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Brasileiro bicampeão mundial de Just Dance largou o emprego para se profissionalizar no jogo

Diegho San está no Game XP para comentar campeonato carioca

Diegho San, bicampeão de Just Dance
Diegho San, bicampeão de Just Dance - Divulgação/Ubisoft
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Letícia Naísa
Rio de Janeiro

Nascido em Nova Iguaçu (RJ), Diegho San, 28, tem uma profissão incomum: jogador profissional de Just Dance. E não é qualquer jogador, ele é bicampeão da Copa do Mundo do jogo de dança. O que começou como uma brincadeira virou coisa séria.

Jogador desde o lançamento do jogo, em 2009, San se tornou profissional em 2014, ano do primeiro torneio mundial. Largou o emprego para se dedicar e acabou campeão naquele ano e no seguinte.

Competiu até ano passado, quando aposentou a sapatilha para se dedicar à divulgação e promoção do jogo pelo mundo. Neste final de semana, ele comenta a competição de Just Dance que acontece no Game XP, que definirá o campeão carioca, que vai competir no torneio brasileiro. 

Segundo a Ubisoft, desenvolvedora do jogo, o Brasil é o terceiro país com maior número de vendas de Just Dance e os brasileiros são os que mais jogam —mais de 15 milhões já jogaram. Por causa do sucesso, a próxima final da Copa do Mundo de Just Dance, que acontecerá em 2019, será no Brasil.

Desde sua primeira versão, três artistas brasileiros também já tiveram músicas coreografadas para o jogo: “Dançando”, de Ivete Sangalo, “Bang”, de Anitta, e a mais recente “Bum Bum Tam Tam”, de MC Fioti, que está no Just Dance 2019, que será lançado em outubro.

Fã de videogame mais do que de dança, Diegho San contou ao F5 como o jogo se tornou sua profissão.

 

Como o Just Dance virou sua profissão?
Então, eu não dançava quando ganhei o jogo em 2009. Duas amigas me presentearam com o Just Dance, elas acharam a minha cara, não sei por quê. Na verdade, eu ia para festas e dormia. Acredito que elas tenham me dado o jogo para eu aprender a dançar e dançar com elas. Foi aí que eu me apaixonei. Era um jogo de dança totalmente inovador. Antigamente tinha aquele tapete em que você dançava e agora evoluiu, você tem que imitar um professor. Foi uma revolução. Da quarta edição em diante, já era o jogo de dança mais famoso do mundo. No Just Dance 2014, a Ubisoft teve essa ideia de criar um torneio mundial e foi aí que eu me classifiquei em primeiro lugar no mundo. Eu jogava da minha casa online e ganhei passagem e hospedagem para Paris.

Você dançava muito? Como você se classificou?
Nessa época, eu trabalhava numa metalúrgica de excelente qualidade e não conseguia chegar no ranking dos 10 melhores. Eu estava muito ruim mesmo, e meus amigos começaram a falar “você não era o melhor?” quando eu não ganhava. Aquilo foi me irritando, aquelas postagens no Facebook. Larguei o emprego e comecei a treinar. Em uma semana, eu treinei a semana toda e comecei a participar das classificatórias online, todos os domingos, oito domingos e três sessões por cada. A primeira sessão era das 4h às 5h, depois das 9h às 10h e das 14h às 15h. Eu participava de todas. Então, foi uma coisa que deu trabalho, treinei bastante, foi muita força de vontade. Minha mãe sempre me apoiou desde o início. Eu passei em primeiro lugar na última sessão.

Por que você decidiu largar seu emprego?
Não sei. Não sei se é destino ou se não é… às vezes eu paro e penso o quanto a minha vida mudou totalmente, porque todos os amigos que eu tenho hoje foi graças ao Just Dance. Então, realmente, eu não sei porque eu fiz isso.

Qual foi a reação das pessoas quando você resolveu largar seu emprego?
A minha mãe me apoiou. Os meus amigos não chegaram a comentar sobre isso. Era uma coisa que eu queria fazer, eu tinha decidido, então larguei e caí dentro. Eu queria provar que conseguia ganhar. Nunca me senti o melhor do mundo, mas eu tive a chance, consegui chegar lá e ganhei. Com certeza tem gente não teve oportunidade ou não tem oportunidade, mas muita gente treina pelo YouTube. Eu tive a chance de ganhar e fiquei muito feliz.

Como foi chegar em Paris e jogar lá?
Eu nem ia. Quando eu ganhei, não ia. Fiquei com medo, eu nunca tinha viajado para fora e não falava inglês. Minha família me apoiou e conversou muito comigo para eu ir. Cheguei lá e não pedi táxi nem nada, o hotel era muito longe do aeroporto e eu morria de medo de pegar um táxi e alguém me levar por um caminho diferente, eu assistia muito filme. Eu peguei e imprimi um mapa e fui sozinho, sem falar nada, sem conhecer nada. Me virei e cheguei no hotel, e lá eu conversava com as pessoas pelo Google Tradutor. Digitava no telefone e ele falava o que eu queria. Eu me tornei o primeiro campeão mundial e a sensação foi inacreditável. Eu não imaginava ganhar. A final foi contra um outro brasileiro e ele era conhecido no YouTube, então eu realmente achei que não tinha chance nenhuma, e eu ganhei graças ao público, que votou e foi decisivo. No ano seguinte eu fui convidado pela empresa para defender o meu título contra os dezessete melhores do mundo e me tornei o bicampeão mundial

Você achava que ia ganhar?
Não. Era uma pressão tão forte que eu pensava ser impossível ganhar duas vezes. Todo mundo mandando mensagem, me dizendo que eu tinha que ganhar. Chorei muito e o pessoal tentando me animar, contando piada em francês, algumas coisas eu entendia e outras não. Eu não podia subir no palco chorando, mas era uma emoção muito grande, porque era um sonho. Você tá lá no palco e passa você no campeonato anterior, foi muito mais emocionante do que o primeiro.

