Xande de Pilares retoma origens em novo disco: 'Brincadeira ficou séria'
Artista canta o lado B do que rolava no Pagode da Tia Gessy nos anos 1990
Artista canta o lado B do que rolava no Pagode da Tia Gessy nos anos 1990
Xande de Pilares, 52, ainda era adolescente quando decidiu que queria fazer samba. Mas não era só isso, ele queria marcar seu nome da história do ritmo. E foi por isso que foi morar com uma de suas tias, já que a mãe não o deixava frequentar as rodas de música que despontavam no Rio de Janeiro dos anos 1990.
Àquela altura, Xande já sabia que havia uma grande possibilidade de seguir profissionalmente no meio da música. Mas foi só quando ele entrou pela primeira vez no Pagode da tia Gessy, uma roda que acontecia no bairro carioca do Cachambi, que ele teve a certeza do que queria.
"Cada sambista tem o seu lugar, aquele local onde começa a dar seus passos. O Fundo de Quintal teve o Cacique de Ramos, e no meu caso foi o Pagode da tia Gessy onde comecei a amadurecer essa história de ser sambista. É a minha maior referência", relembra o artista.
E foi por isso que hoje, mais de 30 anos depois, Xande resolveu registrar uma homenagem às suas origens com seu mais recente disco que leva o nome da roda de samba onde começou a pedir para dar canjas e, em pouco tempo, liderava os cantos e as levadas com sambistas já consagrados.
São composições lado B e também algumas inéditas que ele escolheu para representar o momento de maior riqueza cultural que ele teve até hoje. "A escolha do repertório é o mais engraçado, pois geralmente você tem de 10 a 20 músicas, e nesse projeto eu tinha mais de 80 para escolher. Tudo começou como uma brincadeira que ficou séria", explica.
"Esse disco faz um passeio pelas minhas origens e cada canção traz algo à memória, seja um cavaco quebrado ou uma calça única que eu tinha para tocar. Era uma época em que às vezes eu guardava o almoço para jantar ou vice-versa. Isso para mim é aprendizado", define.
Passados 30 anos desde aquela época, muita coisa mudou na música. Surgiram influências novas e modas passageiras, mas nada que arriscasse o samba que Xande tanto ama. "Tem essa história de que o samba morreu, eu discordo, ele nunca vai morrer. Tem muita coisa bonita dentro do samba, mas as pessoas precisam ter a curiosidade de procurar", opina.
Xande quer fazer com que as novas gerações escutem mais samba para que surjam novos nomes no futuro. Apesar de já ter dois discos solo, o "Perseverança" e o "Esse Menino Sou Eu", e o DVD "Nos Braços do Povo, o novo disco chega de forma muito especial, pois homenageia alguém que ele ama muito.
"Quando não tinha nada era ela [Gessy] quem me dava uma cesta de Natal ou coisas para comer. Foi quem me deu a chance de comandar a primeira roda de samba depois de eu encher o saco para ter uma oportunidade. Eu tinha a necessidade que isso ficasse registrado e que não ficasse só na história contada", emenda.
Mas não é só de discos que vive Xande de Pilares. Ele estará no Dança dos Famosos, do Domingão com Huck (Globo) a partir da próxima semana. Ao aceitar o desafio de deixar o banquinho e o cavaco de lado para cair na dança, o cantor afirma que pretende se libertar de uma timidez que o acompanha desde a infância.
Segundo ele, a ideia é levar, não só os passos para o seu trabalho, mas muitas outras coisas. "Minha timidez não é só de vergonha, mas de medo de errar. Pensei em entrar para o quadro como um ponto de partida para eu me movimentar mais, gosto de samba no pé, mas me acho duro. Bem orientado posso evoluir", avalia.
O sambista lembra que grandes amigos conseguiram por meio da dança dar um upgrade em suas carreiras, como Mumuzinho, Diogo Nogueira e o próprio Péricles. "Ainda tem a confiança que a gente adquire ao ter um profissional passando a bola para a gente", destaca.
Xande conta que, desde a época de garoto, tinha a vontade de mexer o corpo. Havia muitas festas e rodas de samba em morros como o do Jacarezinho e Andaraí, no Rio de Janeiro, com músicas envolventes. Mas ele nunca pôde colocar para fora esse aspecto.
"Você aprisiona seu lado dançarino e agora é uma chance que tenho de me libertar e me jogar. Afinal, para dançar não tem idade. Feliz porque vou poder levar isso ao palco, só canto sentado, preciso levantar dessa cadeira", diverte-se.
Perfeccionista, ele garante que vai se dedicar muito para dar o máximo contra seus colegas de elenco, dentre eles Gkay, Douglas do vôlei, Gil do Vigor, Ana Furtado e Jojo Todynho. "Muita gente nunca me viu dançar, vou me dedicar não na intenção de ganhar, mas de participar bem e de ter um bom desenvolvimento", conclui.
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