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Estilo

Tatuagens: Veja relatos e dicas sobre essa arte que conta história e enfeita

Estilo e profissional devem ser considerados na hora da escolha

Victor Montaghini, artista e tatuador profissional Zanone Fraissat -07.mai.2021/Folhapress

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São Paulo

Elas aparecem como desenhos, palavras ou até números. Podem ter significados, contar histórias ou ser pura arte. As tatuagens fazem parte da vida de muita gente. Não importa a idade ou o estilo da pessoa, as marcas aparecem como enfeite, seja de forma discreta ou aos montes, com cores berrantes.

Carolina Colicigno, 30, publicitária, conta que sua primeira tatuagem foi feita escondida, quando ela tinha cerca de 16 anos. “Fiz uma bem pequenininha, na parte de dentro do tornozelo. Quase nem dava para ver”, afirma ela, que hoje tem mais de 45 desenhos espalhados pelo corpo.

Lucimar Carvalho Medeiros tem mais que o dobro da idade de Colicigno e também fez sua primeira tattoo escondida. Hoje aposentada e com 63 anos, ela afirma que fez quando tinha por volta de 30. “Foi um beija-flor, que eu adorava”, diz ela, que atualmente tem cerca de 10 tatuagens.

O beija-flor, localizado na perna, abaixo do joelho, ficou resguardado. Medeiros diz que evitou por um tempo os olhares de julgamento, principalmente da mãe. “Eu vivia de calças jeans, até que um dia eu mostrei e ela ficou chateada, mas não tinha mais o que fazer.”

Colicigno diz que também escondia da mãe. Advogada, a matriarca dizia ser melhor esperar e fazer a tatuagem quando a filha fosse mais velha e já soubesse “o que queria da vida”.

O tatuador Victor Montaghini diz que essa forma de ver as tatuagens tem mudado. “Tem profissão que parece priorizar pessoas com tatuagem. Principalmente em áreas mais criativas”, afirma. “Ter uma tatuagem dá um certo status. Acho que esse pensamento é de 10 anos atrás", completa.

Admirador de tatuagens desde a infância, Montaghini diz que a sua primeira é a mais especial, “por ser justamente o início de tudo”. Ele conta que transformou a paixão em profissão ao se ver infeliz trabalhando em um escritório. “Um dos meus clientes era tatuador e eu falei para ele me ensinar a tatuar. Então, larguei tudo e achei a tattoo.”

Para Marcella Fernandes, 21, assistente de comércio exterior, a tatuagem sempre esteve presente em sua família, desde seus pais, tios e até mesmo avós. “Minha família inteira tem tatuagem”, explica. Sua primeira foi feita aos 17 anos, após insistir muito para seus pais a levarem ao estúdio.

Fã de tatuagens minimalistas, ela tem três, mas afirma querer mais, e revela inspirações variadas, como a cantora Demi Lovato, 28, que motivou sua primeira tattoo, e uma tia que faleceu em 2019. “Fiz o nome dela em japonês. Ela tinha essa tatuagem, eu só reproduzi”, explica ela.

Falando em significados, Colicigno também tem vários em suas tatuagens. Entre eles estão uma oração, que ela tatuou após “um divisor de águas na minha vida”; um par de asas em homenagem aos avós; e o desenho do “gato xodó da minha vida”, que desapareceu.

Além disso, ela tem uma pata de leão, em homenagem a sua namorada, “porque ela é leonina”, completa. A publicitária afirma que os cerca de 45 desenhos que carrega no corpo trazem sua identidade. “Meu corpo e as coisas que eu gosto mudaram demais.”

Apesar da paixão pelas tatuagens, no entanto, Fernandes, que é assistente de comércio exterior, ainda vê uma certa questão do universo corporativo e tatuagens. “Eu trabalho, sou de uma área que julgo ainda existir sim um certo preconceito. Mas eu acredito que isso está mudando”, afirma.

