Fãs acampam e até dormem embaixo de caminhão para comprar moletom de Taylor Swift
Vendida antes de shows, peça de roupa comum ganhou status de objeto cult na turnê Eras
Vocês já ouviram aquela sobre as mulheres que se esconderam a noite inteira embaixo de um caminhão?
Os rumores voavam, nos arredores do Raymond James Stadium, mais de 36 horas antes de Taylor Swift subir ao palco da arena para 75 mil espectadores na costa oeste da Flórida.
Passavam de pessoa a pessoa, como em um jogo de telefone sem fio. Mas as filas diante do estádio na semana passada eram formadas por fãs de todas as idades, dispostos a suportar horas de desconforto para comprar lembranças ligadas à turnê Eras de Swift. Muitos deles chegaram bem antes do amanhecer.
Quando a notícia de que certos artigos muito procurados poderiam estar esgotados começou a se espalhar, alguns "swifties" reclamaram de revendedores que tinham comprado malas cheias de camisetas e moletons em outras paradas da turnê. Também houve rumores de que algumas mulheres haviam passado a noite debaixo de um caminhão de mercadorias.
Isso acabou sendo verdade. Uma das mulheres, Larisa Roberts, tinha as selfies para provar —fotos nada nítidas que a mostravam, com uma amiga, se abrigando da chuva durante horas sob o caminhão oficial da turnê Eras.
"Não havia ninguém aqui", disse Roberts, decoradora de interiores em Trinity, Flórida, sobre a cena do lado de fora do estádio quando ela chegou, entre as 2h e as 3h da quarta-feira (19). Ela acrescentou que planejava comprar moletons para suas filhas, Lilly e Daisy.
Shirley Vogler, enfermeira em Tampa, disse que chegou ao caminhão da Eras às 22h da noite anterior. Como outras pessoas que chegaram cedo, ela foi levada de um lugar para outro por guardas de segurança nas horas chuvosas antes do amanhecer. Às 5h45, ela estava entre as centenas de pessoas acampadas em uma calçada ao lado do West Dr. Martin Luther King Jr. Boulevard, uma avenida com seis pistas. Vogler, 31, estava sentada no chão perto da frente do grupo, conversando com outras duas mulheres com quem havia feito amizade.
Os fãs poderiam comprar mercadorias dentro do estádio em cada uma das três noites em que Swift se apresentaria na arena do Tampa Bay Buccaneers. Então, por que se preocupar com esperar a noite toda na chuva? Vogler, que tinha ingressos para um show, disse que era por causa do que ela tinha visto nas redes sociais –especificamente, "os tiktoks sobre como as filas para compra de produtos e o trânsito estavam ruins em todas as arenas".
Vários outros fãs mencionaram ter visto postagens de Bailey McKnight-Howard, uma das integrantes da dupla de influenciadoras gêmeas @brooklynandbailey, cuja conta no Instagram tem quase nove milhões de seguidores. Alguns dias antes, McKnight-Howard havia postado fotos que a mostravam, aguardando do lado de fora do AT&T Stadium, em Arlington, Texas.
Ela também posou com um moletom de gola redonda azul recém-comprado, o item mais procurado pelos fãs. Quase todas as pessoas do lado de fora do estádio na manhã de quarta-feira tentavam comprar um, dois, ou quantos deles estivessem autorizadas a levar.
Não havia nada chamativo na peça. O moletom não tem lantejoulas, bordados ou bolsos ocultos. Era apenas um moletom comum de uso cotidiano, com o nome de Swift e "Eras Tour" impressos na frente e as datas da turnê e os títulos dos álbuns da cantora nas costas. Se você fechasse os olhos e conjurasse um moletom azul de gola redonda com algo escrito, sua imagem mental provavelmente corresponderia a esse produto muito procurado.
Uma coisa que o tornava especial era o fato de que, ao contrário de alguns outros suvenires da turnê, não estava disponível na seção "merch" do site taylorswift.com. Era também, notavelmente, uma das raras peças à venda naquele dia sem o rosto de Swift impresso. Nas semanas transcorridas desde o início da turnê Eras, os fãs elevaram essa peça de roupa comum ao status de objeto cult.
"Todo ‘Swiftie’ quer o moletom azul", afirmou a professora Debbie Losee, 60, que disse estar esperando na fila em nome de sua filha.
