Estilo

Para driblar a crise, mulheres organizam bazares de troca de roupas entre amigas

Proposta também vai ao encontro de uma moda mais consciente e ecológica

Maria Fernanda Teixeira (à esq.) e Nicoly França, do canal Desavesso, do YouTube

Maria Fernanda Teixeira (à esq.) e Nicoly França, do canal Desavesso, do YouTube Rubens Cavallari/Folhapress

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São Paulo

Sabe aquele vestido que está há mais de um ano no armário, mas nunca foi usado? Ou aquela camisa, que apesar de já ter composto vários "looks" incríveis, hoje não combina mais com o seu estilo? Já pensou que essas peças podem ficar ótimas em uma amiga? E que, talvez, esta amiga tenha no guarda-roupa dela uma saia que seria a ideal para aquela festa de fim de ano que você vai ter?

Por que, então, não reunir todos esses itens em uma tarde regada a café, conversa e moda? Esse tipo de bazar, que nada mais é do que uma troca de roupas e acessórios entre amigas, tem se tornado cada vez mais comum entre mulheres de diferentes idades.

A proposta é simples e, em tempos de crise econômica, ajuda a reciclar o que se tem em casa gastando pouco ou quase nada. E vem ao encontro de um movimento observado no mundo fashion, que pede um consumo mais consciente e ecológico. 

"Uma grande parte do meu guarda-roupa é formado por peças de troca ou que adquiri em brechós. Só compro algo novo se for muito diferente do que já tenho ou o que eu preciso substituir, porque está danificado", diz a personal stylist Luana Straccialini, 37, que costuma organizar bazares entre as suas amigas.

A ideia dela de promover esses encontros surgiu ao observar o comportamento de suas clientes, que não sabiam o que fazer com peças mais caras ou novas que não usavam. "Eu percebia que elas se sentiam melhor quando eu sugeria de doar essas peças para pessoas próximas, como irmãs, mãe ou amigas."

Daí para o bazar de troca foi um pulo. A terapeuta Renata Scarelli Fernandes, 34, é amiga de Luana e também adepta do movimento. "É bem legal, porque além de conversar, vira e mexe, nestas reuniões de amigas, levamos roupas e acessórios. Tem uma blusa, por exemplo, que eu adorei na loja, mas que não tinha o meu número. Em um desses bazares, encontrei a mesma peça, exatamente do meu tamanho."

Para não dar confusão, Straccialini diz que é bom estabelecer algumas regras, que podem ser definidas em comum acordo por todo o grupo. No caso delas, por exemplo, roupas que não encontraram uma nova dona são levadas para serem doadas a alguma entidade beneficente. Se há mais de uma interessada em um mesmo artigo é feito um sorteio.

"A ideia é desapegar", afirma a personal stylist. Para a profissional, além da economia de grana, garimpar roupas com as amigas ou em brechós é uma forma, também, de ter um visual mais autêntico. "Quando você compra só as tendências ou aquilo que está na moda, a impressão é a de que está todo mundo igual com o mesmo estilo. Gosto de peças diferentes." 

A DIFÍCIL ARTE DO DESAPEGO

Todo o mundo tem roupa parada no guarda-roupa. Essa é uma das premissas das amigas Maria Fernanda Teixeira, 27, e Nicoly França, 27, idealizadoras do Desavesso, canal no YouTube em que elas falam sobre moda sustentável e tem como lema o desapego. "Não faz sentido ter um monte de peça guardada no armário, que não é mais usada", diz França.

Mas, afinal, como saber que é o momento de abrir mão da roupa? Segundo ela, há algumas indicações para isso. Ficar mais de um ano sem usar a peça é uma delas. "Quer dizer, que você já passou por todas as estações do ano e por diferentes momentos e, mesmo assim, não usou, portanto, vai ser difícil usar."

Dicas para desapegar

É hora de descartar a roupa quando:

  1. Não é usada há mais de um ano

  2. Não serve mais

  3. É uma peça única, que não combina com as outras do guarda-roupa

  4. É uma roupa que não reflete mais o estilo da pessoa

  5. É uma peça de uma tendência, que a pessoa se empolgou e comprou, mas não consegue usar

Outra dica é se a roupa não serve. "Ficar guardando para o futuro é outro indício de que é hora de desapegar", diz. Segundo ela, vale também fazer uma limpa no armário a cada seis meses. Assim, a pessoa consegue ver tudo que de fato possui. 

Embora sejam especialistas em organizar bazares maiores, elas também costumam realizar trocas entre amigas, um hábito que já vem de família. Ambas contam que na infância era comum que as roupas das mães, tias e primas fossem repassadas entre os parentes. 

Teixeira conta também que a sua mãe, que é professora em uma escola já fez bazar de trocas com as outras educadoras da unidade de ensino. Ela aponta que uma dica fundamental para quem deseja entrar nesse universo é mudar a consciência sobre roupa usada. "Se ela está em bom estado, não há motivo para não ser repassada e aproveitada por outra pessoa", relata.

Mesmo que seja um bazar caseiro entre amigas, Teixeira recomenda algumas ações básicas que podem contribuir para o sucesso do evento, como levar as roupas lavadas e passadas, além de disponibilizá-las em araras ou em espaços que sejam de fácil visualização.

É importante também que o local tenha um bom espelho e um lugar para a pessoa se trocar e ver como ficou a peça no corpo.

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