Musa da Copa de 2002, Fátima Bernardes diz que evento marcou retomada de sua carreira
Globo exibe final entre Brasil e Alemanha neste domingo, às 16h
Há 18 anos, Fátima Bernardes, 57, entrava em um ônibus para acompanhar os jogadores da seleção brasileira para os jogos da Copa do Mundo de 2002, no Japão. Na época com 39 anos de idade, a jornalista foi responsável por cobrir a equipe até a grande final contra a Alemanha, na qual o Brasil tornou-se pentacampeão.
A vitória, que será reprisada pela Globo às 16h deste domingo (12), marcou o sucesso da retomada da carreira de Fátima Bernardes. "Eu estava no Jornal Nacional, tinha tido filhos, estava sem viajar ou fazer reportagens há quatro anos, então ali foi a hora que percebi que estava de volta realmente. Aquela sensação de desenferrujar, de voltar a fazer matérias. A Copa teve essa importância de uma grande retomada", afirma a apresentadora do Encontro, em entrevista ao F5.
"Não conseguia parar de pensar de como eu era feliz de estar nos dois últimos títulos do Brasil, fazendo a cobertura e assistindo à final no campo, pela segunda vez", completa ela, que relembra o período como de muita troca e integração com os jogadores.
O título de Musa da Copa, atribuído a ela na época, não a incomoda, uma vez que a jornalista não o associa à beleza e, sim, à parceria que desenvolveu com os esportistas. Namoranda do deputado federal Túlio Gadêlha (PDT) e apresentando um programa próprio, a apresentadora afirma que vive um momento muito diferente de sua vida profissional, e que não sente falta da cobertura jornalística diária.
"Quando eu fiz essa virada lá no fim de 2011 foi muito consciente. Eu adoro a cobertura do dia a dia, gosto de assistir, mas para mim já passou. Não é o que desejo mais para a minha vida. Eu fiz uma transição muito consistente, coerente e segura", diz ela.
Como foi receber o título de musa durante a Copa de 2002?
Foi uma surpresa. Meu período de convivência com os jogadores acabou nos aproximando. Era uma parceria mesmo. Por isso o título de musa soou muito diferente para mim. Mas claro que achei o máximo, uma homenagem linda, retribuição a um trabalho respeitoso que foi feito durante todo aquele período de mais de 40 dias.
Você foi uma das primeiras mulheres nesse tipo de cobertura. Sentia muita responsabilidade?
Eu acho injusto dizer que fui uma das primeiras mulheres a fazer isso. Muito antes de mim, a Isabela Scalabrini foi repórter do esporte e apresentadora tanto do Globo Esporte quanto do Esporte Espetacular por muito tempo. Ela já fazia esse tipo de cobertura como repórter, não como apresentadora. Teve uma Copa que ela fez, a do México, em 1986, em que realmente era a única da nossa cobertura. Nas que eu estava, tinha várias outras mulheres trabalhando como repórteres e apresentadoras.
Por isso eu não me sinto esse peso ou essa responsabilidade de ter sido uma pioneira. Teve gente antes de mim que abriu esse caminho. Mas o retorno que eu tive foi muito grande, muito mais por eu ter tido a oportunidade de participar de alguns eventos esportivos com o Galvão [Bueno], nos quais eu podia dar opinião sobre o futebol. Essa participação quando os companheiros de cobertura estavam pensando e analisando técnica e taticamente é que fez o diferencial nesta Copa.
Na Copa de 2002 você interagiu mais com os atletas, acompanhando-os no ônibus. Foi um desafio?
Na Copa de 1994, eu não cobri diretamente a seleção brasileira. Eu apresentava o Jornal da Globo e o Fantástico. Só passei a acompanhar a seleção quando ela passou por Dallas, onde ficava o nosso centro de imprensa, no jogo contra a Holanda, pelas quartas de final. A partir dali estive junto com o time.
Talvez por isso, em 2002, pelo fato de estar com a seleção desde o primeiro jogo, deu para construir uma relação mais próxima. Sobre a preparação, como foi uma Copa em dois países, eu tentei ser o mais natural possível. Fiquei feliz pelo resultado, mas não tinha nada definido para fazer daquela forma, simplesmente foi acontecendo, foi intuitivo.
O que foi mais marcante nesta cobertura?
São culturas muito diferentes da nossa. Eu nunca tinha ido para aquele lado do mundo. Claro que vou destacar o jogo final. De vez em quando passa um filme e eu vejo com clareza vários momentos daquele dia. Eu não conseguia parar de pensar em como eu era feliz de estar nos dois últimos títulos dos Brasil, fazendo a cobertura e assistindo à final no campo, pela segunda vez. É uma sensação de alegria muito grande, que está guardada comigo e volta cada vez que vejo a imagem daquele jogo.
Qual foi o impacto dessa cobertura na sua carreira?
A Copa de 2002 marca uma retomada na minha carreira. Eu estava no Jornal Nacional, tinha tido filhos, estava sem viajar ou fazer reportagens há quatro anos, então ali foi a hora que percebi que estava de volta realmente. Aquela sensação de desenferrujar, de voltar a fazer matérias. Teve essa importância de uma grande retomada.
Gostaria de cobrir mais uma vez alguma Copa do Mundo?
Acho que, daquela forma, não. Mas se houver uma oportunidade de o Encontro ter um espaço para isso, sim. Tanto na Copa aqui no Brasil quanto na Rússia, o programa já estava no ar e fizemos algumas interações divertidas. Pensamos a Copa de um outro jeito. Eu estava longe. Mas se eu tiver a oportunidade de novo, com o Encontro estando no local da Copa seria muito legal.
Você se incomoda com o título de musa da Copa? Acredita que ele seja pertinente nos tempos de hoje, em que as mulheres querem fugir de estereótipos associados à beleza?
Eu não me incomodo com esse título de musa porque nunca o associei à beleza. Senti ali que era uma troca. Trabalhei intensamente todos os dias, acordando cedo e indo dormir depois que todos os jogadores, provavelmente. Vi como um reconhecimento ao meu trabalho. Os jogadores faziam muitas perguntas sobre os meus filhos, como era estar longe deles. Porque era uma sensação que eles viviam também, de estar longe das famílias. Eu sentia uma integração. Fui muito mais uma parceira. Nunca encarei como um título de beleza.
Você sente falta dessa cobertura mais hard news?
Eu estou vivendo um momento muito diferente na minha vida profissional. Quando eu fiz essa virada lá no fim de 2011 foi muito consciente. Eu adoro a cobertura do dia a dia, gosto de assistir, mas para mim já passou. Não é o que desejo mais para a minha vida. Eu fiz uma transição muito consistente, coerente e segura. Fico ainda fascinada com o trabalho dos meus amigos todos, entendo perfeitamente o que está acontecendo e sei o quanto está sendo duro e importante o trabalho que cada jornalista está fazendo. Mas não é o que eu gostaria de estar fazendo neste momento. Vou ficar muito feliz na hora em que o programa voltar, para que eu possa ajudar de um outro jeito. Não mais no noticiário diário, mas com outros tipos de reflexão para ajudar as pessoas a passarem por esse período de quarentena.
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