A oferta aparentemente limitada tornava a peça ainda mais valorizada. "O preço de revenda dos moletons é de US$ 300 [mais de R$ 1.500], Jake!", uma fã foi ouvida gritando em seu telefone. Ela estava certa. O moletom está disponível no eBay por mais de quatro vezes o preço de tabela de US$ 65 (menos de R$ 330).
"Tive pesadelos sobre conseguir esse moletom", disse Emily Rottkamp, 20, funcionária do Disney World. "Passei noites sem dormir."
Alyssa Misay, uma especialista em lesões corporais de Land O 'Lakes, Flórida, entrou na fila antes das 5h30. Ela disse que sua sobrinha adolescente tinha lhe dado instruções rigorosas: "O moletom, o moletom!"
"A mídia social faz dessas coisas algo maior do que são —tipo, quase inatingíveis", disse Misay, 36. "Tipo, se você não tem um moletom, ninguém na escola te acha cool."
Perto dali, Venisha Jardin, aluna de segundo ano da Wiregrass Ranch High School em Wesley Chapel, Flórida, usava um poncho de plástico com capuz para protegê-la da chuva. Nas horas antes do nascer do sol, o brilho de seu telefone iluminava a área ao seu redor. "Estou perdendo a escola por causa disso", ela disse. Sua mãe, Chrys, estava sentada em um carro estacionado nas redondezas.
"Eu pensei comigo mesma que não havia como eu perder os produtos apenas porque tinha de ir à escola", disse Jardin, descrevendo como ela conseguiu convencer seus pais. Ela acrescentou que planejava comprar pelo menos cinco itens, um dos quais você certamente pode adivinhar.
Apesar do frio no ar e da garoa constante, o ânimo estava alto. Gina Delano, 27, andava de um lado para o outro na calçada dizendo às pessoas que tinha uma geladeirinha cheia de petiscos e bebidas grátis. Vestindo um cardigã que esteve à venda no taylorswift.com na época de "Folklore" (álbum de 2020 da cantora que incluía a canção "Cardigan"), Delano disse que tinha viajado de sua casa, perto de Buffalo, Nova York.
"O clima definitivamente poderia estar melhor", ela disse, "mas se é isso que é preciso para conseguir mercadorias, então é isso que faremos".
Em outro ponto da fila, Jess Montgomery, uma fotógrafa de casamentos de Dade City, Flórida, embalava sua bebê de sete semanas, Denver, enrolada em um cobertor. Ao lado dela estava sua sobrinha de 11 anos. "Farei 40 anos no ano que vem", disse Montgomery, "e quando ela tiver a minha idade, quero que olhe para trás e se lembre de que a tia era superlegal". Ela acrescentou que havia falhado em suas tentativas de conseguir ingressos para qualquer um dos três shows em Tampa, cujos ingressos estão esgotados.
As pessoas do lado de fora do estádio incluíam adolescentes que nunca conheceram um mundo em que Swift não fosse uma superestrela internacional, e mulheres que cresceram ao lado da cantora de 33 anos. As horas de espera deram a elas a chance de se sentirem em casa entre centenas de outras pessoas que compartilhavam do amor pelas canções de Swift sobre valentões do ensino médio e primeiros amores, sobre desgosto e perda.
"O pior tipo de pessoa é aquele que faz alguém se sentir mal, burro ou estúpido por estar animado com alguma coisa", disse Swift em uma entrevista em 2019. É uma frase que seus fãs costumam citar nas redes sociais, em resposta as pessoas que as hostilizam.
Pouco depois das 7h, Matt Langel, morador de Tampa, estava sentado na calçada usando uma camisa do Pittsburgh Steelers, enquanto sua filha, Alexis, filmava a cena para sua mãe. A música de Swift tornou-se uma tábua de salvação para a família, disse Matt Langel, acrescentando que sua mulher era deficiente. "Minha mulher, desde que está acamada, vem se aguentando praticamente por causa de Taylor", afirmou.
Às 8h, duas horas antes do início da venda de mercadorias, os funcionários do estádio abriram o estacionamento. Alguns torcedores tentaram respeitar a fila existente enquanto outros correram para a frente. Como muitas pessoas estavam esperando em locais diferentes, houve confusão. Os fãs que tentaram respeitar as filas que existiam até ali terminaram perdendo o lugar.
