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Estilo
Descrição de chapéu The New York Times

Os 'bro' de negócios deixam os moletons da pandemia pelos looks sociais

Moda masculina volta ao que era nos anos 2010 nos escritórios

Pandemia não altera looks dos homens de negócio Casey Steffens/The New York Times

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Guy Trebay
Nova York
The New York Times

Reportando direto da máquina do tempo, com o mostrador sintonizado para 2010. Os analistas de mercado e qualquer pessoa com interesse, mesmo que passageiro, por moda masculina se lembram daquele ano como o momento em que a "suitsupply" se tornou um fenômeno mundial. Foi também o momento em que, pela primeira vez, novas tecnologias permitiram que os homens personalizassem seus ternos online sem ter que se submeter a tremendos incômodos como visitar um alfaiate ou ir a uma loja.

Acontece que 2010 também coincidiu com algumas outras mudanças na evolução da moda, e este pode ser o momento certo para apontar um fato sobre o vestuário masculino que não costuma ser muito apreciado. Em sua função de uniforme masculino, o terno mudou notavelmente pouco em 400 anos, dizem os historiadores da moda. (Aproveitando o gancho: ver Harry Styles de vestido não teria sido grande choque para os habitantes de épocas pré-industriais, nas quais homens e mulheres usavam túnicas parecidas e os filhos meninos da aristocracia costumavam usar vestidos até serem promovidos aos trajes com duas pernas, um rito de passagem conhecido como "breeching" [(algo como "encalçamento"]).

Em outras palavras, embora os ternos tenham sempre estado conosco, suas proporções mudam constantemente, de acordo com o gosto de cada momento, e na segunda década deste século a influência do estilista americano Thom Browne se infiltrou em todos os quadrantes de uma indústria que vinha cambaleando e precisava de uma nova orientação. Para quem desconhece a influência de Browne, podemos resumi-la assim: Querida, ele encolheu o terno.

Browne criou paletós mais apertados e mais curtos, destacando o posterior masculino. Criou calças justíssimas e tão curtas que, de repente, era como se os homens tivessem voltado a ter tornozelos.

A moda mais ampla talvez tenha evitado as manifestações mais extremas do terno encolhido, mas ainda assim recebeu a mensagem. Sujeitos de todos os tipos e dos mais variados formatos anatômicos —de "girafas" a "short kings" [baixinhos posudos]— adotaram os ternos justos, fizeram deles o traje padrão no mundo dos negócios, e não pareciam inclinados a abandonar a tendência. E aí, é claro, a pandemia aconteceu, e ninguém quer ler mais uma reportagem sobre o efeito que ela teve sobre as calças e blazers desconfortáveis.

Agora, porém, o número de trabalhadores que estão de volta aos escritórios já é enorme. Número surpreendente de profissionais está ralando há meses, ou, nos casos de alguns bancos de investimento, há quase um ano, em seus formigueiros corporativos.

Em termos de retorno ao escritório, portanto, são os manos das finanças que estão abrindo o caminho. E, para quem busca observar essas criaturas em seu habitat natural, a plataforma ideal para contemplação é o saguão do Brookfield Place, um vasto complexo de escritórios no distrito financeiro de Manhattan. Lá, o crítico de moda masculina que vos fala estacionou seu traseiro em uma cadeira em três horas de almoço da semana passada, para obter um panorama daquilo que os homens de negócios estão vestindo no escritório. As informações reunidas foram aleatórias, de certa forma, mas também surpreendentes, em todos os quesitos.

Longe de se vestirem de modo muito diferente do que acontecia antes que a Covid-19 confinasse os trabalhadores à segurança de seus espaços de trabalho caseiros, os "bros" das finanças na verdade estão se vestindo da mesma maneira que as pessoas que tinham esse tipo de emprego se vestiam quando Barack Obama ocupava a Casa Branca. Ao contrário do ex-presidente, cujas preferências de vestuário eram muitas vezes um pouco antiquadas, os homens que vi descendo as escadas rolantes que conduzem ao Royal Bank of Canada, a empresas de serviços financeiros como a American Express ou ao escritório de advocacia Jones Day, ou comprando baguetes de presunto no Le District para almoçar em suas mesas nas sedes de gigantes financeiros como o banco Goldman Sachs, pareciam bem atualizados. Isto é, atualizados com a moda de 2010.

"O que estou vestindo?", disse David, 30, que trabalha no Goldman Sachs mas, como muitos dos entrevistados para este artigo, mencionou normas da empresa para se recusar a fornecer seu sobrenome. "Quem quer saber?"

Na verdade, o modo de vestir de David poderia servir de modelo para cada "bro" das finanças que está oficialmente de volta ao escritório ("e desta vez não vamos voltar atrás", dizem seus chefes). David Solomon, o presidente-executivo do Goldman Sachs, é opositor ferrenho da tendência ao trabalho híbrido e declarou repetidamente que vê o trabalho remoto como aberração, e quer que seus funcionários retornem ao escritório em período integral.

