Café citado por Harry Styles em música vira 'ponto de peregrinação' de fãs do cantor
Tempo de espera por uma mesa girava em torno de duas a três horas em finais de semana
Às 9h30 de uma quinta-feira, os Harrys começaram a chegar ao Beachwood Cafe. Mulheres jovens usando extensões de cabelo em tons de neon, casacos de crochê multicoloridos e camisas estampadas com imagens de cerejas, girassóis e da palavra "agradável" desembarcam de uma frota de carros alugados e veículos da Uber. Às 10h30, o café, um pequeno estabelecimento familiar instalado desde a década de 1970 no coração do Beachwood Canyon, em Los Angeles, tinha uma fila de espera de 30 minutos por uma mesa, e uma legião de meninas adolescentes se aglomerava diante da casa para fotografar sua porta azul.
Quem são os Harrys? São os fãs ardorosos de Harry Styles, e hordas deles, desde dezembro de 2019, vêm fazendo a peregrinação ao Beachwood Cafe, um local alegre que oferece um cardápio adequado para todas as horas do dia, instalado em uma pracinha de bairro. Foi naquele mês que o superastro pop fez uma breve menção ao local na letra de sua canção "Falling": "E o café acabou no Beachwood Café", ele cantou. Aquele verso –que os estudiosos de Styles acreditam se referir a Camille Rowe, uma ex-namorada do cantor que no passado morou no Beachwood Canyon– terminou funcionando como uma espécie de bat-sinal para os fãs.
"Eu simplesmente achei que vir aqui completaria toda a experiência Harry Styles", disse Caysey Gossweiler, 27, que viajou de Maryland para assistir a um dos três shows que Styles tinha marcados para o Kia Forum naquele final de semana do fim de janeiro.
"Chega a causar pânico: basta pensar nisso e eu quase evaporo", disse Noelle Jay, 26, sobre a experiência de estar no mesmo espaço em que Styles uma vez comeu ovos. "Ele é como um deus", acrescentou sua prima Mia Tucci, 17, que usa cabelos verdes reluzentes. "Ele é como a minha pessoa de conforto, minha luz, minha inspiração, tudo isso", completou Jay.
Lá perto, Nathan Freeman, 26, e sua mulher, Shannon Freeman, 25, estavam fotografando Taylor Anderson e Alyson Johnston –as duas com 20 anos, universitárias do Oregon— a quem tinham acabado de conhecer. "Nós estávamos tentando decidir onde tomar café da manhã –e Harry nos disse aonde ir!", disse Nathan Freeman em tom alegre.
O casal, que escolheu modelinhos combinados, com tops de mangas cortadas e jeans boca de sino, como figurino para assistir ao show no Kia Forum, tinha passado o dia anterior em Sycamore Cove Beach, Malibu, onde, segundo os fãs, Styles gravou os vídeos de "Watermelon Sugar" e de "What Makes You Beautiful", uma canção da banda One Direction.
"Ela correu, gritou, se comportou como uma completa fãzoca", disse Nathan Freeman, descrevendo o comportamento de sua mulher ao chegar à praia de Malibu. "E eu disse que, ah, adorava aquele momento para ela", acrescentou Freeman com um gritinho.
Shannon Freeman disse que admirava Styles pela sua gentileza. "Nunca o vi envolvido em qualquer escândalo —o que é espantoso."
Comendo torradas com avocado em uma mesa do lado de dentro do café, Anderson —que durante uma viagem com sua família à costa amalfitana da Itália obrigou o pessoal todo a fazer um desvio para visitar uma rua na qual Styles filmou parte do vídeo para a canção "Golden" (ela usou o Google Maps para pesquisar sobre pontos de referência que apareciam como pano de fundo no vídeo, e identificou o local) –ofereceu sua perspectiva sobre a vida dos fãs ardorosos. "É como uma família, de muitas maneiras", ela disse. "Um bom exemplo de como o mundo online conecta as pessoas."
Johnston terminou de assistir em seu celular a um vídeo de Styles fazendo pilates, por cortesia da conta de fãs Harry Florals, e acrescentou: "Basta olhar para alguém da nossa idade e, se a pessoa estiver usando roupas em estilo Harry, é fácil saber que aquela é uma pessoa gentil, com quem você pode conversar".
"O termo que se usa é ‘Harry-coded’", disse Xoee Margolis, 26, que calçava Adidas Gazelle cor de laranja (inspirada por um modelo que Styles usa, criado pela parceria Gucci/Adidas). Ela tinha nas mãos duas sacolas com o logotipo do Beachwood Market, que ela encontrou na seção online de mercadorias do café, ao visitar o site do estabelecimento em sua casa, em Nova York. "Usar uma peça vermelho cereja é uma ode à canção 'Cherry', carregar uma sacola do Beachwood, usar sapatos ‘Harry-coded‘ –tudo faz parte de uma sintonia."