"Todo mundo começou a correr de todas as direções", disse Roberts, a mulher que estava debaixo do caminhão, depois de conseguir garantir uma vaga perto da frente da fila.
Mais atrás, algumas pessoas brigavam com aqueles que tentavam furar a fila. "Para o fim da fila ou vou ter que colocar você na cadeia", ouve-se um policial de Tampa dizendo em um vídeo da cena gravado por um fã e visto pelo The New York Times. Algumas pessoas aplaudiram quando diversos dos supostos fura-filas obedeceram à sua ordem.
Perto das 10h, equipes de notícias da TV local apareceram para entrevistar os fãs, e um helicóptero zumbia não muito longe do caminhão de mercadorias. Ventos fortes açoitavam o terreno, levantando poeira. Lágrimas escorriam pelo rosto de Haylee Lewis.
"Acho que acampar durante a noite é um pouco demais", disse Lewis, 21, universitária que vive em Orlando. A fila já tinha mais de mil pessoas quando ela chegou, às 8h30, segundo ela. "Talvez para comprar ingressos eu possa entender, mas para as mercadorias é realmente insano", disse.
Na verdade havia dois caminhões vendendo mercadorias. Ao lado do caminhão da turnê, estampado com imagens do rosto de Swift, havia uma caminhonete preta sem outra identificação que não uma placa dizendo "COOL STUFF" em grandes letras vermelhas. Os dois veículos vendiam os mesmos itens.
Dentro dos caminhões, vendedores se preparavam para a correria, desempacotando caixas com camisetas, sacolas, bastões de luz e cartazes. Eles usavam camisetas pretas da Eras Tour, as mesmas que seriam vendidas por US$ 45 cada —cerca de R$ 230 (online, alguns fãs reclamaram que certas camisas desbotam visivelmente após a lavagem). Havia uma regra para o dia: um máximo dois moletons azuis de gola redonda por cliente.
Às 10h, a fila avançou. Um par de AirPods voou no ar e pousou no chão, sem que o dono aparentemente se desse conta. As coisas progrediam lentamente à medida que os fãs que chegavam à frente da fila pediam para ver diversos tamanhos e ponderavam suas opções. O clima era tenso, mas jovial.
Menos de uma hora mais tarde, a vibração mudou quando circulou a notícia de que os moletons tão procurados haviam se esgotado. A fã Anna Avgoustis, 26, conseguiu um dos últimos.
"Quando cheguei à frente, eles estavam tirando o moletom da parede", ela disse. "E eu meio que pedi: ‘Por favor, me dê o último. Faço qualquer coisa por você. Trago café para vocês!’." Algumas horas mais tarde, fiel à sua palavra, ela voltou com cafés para a equipe de vendas.
Kristi Kall, 38, e sua filha, Kaylee, 11, disseram que tentariam comprar um moletom no show. "Eu só gostaria que eles tivessem trazido um pouco mais, porque sabiam que era isso que todos queriam", disse Kall.
"Estou um pouco chateada", disse Kaylee, que em vez do moletom comprou uma garrafa de água com o logotipo da Eras Tour.
À tarde, Laura Gavagan, 33, uma fã vinda de Baltimore e que tinha chegado direto do aeroporto, entrou na fila do lado de fora do caminhão, com sua mala rolando atrás dela. "Estou recebendo alguns olhares", ela disse.
Jaclyn Quinn, professora de inglês no ensino médio em Joliet, Illinois, disse que o trabalho de Swift foi útil em suas aulas. "Usamos ‘The Man’ para ensinar sobre lentes críticas e falar sobre as lentes feministas ante as lentes ‘genderqueer’", ela disse. "Usamos a música ‘Bad Blood’, de Swift, para falar sobre metáforas". Quinn comprou uma tapeçaria de parede da Eras Tour para sua sala de aula.
As 17h estavam se aproximando, e os vendedores começaram a arrumar os caminhões e a tirar as camisetas da turnê que vestiam durante o trabalho. Quando perguntamos se eles ficariam com as camisetas que usaram naquele dia, um dos trabalhadores disse: "Não". Em vez disso, eles as dobraram e as devolveram às pilhas para serem vendidas aos fãs no dia seguinte.
"Isso não é nojento?" disse o vendedor. " Mas não diga nada."
Tradução de Paulo Migliacci
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