Salgadinho, Chrigor e Marcio Art vivem do saudosismo com shows na Grande São Paulo
Músicos relembram sucesso dos anos 1990 e da volta do gênero
O samba e o pagode continuam se renovando por meio de uma nova geração de músicos, mas o público simplesmente não se esquece dos sucessos dos anos 1990. Menos pela qualidade musical do que pelo saudosismo.
Sucessos do Katinguelê, do Exaltasamba e do Art Popular seguem vivos, cantados em voz alta pelos fãs, em bares da Grande São Paulo. Prova de que a fórmula ainda agrada é que Salgadinho, Marcio Art e Chrigor fundaram o grupo Amigos do Pagode 90 em 2013 e nunca mais pararam de fazer shows.
Se a fama dos anos 1990 os colocava em um patamar distante dos fãs, agora o contato com o trio é mais próximo: oportunidade para quem nunca conseguiu dar um abraço em seus ídolos.
Patricia Fernanda Almeida Roberto, 35, técnica em radiologia, acompanha o trabalho de Salgadinho há 25 anos. “Sou fã dele desde os meus 13 anos. Lembro de quando a gente ia aos shows e via eles lá longe”, recorda-se Patricia, enquanto via um dos shows do trio no Adega 33, em Guarulhos, onde eles passaram a se apresentar todo mês.
Tirando fotos com Salgadinho, a fã fala do dia em que conseguiu ficar próxima do ídolo. “Quando o Salgado começou a carreira solo, em uma casa da Mooca, eu fui a um show e entrei na fila de fãs. Logo que o vi, caí no choro. Lembro de que ele estava ao lado do Arlindo Cruz, que ficou tirando sarro da minha cara”, brinca Patricia. Quando o ídolo percebeu, a abraçou. “Quanto mais ele me confortava, mais eu chorava”, recorda-se.
Para ela, os pagodes são o retrato de sua adolescência. “Acompanhei toda a carreira do Katinguelê e ouvi os discos gospel dele, mesmo não sendo evangélica.”
No mesmo show que a reportagem acompanhou, em Guarulhos, a gerente Ariane Lima, 24, ficou feliz ao ver Chrigor de perto. “Peguei a transição dele no Exaltasamba. Quando ele saiu do grupo e entrou o Thiaguinho, mas sei todas as músicas, porque o velho pagode nunca sai de moda.”
Já Patricia Luz, 39, nutricionista, foi ao show por causa de Marcio Art. “Era mais fã de Art Popular, mas sempre curti o pagode dos anos 1990.”
"Tive muitas transformações na minha vida e na minha carreira e vi que as pessoas nunca deixaram de me acompanhar. Naquela época, em que o dólar e o real eram um para um, a gente teve mais assédio. A periferia tinha condições financeiras e se sentia prestigiada por ter dinheiro para curtir um grande show”, lembra Salgadinho.
Já Chrigor rememora que demorou para fazer sucesso e que, no começo do Exalta, era fã do Salgadinho e do Marcio. "Sei o que o fã sente ao lado do seu ídolo." Os três dizem que são abordados até pelos filhos de seus fãs. “Sempre tem alguém dizendo que deve ser sido feito ao som das nossas músicas”, brinca Chrigor.
"SABIA QUE A GENTE TERIA O NOSSO PÚBLICO GARANTIDO"
O trio Amigos do Pagode 90 trabalha agora na criação de novos formatos de shows para tentar emplacar até mesmo as canções que não fizeram sucesso nos anos 1990. “Tem gente que pede músicas daquela época que não foram destaque na mídia, mas que eram especiais para mim. Morro de alegria quando isso acontece, mesmo quando eu não lembro da letra”, brinca Salgadinho.
Marcio Art diz que já passou por alguns apuros desse tipo. “Foi em uma festa de casamento, quando a noiva começou a cantar uma música de que eu não lembrava de jeito nenhum”, recorda-se o artista.
Outros representantes do pagode daquela década, como Rodriguinho, ex-líder dos Travessos, também costumam fazer participações especiais nas apresentações. Alguns vídeos no YouTube mostram o trio cantando “Vento dos Areais” (Claudinho de Oliveira) e “Lucidez” (Jorge Aragão/Cleber Augusto) em formato acústico.
Enquanto planejava a sua carreira solo, o cantor Salgadinho começou a pesquisar o que estava agradando nas rádios e plataformas digitais. “Conversando com produtores, descobri que os ouvintes da madrugada pediam muitas músicas do pagode dos anos 1990. E me lembrei que o rock e o pop também tiveram a sua retomada nos anos 2000. Os Titãs se abriram para uma nova fase e o Kid Abelha retomou a carreira regravando músicas."
Uma ideia foi tomando forma até que ele tomou a iniciativa de conversar com os seus contemporâneos para criar um projeto que retomasse esses clássicos do pagode. “A gente sabia que não teria respaldo da mídia, mas que teríamos o nosso público garantido”, afirma.
Mas lembra ter sofrido preconceito musical mesmo quando estava no auge. “O rock tomou conta nos anos 1980 com letras de protesto e a gente queria entrar no mercado falando de amor. As músicas eram bem aceitas, mas não gostavam da nossa imagem e falavam isso na nossa cara”, diz o ex-líder do Katinguelê.
Comentários
Ver todos os comentários