Estilo

Sem casaquinho de vovó: homens e mulheres com mais de 50 pedem roupas mais modernas

Conforto, liberdade e beleza é a união perfeita, diz artista plástica

A dentista Magali Frossard Ribeiro, 59, nunca deixou de imprimir a sua personalidade
A dentista Magali Frossard Ribeiro, 59, nunca deixou de imprimir a sua personalidade - Jardiel Carvalho/Folhapress
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São Paulo

É sabido que homens e mulheres já não escolhem o pijama como uniforme ao chegar próximo da aposentadoria. Eles estão mais ativos, modernos. Só que agora isso está afetando o mercado da moda de fato. Principalmente em relação às mulheres. Patida Mauad, 61, que trabalha na área há 34 anos e hoje atua como influenciadora inspira essa nova geração que passou dos 50 e que está querendo se encontrar nessa nova fase da vida, sem deixar sua identidade para trás. 

“Ouço muito as mulheres pelas redes sociais e elas dizem que são criticadas por filhos e netos pelo jeito que se vestem”, conta Mauad. Não é mais preciso ser jovem para colocar uma bermuda, usar tênis, optar por um decote ou um vestido mais curto, segundo a especialista. Ela vê que as mulheres dessa idade estão começando a perceber isso e a se rebelar. “Essas mulheres estão livres porque já não precisam atender aos pedidos do marido, dos filhos e isso está refletindo na moda”, avalia Mauad.

E o boom desse público já é conferido em dados. Segundo os organizadores da Longevidade Expo + Fórum, feira que vai ocorrer de 29 de setembro a 1 de outubro, no Expo Center Norte, em São Paulo, o público 50+ já é chamado de “Revolução Prateada” (em referência aos cabelos grisalhos). Um segmento com enorme potencial de oportunidades que no Brasil representa mais de 50% do mercado consumidor, movimentando anualmente R$ 1,8 trilhão, de acordo a Pesquisa Longevidade, feita pelo Instituto Locomotiva. Além disso, o Brasil já tem 51 milhões de brasileiros com 50 anos de idade ou mais e a perspectiva do IBGE é que serão 72 milhões em pouco mais de uma década. 

Mulheres mais velhas consideradas modernas são, na maioria, as que continuaram impondo a sua personalidade no modo de vestir. A dentista Magali Frossard Ribeiro, 59, é um exemplo. “Não tenho dificuldade de encontrar as roupas que gosto. Gosto muito de cor, então, minhas roupas são sempre bem coloridas, inclusive meus calçados. Não curto nada básico. Até a minha casa tem cores em todos os cômodos”, afirma Ribeiro, que mistura roupas e faz o seu próprio estilo. “É muito difícil encontrar roupas de festas. Outro dia, em um casamento, acabei fazendo a minha própria composição”, avalia. 

Há ainda as que começam a perceber que tem mais tempo para elas mesmas. “Acho que essa revolução está começando porque as pessoas com mais de 50 já criaram seus filhos, netos e agora elas têm tempo de olhar mais para si. Comprar uma roupa especial, que a faça se sentir integrada ao mundo, é um cuidado com si mesmo. As pessoas mais velhas não compram mais por impulso, elas querem qualidade e querem se sentir inseridas no mundo”, defende Everton Moreira, criador da marca FCKT, que também atende senhoras e senhores.

“Comecei questionando o conceito de gênero. Há muitos casais que vestem a mesma peça que compram aqui. A moda também já percebeu o plus size e agora precisa atender esse novo público. E a questão é não colocar nenhuma dessas pessoas em caixinhas. No futuro, as lojas não terão mais divisão nenhuma”, reflete o estilista.

Segundo Moreira, uma das receitas de se sentir com suas escolhas é a aceitação. “Quando uma pessoa busca uma roupa para ter aprovação do outro, ela não se abre para o novo ou para aquilo que ela realmente é”, define. Ele cita um cliente de mais de 70 anos que foi surfista a vida inteira e, hoje, mantém o estilo esportivo apesar da idade. 

“LIBERDADE, CONFORTO E BELEZA”

Cada pessoa tem o seu jeito de se vestir, que se forma ao longo da vida. Mas há algumas características que começam a ficar mais comuns a partir dos 50. Alba Ferrari, diretora comercial da Facextrade, especializada em exportação de moda, observa a procura por tecidos mais confortáveis e leves. “As pessoas começaram a buscar coisas mais naturais, menos sintéticas, como o poliéster, por exemplo. A ideia é ter fibras mais naturais, ecológicas, peças recicladas”, afirma.

A artista plástica Virginia Bohrer Pereira Leite, 57, concorda com essa visão e tem sua definição de moda pós 50 anos: “é a união de conforto, liberdade e beleza”. “A gente começa a pensar no nosso dinheiro de um jeito diferente, não compramos mais por impulso, apesar de ter alguns luxos. A lei é ter conforto,  a liberdade e beleza, vestir só o que faz sentido. Não coloco um sapato apertado jamais”, defende a artista.  