Como quase todas as pessoas entrevistadas, ou mesmo vistas de relance, em Brookfield Place, David vestia uma camisa branca muito bem passada, sem gravata. O modelo que ele ostentava era uma camisa Leeward da Mizzen+Main, que custa US$ 99 (R$ 526). A peça se amoldava bem ao seu torso musculoso. O mesmo pode ser sito sobre suas calças New Venture de poliéster e "elastomultiester", com bolsos externos, da linha casual de negócios Lululemon, à venda por US$ 148 (R$ 787). Seus sapatos Bruno Magli, de amarrar e no tradicional estilo Oxford, eram pretos.

No contexto, aquilo era quase um gesto punk, se considerarmos que, por razões desconhecidas, muitos dos consumidores do mundo dos negócios parecem ter sido persuadidos a comprar sapatos em um tom marrom claro evocativo de um bronzeado por spray comprado com desconto. Que os fabricantes de sapatos escureçam artificialmente as biqueiras para dar um ar envelhecido a esses calçados certamente não ajuda muito.

"As roupas que usamos são um pouco mais informais, agora", disse David, do Goldman Sachs, ecoando um refrão muito repetido. Menos formal, no contexto, significa não usar gravata, exceto para reuniões com clientes.

É verdade que houve gente que ia ao escritório de calção e chinelo de dedo na época em que os locais de trabalho estavam desertos, mas mesmo assim alguns funcionários intrépidos insistiam em trabalhar nas sedes completamente vazias de suas empresas. Em bancos como o Goldman Sachs e o JPMorgan Chase, dizem pessoas bem informadas, executivos de alto nível continuam a se apegar alguns costumes da era da pandemia, como indicadores de seu status elevado. "Blazers de cashmere sem forro, jeans escuros e [sapatos] Allbirds são vetores simbólicos de senioridade", disse um financista de um banco de investimento de primeira linha na semana passada.

Houve um período em que "você podia usar jeans em uma sexta-feira", disse Arjun Menon, 33, do Goldman Sachs. Menon rapidamente acrescentou que não tinha permissão para falar com a imprensa, embora não antes de revelar que as calças azul marinho com bolsos externos, que ele usava em companhia de uma camisa de colarinho aberto branca muito bem passada e um par de Oxfords de amarrar –que estão para os sapatos como uma balada de Michael Bublé está para a música– foram comprados na Suitsupply.

Com base nas provas disponíveis, Suitsupply, Lululemon, Club Monaco e Brooks Brothers (embora não a linha revitalizada e consciente das novas tendências que esta última grife adotou sob a direção criativa de Michael Bastian) continuam sendo as marcas preferenciais de muitos executivos. Isto se aplica especialmente ao pessoal das mesas de operações, sujeitos recém-egressos de programas de MBA que ainda não deixaram sua marca e não estão esgotados a ponto de sonhar de olhos abertos com uma oportunidade de tacar fogo em seus agasalhos com logotipos da empresa.

(As coisas são diferentes, explicou uma pessoa bem informada, para os especialistas do setor de tecnologia. Aparecer de terno para uma reunião com clientes no Vale do Silício, onde usar meias engraçadinhas continua a ser tendência, "pareceria completamente estranho", ele disse.)

Quanto aos calçados, os produtos preferidos tendem a ser modelos de preço médio de marcas como Johnston & Murphy, To Boot e Allen Edmonds, uma fabricante de calçados de Wisconsin fundada para fornecer calçados a soldados na Segunda Guerra Mundial. Embora não houvesse muitos calçados de luxo em uso entre os homens de Brookfield Place –o shopping center instalado no saguão, decorado por palmeiras, tem como âncora butiques reluzentes que vendem Bottega Veneta, Louis Vuitton, Ferragamo e Gucci—, isso talvez se deva à queda dos mercados.

"Talvez, se recebermos uma bonificação, eu compre algum Gucci", disse Charles Li, 26, funcionário do Scotiabank. Li estava vestindo roupas básicas mas de corte elegante (calças azuis, camisa branca, Oxfords), da Suitsupply, cuja loja no Brookfield Place fica convenientemente localizada no nível do mezanino. Um colega de Li, Allan Bossard, 23, usava praticamente a mesma roupa.

"Claro, eu me importo com roupas", disse Bossard. Mas, ele acrescentou, isso não é mais ou menos verdade agora do que era antes do início dos lockdowns, em 2020. "É importante estar apresentável no escritório, porque, afinal, você representa a firma".

Para Ryan Meiser, 31, analista de investimentos do Royal Bank of Canada, a fase de retorno ao escritório não sinalizou grande mudança em sua rotina matutina. "Você precisa ter personalidade para se vestir", disse Meiser, que usava uma camisa branca Giorgio Armani, um par de calças Zegna cinza e sapatos de um fabricante cujo nome ele havia esquecido.

Mas no final, aquilo que uma pessoa escolhe vestir no escritório pode ser uma pergunta menos relevante do que determinar onde exatamente fica seu local de trabalho. "Ir três dias por semana ao escritório é obrigatório, com a segunda e sexta-feira como opcionais", disse Meiser.

"Nos finais de semana", ele acrescentou com uma risada, "estamos livres para trabalhar em casa".

Traduzido originalmente do inglês por Paulo Migliacci

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