simplesmente desistiu do programa, mas depois foi autorizado a retornar para o confinamento. “Privilegiou de alguma forma, mas a gente não tinha noção que estava fazendo aquele sucesso.”

O ator conta que começou a perceber o sucesso do programa quando um fotógrafo da revista Veja entrou na casa para fazer uma foto do elenco com Silvio Santos, que seria capa da publicação. Depois, ele disse que o dono do SBT entrou mais uma vez na casa para falar que o esquema de votação iria ser votação por telefone não mais a votação entre participantes.

"Algumas regras foram mudadas, alteradas no meio do caminho. Foi tudo muito novo para todo mundo, inclusive para eles. Talvez não esperassem que [o programa] fosse esse sucesso todo.”

SEQUESTRO DE SILVIO SANTOS

Rodrigo Carelli, diretor do núcleo de realities da RecordTV, foi o responsável na época por criar a Casa dos Artistas. Ele revela que foi um desafio “incrível” desenvolver todo um formato novo em dois meses de pré-produção, em sigilo absoluto e nenhum tipo de divulgação prévia.

“A gente teve que montar, criar, pré-produzir tudo sem ninguém saber, nem imprensa, nem sequer as pessoas dentro do SBT. Apenas cinco pessoas sabiam disso. Eu acho que a surpresa, o fato de ser o primeiro desse modelo de reality, é que fez o sucesso desse projeto”, afirma Carelli.

O diretor lembra que durante a pré-produção aconteceram coisas incríveis e revela que tem vontade de escrever um livro sobre os bastidores. Um desses fatos foi, durante o período de gestação do reality, Silvio Santos ter sido mantido refém por sete horas em sua própria casa por um criminoso que, poucos dias antes, havia sequestrado Patrícia Abravanel, filha do apresentador. O fato parou o Brasil. “A imprensa toda na frente da casa do Silvio Santos não tinha ideia que estávamos produzindo a Casa dos Artistas ao lado.”

Curiosos acompanham o sequestro do apresentador por uma televisão em uma barraca de camelô na esquina da Rua Barão de Itapetininga com a Conselheiro Crispiniano, no centro de São Paulo - Eduardo Knapp - 30.ago.2001/Folhapress

CAMPEÃ DE ÚLTIMA HORA

Outro desafio encontrado pela produção foi convencer as pessoas a ficarem afastadas da família para a participar do reality sem terem ideia do que se tratava. Os produtores conseguiram montar o elenco em pouco mais de duas semanas, mas alguns artistas desistiram em cima da hora. Uma dessas pessoas foi a atriz Suzana Alves que ficou com muito medo e, três dias antes da estreia, não quis assinar contrato. Ela acabou participando da segunda temporada.

Para substituir Suzana Alves, a produção do programa convidou Bárbara Paz, que na época era uma atriz de teatro alternativo e amiga do pessoal da MTV, canal onde boa parte da equipe da Casa dos Artista havia trabalhado. “Ela foi chamada em cima da hora e acabou não só ganhando o programa, como virando uma grande atriz, que até hoje está fazendo muito sucesso.”

Vinte anos depois, Carelli avalia que foi uma aventura fazer um programa com Silvio Santos todos os domingos ao vivo e uma experiência única. ​Ele lembra orgulhoso que a final do reality parou o Brasil e até hoje é a maior audiência de uma emissora fora da Globo.

“Foram 46 pontos de média e a gente sentiu muito isso. As ondas de impacto do programa continuaram depois do final e até hoje as pessoas lembram dele com uma memória afetiva muito forte.”

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