E depois desse campeonato o que aconteceu?
Depois do campeonato, no ano de 2016 não teve torneio mundial. 2017 eu fui convidado, não ia participar mas eu fui convidado de novo. Eles mudaram as músicas, colocaram umas mais animadas e me convenceram de ir, e eu fui. Não me tornei o campeão, não peguei o tri. Em 2018 não participei, já teve no início do ano, e 2019 também não.

Como era a sua rotina de treino do Just Dance?
Tive que mudar a minha alimentação, tinha uma personal, fazia academia para ganhar condicionamento físico, porque a gente dançava várias músicas seguidas, só tinha tempo de beber uma água. Tinha que me alimentar super bem. Eu acordava, tomava banho, tomava o meu café muito bem produzido e começava a treinar. Treinar, treinar, treinar… Quando eu cansava, eu sentava, pegava o YouTube e treinava por ele, colocando em slow motion e vendo os detalhes de pé, de mão, e depois que eu descansava eu treinava de novo e tentava encaixar a pontuação na dança.

Você gostava de videogame?
Muito. Sou nintendista. Sempre tive videogame, era aquele menininho caseiro que ficava em casa só jogando, não era de ficar na rua. Tive Nintendinho, Super Nintendo, Nintendo 64. Todos os videogames da Nintendo tenho até hoje. Jogava Mario, Donkey Kong, Zelda, Kirby, os mais famosos.

Você já pensou em se profissionalizar em outro jogo que não o Just Dance?
Olha, pensei sim. Tem torneios mundiais de Splatoon 2, da Nintendo, Mario Kart, também. São jogos que eu sou muito apaixonado. Quando eu não estou jogando o Just Dance, jogo esses. Então já pensei bastante. Caso meu tempo acabe com o Just Dance, penso em tentar um outro jogo, que é o que eu amo. Talvez Mario Kart e depois Splatoon.

Você não compete mais, mas você ainda trabalha com o Just Dance?
Sim, trabalho com o Just Dance. Estou em parceria com o Museu do Videogame. Meu contrato com a Ubisoft já acabou na virada do ano e eu fechei essa parceria.No final do ano, vou pro sul da França para participar de um torneio não oficial de Just Dance, fui convidado para chamar atenção para o evento.

O que uma pessoa precisa pra competir no Just Dance?
O mais importante, ao meu ver, é não “se achar”. É não querer ser uma pessoa melhor do que a outra. Eu acho que o Just Dance é um jogo completamente diferente, é um jogo pra todos. Acho que o mais importante é você se divertir e fazer amigos, porque um ajuda o outro na competição e isso é o mais importante. Eu não consegui me tornar bicampeão mundial sozinho, meus amigos me ajudavam. O maior desafio acho que é o medo. A gente tá lá no palco e isso influencia muito. Se você gosta de Just Dance, é apenas você ir lá, se divertir e dançar, fazer o que você gosta e seja o que Deus quiser.

Hoje você vai apresentar o campeonato que vai definir o campeão carioca. Como é estar do outro lado?
Eu fico nervoso do mesmo jeito, porque todos são meus amigos e eu não posso torcer pra um, tenho que torcer pra todos. E eu fico nervoso, porque eu sei onde pontua e onde não pontua, então quando eles fazem alguma coisa errada eu fico nervoso. Eles me pedem dicas. Ano passado eu estive no Rock in Rio e também fui comentarista da final que tornou um campeão carioca aqui. É difícil [comentar], porque eu não estou acostumado, sou muito tímido para essas coisas, mas estou treinando. Está virando algo do meu dia a dia. E como eles são meus amigos, eu já sei as feições.

Você tem uma música favorita?
Difícil... Acho que a versão alternativa de “Animals”, do Martin Garrix, porque eles dedicaram a coreografia alternativa a mim, que é uma coreografia difícil, então eu acabei me apaixonando.

Você já criou coreografias?
Sim. Eu tenho duas no Just Dance Unlimited. Uma é de “Turn Up The Love”, do Far East Movement, e outra de “This Is How We Do”, da Katy Perry. Foi muito difícil criar, porque eu danço, não sei criar, então pedi ajuda ao coreógrafo da Ubisoft de Paris. Na primeira vez, eles me deram uma lista de 10 músicas e eu pude escolher. Na segunda, pedi para fazer de uma música da Katy Perry, porque eu sou muito fã dela.

Qual o diferencial do Just Dance 2019?
Todos os fãs já perceberam que investiram bastante em músicas mais conhecidas e da preferência do público, porque existe a opção de solicitar música e enviar para eles.
 

*A reportagem viajou a convite da organização do evento

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