Medeiros afirma que já viu muita mudança após mais de 30 anos desde sua primeira tatuagem. Se fosse começar hoje, ela diz que “faria uma bem grande, não muitas pequenininhas”. "Eu faria o braço todo, as costas ou a perna toda. Acho lindo”, diz ela. “Mas no meu tempo não era comum grande assim.”

ESTILOS DE TATUAGEM

Carolina Colicigno, 30, conta que, com o passar dos anos, o estilo de suas tatuagens mudou muito. “A primeira que eu fiz é uma palavrinha bem pequena, que envolvia uma música que eu gostava”, relembra. Hoje, ela prefere traços mais marcantes, do estilo “old school” (moda antiga, em português).

Os estilos dos traços varia muito e com o passar dos anos, surgem cada vez mais variações. Traços “new school” (moda nova, em português) trazem cores vibrantes, enquanto as “tribais”, sucesso nos anos 1990, consistem em traços fortes com tinta preta.

Victor Montaghini afirma que as tendências de tatuagem funcionam como qualquer relação visual, e passam por ciclos, como na moda e na arte, como um reflexo da sociedade. “Acontece essa mudança do que as pessoas enxergam como bonito, o que já é algo relativo.”

O tatuador afirma que tenta se "manter num estágio que eu possa ficar neutro a isso, aos modismos e tendências". “Busco sempre algo que possa ser ressignificado com o tempo”, diz. Para ele, é importante evitar ícones e símbolos que sejam tendência. “Na minha concepção, a pessoa que quer uma arte no corpo, quer ser diferente dos outros.”

Marcella Fernandes comenta que sua preferência por estilos também mudou com o passar dos anos. Ela relembra que após fazer sua terceira tatuagem pensou : “daqui para frente, vou sempre optar por fazer traços bem mais finos, porque eu acho que fica mais trabalhado.”

Já Lucimar Carvalho Medeiros, 63, conta que desde sua primeira tatuagem até a última não observou diferenças de estilos. “São todas escuras, só tenho uma colorida”, explica. Para o futuro, ela pretende fazer uma tatuagem de Nossa Senhora, apenas com traços.

CUIDADOS PARA TATUAGENS

Além de cuidado na escolha do desenho, após tatuar é necessário ter cuidados com a pele. “Para a cicatrização, recomendo manter a tatuagem limpa e evitar atrito”, afirma o tatuador Victor Montaghini. “Uma outra coisa é evitar a exposição ao sol.”

Para Fernandes, é fundamental pesquisar traços e estilos antes de decidir fazer uma tatuagem. “É, literalmente, um caminho sem volta. Até existem procedimentos para tirar tatuagem, mas na teoria é algo que está ali para sempre”, afirma.

“Se está inseguro, não faça [tatuagens]”, completa Medeiros. A aposentava conta que nunca apagou tatuagens, só cobriu uma que não havia gostado do resultado. “Apagar dói mais do que fazer, porque, para fazer, você está empolgado”, reflete ela.

Outro alerta é para o preparo emocional e físico da pessoa que opta por fazer a tatuagem, afirma Colicigno. “Depende muito do que se está vivendo ou sentindo”, explica, “também tem o preparo psicológico, porque dói, não é uma coisa que não dói.”

Montaghini diz que acontece com certa frequência de pessoas se arrependerem de tatuagens. E ressalta que, além de pesquisar traço e desenho, talvez seja mais importante pesquisar o profissional que fará a tattoo. Para ele, é importante acompanhar a trajetória do profissional.

Apesar de não ser profissional em remoção de tatuagens, Montaghini diz que o processo evoluiu nos últimos 10 anos e está menos “desastroso”, com menos cicatrizes e mais barato. Porém, ele ressalta: “ainda é um processo que traz muita dor e leva tempo na cicatrização de uma sessão para outra.”

“Normalmente, o arrependimento tem a ver com a estética. Dificilmente uma pessoa se arrepende de uma tatuagem bem feita”, explica ele, que sugere tatuagens "que converse com a pessoa tatuada, e não com o que a sociedade no momento espera. Tem que fazer mais parte de você do que agradar os outros”, diz. "É importante entender porque quer ter uma tatuagem."

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