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SPFW

'Entendi minha cicatriz como um propósito de vida', diz modelo da SPFW

Marcada por acidente, Giulia Dias fará sua estreia no evento de moda mais importante do país

Giulia Dias - Instagram/giuliadias
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São Paulo

"Quando eu sofri o acidente e a cicatriz surgiu na minha vida, eu a entendi como algo a mais. Em algum momento, eu iria descobrir o real propósito dela na minha vida". A frase é da modelo Giulia Dias, 24, que agora conta os segundos para sua estreia nas passarelas da São Paulo Fashion Week, na quinta-feira (17).

Para ela, a carreira no mundo da moda não era um sonho –embora estivesse envolvida com esse universo desde sempre. Filha de empresários de uma marca de streetwear, Giulia conta que passou a trabalhar como modelo em 2020, no início da pandemia de Covid-19. "Muito se sucedeu porque eu decidi raspar o cabelo e entrei em contato com a agência. Foi tudo de maneira muito espontânea", relembra.

Ela havia trancado as faculdades de relações internacionais e secretariado executivo, e conta que o trabalho como modelo foi um respiro para uma fase difícil e reafirmou seu objetivo de inspirar cada vez mais pessoas. "[Agora], meu objetivo é conhecer pessoas e trabalhar com marcas que tenham um significado maior", acrescenta ela, que vai desfilar na SPFW pela marca Sou de Algodão.

Giulia sofreu o acidente de carro em 2007, quando tinha 8 anos, enquanto ela e sua família estavam se mudando de Curitiba para Florianópolis. "Minha avó, que já morava em Floripa, foi buscar eu e meus irmãos enquanto meus pais ficaram esperando o caminhão de mudança. A ideia era já estarmos prontos para dormir quando eles chegassem."

No caminho, em Joinville (SC), a avó da modelo passou mal e acabou desmaiando. Sua irmã mais velha, que tinha 11 anos, puxou o freio de mão do carro para impedir que ele batesse em um caminhão, e então o veículo rodou na estrada. Giulia teve lesões no rosto e no abdômen, sua avó fraturou cinco ossos da coluna, sua irmã sofreu lesões na boca e seu irmão mais novo, que tinha 2 anos, não teve nenhum ferimento.

"Na hora do acidente estava passando um médico. Ele ouviu o barulho do acidente e foi para a BR, é o nosso anjo da guarda", conta. A modelo diz que, ao chegar no hospital, se lembra apenas de passar o telefone de uma tia para a equipe médica, já que sua irmã e avó estavam sem conseguir falar. Depois disso, ela ficou em coma induzido por 15 dias.

Giulia conta que não foi um choque ver seu rosto após o acidente, e que tem a cena guardada em sua memória. "Quando eu levantei a primeira vez após o acidente e me olhei no espelho, simplesmente balancei o ombro e fui tomar meu banho. Minhas cicatrizes nunca foram um problema para mim, eu nunca sofri com elas. Mas até hoje tem pessoas que me olham feio e fazem comentários desagradáveis."

Para ela, a visão e o sentimento de amor-próprio são frutos de sua criação e de sua base familiar. "Na adolescência, eu falava muito para as minhas amigas: ‘Se você não se amar em primeiro lugar, ninguém vai’. Eu estou muito bem com a minha vida e com quem eu sou."

Agora, ela usa as redes sociais para inspirar pessoas. "Isso mostra que o mercado precisa mudar e que as palavras ajudam muito. É com conversas que eu incentivo as pessoas a se olharem no espelho e a amarem cada pedacinho delas", completa ela, que diz receber muitos relatos de pessoas que a veem como uma inspiração.

Giulia acrescenta que almeja trabalhar para grandes marcas como Chanel, Coperni e Misci, e admira as que buscam pessoas fora do padrão estético. "Admiro também muitas modelos, mas posso citar Ashley Graham, Carlota Berotti, Lindsey Hilario, Rapha Tratske..."

Para o futuro, a modelo irá se formar em relações internacionais ("inclusive, já escrevi meu TCC e apresento em dezembro") e pretende expandir mais a carreira no mundo da moda. "Meu objetivo principal da carreira é seguir trabalhando com marcas que levem a ideia da ruptura de padrão."

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