"Cometi o erro de demorar demais para começar a vender esses produtos", disse o proprietário do café, Mike Fahim. Mas quando ele descobriu contas no eBay e Etsy vendendo produtos falsificados com o logotipo de seu restaurante, ele percebeu uma oportunidade de negócios.
Quando Fahim adquiriu o café, no final de 2019, os frequentadores eram uma mistura de moradores locais, turistas a caminho do letreiro de Hollywood, que fica ali perto, participantes de almoços de negócios de estúdios cinematográficos e celebridades que frequentavam o estabelecimento discretamente. No início de 2020, a clientela começou a mudar, e agora é dominada por adolescentes e mulheres jovens da Geração Z –algumas das quais levam silhuetas de papelão de Harry em tamanho natural como adereços para suas fotos–, às vezes com a presença adicional dos pais e mães das fãs.
Fahim, que nunca tinha ouvido falar de Styles, não demorou a aceitar o vínculo. Agora, o jarro de gorjetas que fica sobre o balcão do café tem um cartaz que diz "Harry Tips Here". Um mural mostra uma imagem com as palavras "the coffee’s out", em referência ao verso da canção que fala do Beachwood Cafe. E ele e seus empregados atendem aos pedidos de fotos e respondem com alegria as perguntas dos fãs sobre o prato que Harry parece ter comido (chamado Beachwood Scramble), os lugares em que ele se acomodou (uma mesa no centro da sala e um reservado no canto direito). Uma pessoa da equipe do café monitoriza "toda a situação no Instagram e no TikTok", disse Fahim. Se Styles está na cidade —como aconteceu durante duas semanas no final do ano passado, um período que levou o café a esgotar seus estoques de mercadorias e a ter de suspender alguns itens do cardápio por falta de ingredientes—, o proprietário duplica o número de trabalhadores e a compra de provisões.
No sábado do show de Styles realizado no Kia Forum, surgiu uma fila na porta do café uma hora antes da abertura da casa. Entre os presentes estava Emma Szumowski, 21, de Massachusetts, que chegou acompanhada pelos pais, Laura e Steve McMahon. O show a que ela tinha ido na noite anterior foi a sexta vez que viu Styles. Ela tinha ingressos para mais uma apresentação em Los Angeles e duas em Palm Springs naquela semana.
"Eu entendo perfeitamente, sou um grande fã de Springsteen —comecei a acompanhá-lo em 84", disse Steve McMahon, 58, que, a pedido da filha, acordou cedo para ser o segundo na fila de espera por uma mesa.
A fila era longa, passando pela lavanderia vizinha e chegando à praça. Às 8h40, o ator Nicholas Braun, que interpreta o primo Greg em "Succession", entrou nela –parecendo ligeiramente desorientado pela presença da multidão–, mas terminou indo embora antes de uma mesa vagar.
Do outro lado da rua, Jim Krantz, 67, e Brian Burchfield, 59, moradores de Beachwood Canyon, estavam assistindo à cena, diante do edifício Hollywoodland Realty.
"As coisas aqui costumavam ser como em 'Mayberry R.F.D.' –mas agora mudaram", disse Krantz, bebendo uma caneca de chá e citando uma série derivada de "The Andy Griffith Show" que foi ao ar em 1968 –uma frase que provavelmente passaria em branco se ouvida pelas adolescentes que apontavam suas câmeras para os burritos que estavam comendo no café da manhã, no restaurante do outro lado da rua.
"Acho que é fascinante, um fenômeno social", ele acrescentou. "Mas é um pouco inconveniente quando você precisa tocar sua vida cotidiana aqui em cima."
Durante todo o final de semana, o tempo de espera por uma mesa girava em torno de duas a três horas. A certa altura, no sábado, os fregueses do café começaram a cantar "Falling", bem alto. Antes da onda de fãs de Styles, Fahim tipicamente atendia 300 fregueses, da sexta-feira ao domingo; agora, o café recebe cerca de mil pessoas por final de semana. Os moradores locais ainda vêm, mas muitas vezes resmungam sobre a espera longa e a falta de vagas para estacionar –e, quando veem filas compridas, não chegam nem perto do café.
A maioria dos fãs concorda em que não é muito provável que Styles volte ao café. Essa percepção às vezes desperta teorias de conspiração entre os fãs —será que ele mencionou o café porque sabia que isso enviaria fãs ao local, e o lugar era dolorido demais para que ele voltasse, devido à sua história romântica lá? Mas, mesmo que fosse esse o caso, "é cool imaginá-lo sentado ali, todo triste e solitário", disse Bryn Langrock, 23.
E se Styles um dia voltar a jantar no Beachwood Cafe, Fahim diz que sabe exatamente o que lhe diria: "Muito obrigado".
Tradução de Paulo Migliacci
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