Uniforme do Brasil para Olimpíadas é conservador e estereotipado, dizem especialistas
Experts afirmam que traje de atletas para a cerimônia de abertura é simplista e não representa diversidade da cultura brasileira; confira quais eles mais gostaram de outras delegações
A dois dias da abertura das Olimpíadas de Paris, um dos assuntos que mais vem repercutindo nas redes sociais não é a chance de medalhas nem algo relacionado às disputas esportivas. Fala-se —e muito— nos modelitos que os países vão usar na ultramidiática e inovadora cerimônia, nesta sexta-feira (26), num desfile de 6km, em barcos, ao longo do rio Sena.
Dados do Google Trends mostram que a busca pelos uniformes é o tema que mais teve interesse pelos internautas relacionado às Olimpíadas. Das 25 pesquisas em ascensão nos últimos 30 dias, 16 são sobre os uniformes da seleção brasileira e de outros países, como da Mongólia.
Os atletas nacionais se apresentarão ao mundo de saia midi branca ou calça comprida, camisetas listradas em verde e amarelo e jaquetas jeans com onças, araras e tucanos bordados às costas. Nos pés, chinelos Havaianas. As peças foram confeccionadas pela Riachuelo. A julgar pela opinião de quem entende do assunto, o Brasil parece que não está muito bem na fita.
Na avaliação de Monayna Pinheiro, consultora e professora de moda da universidade Faap (Fundação Armando Alvares Penteado), em São Paulo, faltou um olhar contemporâneo e que representasse a diversidade do país. "A proposta da fauna e flora é bem estereotipada. De maneira geral, os uniformes retratam uma ideia muito conservadora, com a saia e as cores. Precisaria trabalhar em outra proporção para ser mais contemporânea, sinto falta de estamparia, mais bordados", diz ao F5.
Para a professora, a diversidade, "quando falamos de Brasil", não foi representada. "Faltou refinamento", completa. Pontos positivos? Que los hay, los hay. Mas não são muitos. Pinheiro ressalta o trabalho feito por artesãs para a composição das peças. "As jaquetas foram produzidas com jeans reciclado, e os bordados na parte de trás foram feitos por bordadeiras do Rio Grande do Norte."
A opinião é endossada pela figurinista da Globo, Marie Salles, responsável pelas vestimentas dos atores em novelas como "Avenida Brasil" e o recente remake de "Pantanal". Para ela, o país perdeu a chance de mostrar a riqueza de cultura, diversidade e técnicas manuais.
"Muito bom usarem as bordadeiras potiguares e a arte manual, mas o Brasil não é só um país de araras, onças e tucanos. O uniforme foi simplista", afirma Salles.
A estilista Lenny Niemeyer, responsável pelo uniforme do Brasil para a abertura da Rio 2016, aborda mais um ponto: a importância de o uniforme de Olimpíadas ser atemporal, e não reproduzir algo que está na moda. "Quando desenhei, procurei focar o longo prazo e fazer algo atemporal. Essas coisas têm que ser eternas porque perduram. O [uniforme] do Brasil para Paris é uma situação delicada, acredito que jaqueta jeans é atemporal, mas dispensaria a sandália no pé. Não remete ao mundo esportivo."
Em nota enviada ao F5 sobre as críticas entre internautas, a Riachuelo diz estar aberta a acolher os apontamentos dos consumidores. "Neste momento, estamos direcionando todos os nossos esforços, energia e vibração para motivar e torcer pelos nossos atletas que tanto se preparam para esse momento e contam com nosso apoio e torcida."
QUAL É O MAIS BONITO?
A insatisfação dos brasileiros levou a uma compreensível comparação com o uniforme de outros países. O maior destaque ficou para as roupas da Mongólia, da marca Michel & Amazonka, daquele país (claro).
"São lindíssimas", diz Monayma, da Faap, numa análise do colete nas cores azul e branco, com bordado em dourado e detalhes em vermelho. "Dizem que levou em média 20 horas para cada peça ser desenvolvida. É tudo inspirado nas tradicionais túnicas e caftãs com mangas amplas, cheio de detalhes de bordado nos punhos e coletes, saias plissadas e capas drapeadas. O dourado remete também à cultura mongol", diz.
A opinião é compartilhada por Lenny. "Foi o que mais gostei, remete muito ao próprio país, é muito bem feito. É o mais bonito de todos, impecável."
Já o país-sede vai abrir o desfile usando a alfaiataria Berluti, da LVMH, conglomerado de moda que tem em seu portfólio marcas como a Louis Vuitton. Blazers azul-marinho, saias de seda e mocassins de couro estão entre as peças. "Clássico", "atemporal", "que remete conforto" e "elegância" foram definições usadas pelas especialistas.
Outro traje que chamou a atenção nas plataformas digitais foi o do Haiti, composto por estampas e cartela de cor chamativa, da marca Stella Jean, em parceria com o artista haitiano Phillippe Dodard. "Uniformes lindíssimos, simbolizam paz e renovação", comenta Marie. "O feminino é bem trabalhado no viés, tem um ombro imponente, estruturado, cinto largo", analisa Monayna.
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