'Seinfeld' faz 25 anos como referência de humor banal
Há 25 anos, o diálogo entre dois amigos sobre o botão "muito alto" na camisa nova de um deles dava a largada para uma série "sobre o nada", que se tornaria uma das sitcoms mais populares e lucrativas da TV americana.
A camisa era do neurótico e "loser" George Costanza, o comentário, do sarcástico comediante Jerry Seinfeld, uma versão não tão fictícia do Seinfeld real, criador, com Larry David, da série batizada com seu nome.
Desde então, foram nove temporadas na rede NBC, 180 episódios entre 1989 e 1998 —o último deles, assistido por 76 milhões de espectadores, uma audiência comparável, na época, à do Super Bowl.
Mesmo depois de sair do ar, a série continuou gerando dinheiro, com receitas de retransmissão que somavam mais de US$ 3 bilhões (R$ 6,7 bilhões) até 2013.
Para o crítico da revista "New York" Matt Zoller Seitz, a série "inspirou gerações de roteiristas" e influenciou séries como "Friends", "30 Rock" e até mesmo "Família Soprano" por sua inquietude com formato e ritmo, e a obsessão pelo "meta-humor".
'NO SOUP FOR YOU'
Expressões da série se incorporaram ao vocabulário dos americanos, e não raro se vê alguém clamando por "serenity now" (serenidade agora), mantra antiestresse do pai de George, ou negando pedidos com "no soup for you" (sem sopa para você), bordão do tirano da sopa nova-iorquino inspirado numa figura real.
"A série continua popular porque seu humor e principal mote —pessoas banais falando sobre banalidades— não envelhecem", diz Howard Rosenberg, crítico de TV do "Los Angeles Times" por 25 anos.
"Raramente houve um elenco de comédia tão talentoso e integrado com o texto. Os atores criavam sem perder a sintonia com o que era escrito para seus personagens."
O fracasso de projetos de Jason Alexander (George) e Michael Richardson (Kramer) desde o fim de "Seinfeld", para Rosenberg, se justifica pela falta de bons roteiros. Julia Louis-Dreyfus (Elaine) acertou com "Veep", em que faz uma vice-presidente fictícia dos EUA, enquanto Seinfeld investiu num formato para a internet, com seu "Comedians in Cars Getting Coffee".
Em "Seinfeld", os personagens em si -quatro amigos de caráter duvidoso, sempre enrolados em situações adversas do cotidiano- conquistam por se parecer mais com o telespectador do que muitos gostariam de reconhecer.
"Como roteiristas, David e Seinfeld tinham o dom de fazer com que nos identificássemos com os personagens em situações desconfortáveis e hilárias", diz William Irwin, autor de "Seinfeld e Filosofia: um Livro Sobre Tudo e Nada".
Numa cena do episódio final sintomática sobre a total incapacidade dos personagens em aprender "lições" com seus erros durante nove temporadas, Jerry faz um comentário sobre como a camisa de George tem o último botão "muito alto". Um intrigado George responde com uma pergunta: "Já não tivemos essa conversa antes?".
VIDA PÓS-SEINFELD
Por onde andam os quatro principais atores da série
MELHORES MOMENTOS
Relembre os episódios clássicos
'The Chinese Restaurant' - 2ª temp.
Uma espera de "5, 10 minutos" num restaurante chinês se transforma em todo um episódio de frustrações para Jerry, Elaine e George
'The Alternate Side' - 3ª temp.
Kramer consegue uma ponta num filme de Woody Allen e põe tudo a perder com apenas uma fala: "These pretzels are making me thirsty" (Esses pretzels estão me deixando com sede)
'The Bubble Boy' - 4ª temp.
O que poderia acontecer quando George chega antes à casa de um fã de Jerry que vive numa "bolha" de plástico por causa de uma doença?
'The Contest' - 4ª temp.
Os quatro personagens resolvem fazer uma aposta: quem consegue ficar por mais tempo sem se masturbar. O episódio quase foi censurado pela NBC
'The Puffy Shirt' - 5ª temp.
Kramer começa a namorar estilista que fala muito baixo, causando confusão nos diálogos —como o que resulta num acordo nada favorável para Jerry
'The Soup Nazi' - 7ª temp.
Vendedor de sopa "tirano" impõe duras regras aos clientes; quem não segue é banido do local com um "No soup for you!" (Sem sopa para você!)
'The Yada Yada' - 8ª temp.
George se incomoda quando seu affair começa a substituir as mais intrigantes partes das histórias por um "Yada yada yada"
'The Strike' - 9ª temp.
Pai de George envolve a todos no "Festivus", celebração criada por ele há anos como alternativa ao comercial e religioso Natal
'The Puerto Rican Day' - 9ª temp.
Em pleno domingo, os quatro amigos se veem presos no trânsito por conta da parada do Dia de Porto Rico em Nova York
'The Serenity Now' - 9ª temp.
O mantra "Serenity Now" (serenidade agora), adotado pelo pai de George para lidar com situações de estresse, ganha um novo adepto: Kramer
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