Factoides

HUMOR: O que aprendi com as "redeçociau"

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"Redeçociau" está na moda, o mundo aplaudiu, é um barato, é um sucesso dentro e fora do Brasil. Já escrevi aqui que, se não fossem elas, eu jamais teria aprendido que gay é quem gosta de cupcake e frozen yogurt -- do mesmo modo, não faria ideia de quem está no reality show da vez nem da cor da jaqueta do Faustão. E o que seria do meu café da manhã sem a polêmica do dia, sempre mais crocante e nutritiva que sucrilhos?

Mas essas informações fundamentais para a minha vida são -- atenção para a expressão inédita -- apenas a ponta do iceberg. Neste texto vou tentar explicar por que você, que não está no Twitter nem no Facebook (ou já esteve e saiu), será uma pessoa melhor se cair nessas redes. E por melhor quero dizer MUITO melhor: um Super-Homem, uma Mulher Maravilha, uma versão anabolizada de você mesmo. Vamos lá:

1. Twitter e Facebook não são simplesmente um palquinho e um microfone de stand-up para milhões de pessoas. Eles colocam você à direita de Deus Pai Todo-Poderoso, no melhor camarote possível para vir a julgar os vivos e os mortos. E nem precisa rolar crucificação (que deve doer) com ressurreição depois. É lindo.

2. Todas aquelas biografias heroicas de gente perseguida pela Inquisição, pela KGB, por ditaduras etc. agora estão ao seu alcance sem que você precise mover o traseirinho da poltrona. Na condição de pessoa mais especial e instigante DO MUNDO, é óbvio que você é perseguido pelas inimigas, mas ao mesmo tempo impulsionado pela força da inveja alheia (é pura física: velocidade do sucesso = no mínimo 2 X a força da inveja dozotro) e supera todos os obstáculos. Como as pessoas não dão a mínima, ninguém vai nem aparecer pra dizer que não lhe dá a mínima, e assim a roda do autoengano continua girando suavemente.

3. Nenhuma paisagem -- nem a baía de Guanabara num dia de sol, nem Paris na primavera, nem aqueles cenários das fotos da "National Geographic" -- pode ser mais interessante que a sua cara. Quanto mais publicada melhor: inunde o Instagram com ela, soterre o Facebook, faça a internet inteira virar personagem de "Quero Ser John Malkovich". Com você, que é muito mais gat@ que o Malkovich, no papel-título.

4. Mostrar 700 fotos da sua viagem para os amigos, se você é um dos amigos, é um saco. Mas se torna automaticamente muito legal quando as mesmas 700 fotos são despejadas no Facebook, para que os seus 7.000 amigos (90% dos quais jamais vistos em pessoa) fiquem bastante cientes de que você VIAJA.

5. E, se você tem uma coluna em algum site, pode usar as "redeçociau" pra esfregar o texto na cara dos leitores do mesmo jeito que o Zé Celso esfrega o TEATRO na cara da plateia lá no Oficina. Evoé!

Crédito: Reprodução/Facebook/Mídia Ninja É proibido proibir, mas também é proibido vandalizar a biografia dos outros. OU NÃO

O compositor Caetano Veloso deu seu pitaco sobre a polêmica das biografias às margens da baía de Guanabaaaaara. Basicamente, disse que é um cara mais libertário que vocês aí, mas a favor da censura prévia ao trabalho dos biógrafos (ou, ahn, "entende as razões" dela). Ou seja, usou cerca de 4.500 caracteres (é, eu fiz o Word contar pra mim) pra escrever um gigantesco OU NÃO -- e depois ainda reclama que "ou não" é coisa do Walter Franco. Aquele ditado "não se pode comer o bolo e, ao mesmo tempo, guardá-lo" é coisa de inglês sem imaginação -- DIALÉTICA tropicalista é outro nível.


Outro assunto da semana que passou foi o tal vídeo da pastora que disse ter ido 15 vezes ao inferno. E pensar que Dante Alighieri foi uma vez só, mas voltou com a "Divina Comédia". Ê, mundão decadente.


E a classe média continua sendo o saco de pancadas mais amado do Brasil. O caso mais recente foi o de uma moça escritora que, num texto, fez boquinha de nojo para certos hábitos jecas da dita classe média, como se servir de amendoim no avião e pedir no supermercado cinco pães bem clarinhos (confesso que não entendi bem esse último, mas deve ser porque pedir pão clarinho certamente é coisa de racista enrustido).

É o tipo de coisa em que todos cairiam de pau -- com razão -- se o alvo da generalização fossem os pobres, mas é só pobre passar a viver um pouquinho melhor que tá liberado. Funciona assim, acho: não fale mal da elite porque ela pode te financiar (afinal, o fato de você ser MORALMENTE SUPERIOR não se reflete na sua conta bancária) nem fale mal dos pobres porque sua carteirinha de progressista pode ser cassada. E aproveite pra bater na classe média enquanto a camada do bolo entre os ricaços e os miseráveis não vira farelo.


RUY GOIABA ama as redeçociau, o Zé Celso, o Caetano, a classe média e a baía de Guanabaaaaara, não necessariamente nessa ordem. Odeia azeitona, falsidade e a obra completa do Dire Straits.

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