A escolha dos tecidos tem muito a ver com isso. “Gosto de me vestir de algodão, de fibra natural, eu privilegio isso, mas não tenho dificuldade de encontrar roupas”. Ela acredita no entanto, que é preciso investir um pouco mais em peças mais caras, no lugar de comprar muito e mais barato, mas que viver em São Paulo facilita por dar acesso à variedade. “Obvio que 57 anos, a gente tem dobrinha em baixo do braço, não vou usar uma resgata muito cavada, apesar de eu me cuidar bem, mas encontro o que preciso. Claro que há marcas que fazem diretamente para o jovem, mas há opções”. 

O estilista Everton Moreira diz que esconder partes do corpo que incomodam também não precisa ser um problema. “Se o braço incomoda, tudo bem. Não precisa deixar de usar regata. Basta compô-la com uma maxicamisa”, lembre ele. “Claro que a mulher é que a sempre vai sofrer mais preconceito por gostar de usar decote e saia curta, como faz a atriz Suzana Vieira. A Claudia Raia tem 52 anos e mantém sua personalidade de sempre”, pontua o estilista.

Já a empresária Suely Guandalini de Rocabado, 55 já acha que as lojas poderiam ter muito mais opções para quem já passou dos 50. “Vejo que há ou aquelas peças muito sisudas, sem cores, ou peças que já não vestem tão bem o corpo dessa mulher -apesar de que a maioria delas hoje se cuida muito. Mesmo assim, quem tem 50 ou 60 anos, quer assumir a sua idade e não quer se vestir nem como uma menina de 20, nem como a ‘nona’ de gerações atrás”, opina Rocabado. “Acredito que o segredo nessa idade é a elegância”, afirma. 

Um outro exemplo está na TV. A atriz Suely Franco, 79 anos, vem chamando a atenção na novela “A Dona do Pedaço” (Globo) justamente por causa do figurino ousado de sua personagem Marlene. A escolha das roupas elegantes foi uma escolha das figurinistas Sabrina Moreira e Claudia Kopke para representar a doçura da mulher “que cuida, que recebe que aconchega”.  Betty Faria, 78, está no mesmo núcleo. 

“A personalidade sempre estará lá e estamos mais livres (principalmente nós, mulheres) para usarmos o que nos agrada. Mas claro que a maneira de vestir vai se adequando ao longo dos anos. Acredito que hoje se adeque mais à maturidade que adquirimos do que à regras impostas pela sociedade”, defende Kople, figurinista da trama. “Sou a favor de usarmos o que nos faz feliz porque nós, melhor que ninguém, temos a percepção do nosso corpo e do que nos cai bem”, completa a figurinista.

INSPIRAÇÃO

O que ainda falta para homens e mulheres com mais de 50 anos é inspiração, segundo especialistas. Dificilmente, mulheres com mais de 50 estão em editorias de moda ou capa de revistas. Apostando nisso, a influenciadora Patida Mauad mantém seu blog de mesmo nome e perfil do Instagram (@pamauad) atualizado com fotos e referências da moda. 

“Uma de minhas seguidoras disse que me encontrou na rede ao me ver com um vestido chique e de tênis. Ela se deu conta de que não precisava mais seguir regras e pegou meus exemplos como referência”, lembra Mauad. O perfil estrangeiro Advanced Style, também, no Instagram, também publica fotos de senhoras e senhores estilosos. 

Mauad que vive rodeada de moda desde a infância, com uma mãe costureira, diz que sempre produziu boa parte de suas roupas, mas vê que não é tão difícil manter seu estilo. “Tenho peças que vou morrer com elas no guarda-roupa, mas em qualquer loja há uma pantalona, um tubinho, uma calça mais larga ou uma saia godê, que vestem mulheres dos sete aos 90 anos”, defende ela. 

LINGERIE ADAPTADA

Há algumas especificidades que já começaram a ser notadas. Rita de Cássia de Oliveira, fundadora da marca de lingerie U. Couture, passou a fazer peças sob medida e, aos poucos, ouvia reclamações das mulheres mais velhas. “Falando e conversando com amigas eu ouvi que as mães delas chegavam a cortar a cava da calcinha, porque a modelagem incomodava”, conta Oliveira. 

Foi quando ela começou a desenhar peças que aliavam conforto e beleza. Agora, com uma loja virtual, ela está desenhando coleções totalmente dedicadas ao público 50+. “Fui mais para o algodão que é algo que não se vê no mercado, mesclando com renda, com cores diferentes, não só bege que se vê por aí”, explica a estilista. Ela ainda está projetando sutiãs para mulheres que perderam a mama para um câncer e modelos com ombreiras para quem tem os seios muito pesados e afetam os ombros. 

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