Musical reúne canções de sucesso de Zeca Pagodinho para contar a vida do sambista
'Assisti ao espetáculo três vezes', afirma cantor e compositor carioca
Os sambas e a vida de Zeca Pagodinho tomaram os palcos. Estreia, no próximo sábado (14), "Zeca Pagodinho - Uma História de Amor ao Samba", musical que destaca acontecimentos pessoais e profissionais da vida do cantor e compositor carioca.
O espetáculo, segundo o autor e diretor, foge do formato tradicional de biografia. "Quando recebi o convite para escrever a peça, pensei em fazer uma fábula, como se fosse um Macunaíma do subúrbio”, explica Gustavo Gasparani.
A diferença é que, em vez de ser um herói sem caráter, como o personagem do escritor Mario de Andrade (1893-1945), Pagodinho aparece como um homem que faz a diferença. “Ele foi um verdadeiro embaixador da periferia. Ajudou a dar destaque a lugares como Xerém e Irajá, geralmente pouco conhecidos nacionalmente”, afirma Gasparani.
O musical ainda retrata artistas como Beth Carvalho e Arlindo Cruz e os mistura a personagens fictícios, como o Partideiro e o Sr. Velha-Guarda. Quanto às músicas, o repertório inclui sambas famosos de Pagodinho, entre eles “Camarão que Dorme a Onda Leva” (seu primeiro sucesso), “Verdade” e “Samba pras Moças”.
"Zeca Pagodinho - Uma História de Amor ao Samba” tem dois atos. O primeiro começa em uma roda de samba e relata os primeiros passos do cantor no mundo da música. Nessa parte da peça, Pagodinho é interpretado pelo ator Peter Brandão. O segundo mostra Pagodinho, vivido por Gasparani, já reconhecido como grande nome do samba.
"Essa parte revela bem o Zeca no mundo da fama, com destaque na mídia e sempre citado como referência no samba, mas que jamais deixou de ter a alma do povo”, diz Gasparani. Da mesma forma que começou, o musical termina em uma roda de samba.
O espetáculo fica em cartaz apenas até o começo de agosto. Os ingressos já estão sendo vendidos na bilheteria do teatro e também no site Ingresso Rápido.
SAMBA FEITO
Jessé Gomes da Silva Filho, nome verdadeiro de Zeca Pagodinho, nasceu em fevereiro de 1959 em Irajá, bairro da zona norte do Rio. Morou em vários lugares, incluindo Xerém, bairro do distrito fluminense de Duque de Caxias que é sempre citado pelo sambista e onde ele ainda tem casa.
Zeca sempre participou de rodas de samba, nas quais mostrava as músicas que escrevia. Sua carreira, porém, começou de fato em 1983, com a gravação do disco “Camarão que Dorme a Onda Leva”, que teve a participação da cantora Beth Carvalho, sua madrinha artística.
Pagodinho, então, virou um dos nomes mais fortes do samba nacional, com 30 trabalhos, entre álbuns de estúdio e ao vivo. “Mesmo com tudo isso, ele sempre faz questão de manter ligação com os amigos de toda a vida e de nunca esquecer os bairros onde morou”, conta Gustavo Gasparani, autor, diretor e ator de musical que conta sua vida.
"Com a produção do espetáculo, pude perceber o quanto ele é parceiro e amigo dos amigos. É preocupado com os compositores que escrevem para ele e ajuda quem for”, completa Gasparani. Uma amostra disso aconteceu em janeiro de 2013. Xerém foi atingida por fortes temporais, que destruíram casas e alagaram ruas, deixando muitos desabrigados. O sambista, então, pegou um quadriciclo e partiu para ajudar a população das áreas afetadas.
Pagodinho também não precisou fazer mudanças em seu estilo para chegar ao estrelato musical. “Pelo contrário. Ele levou às casas de shows e às grandes gravadoras o samba como ele é feito nas mais tradicionais rodas das periferias brasileiras”, relata Gasparani.
"ASSISTI AO ESPETÁCULO TRÊS VEZES", DIZ PAGODINHO
O cantor Zeca Pagodinho aprovou o resultado do espetáculo musical que conta momentos de sua vida e da sua carreira. “Fui três vezes assisti-lo. Fiquei bastante contente e surpreso. É muito louca a ideia de ver parte do seu passado no palco, com a interpretação de outra pessoa”, diz o sambista.
“Zeca Pagodinho - Uma História de Amor ao Samba” estreou no Rio no segundo semestre do ano passado.
¦Pagodinho conta que o espetáculo, inclusive, ajudou a ativar parte de sua própria memória. “Eu não me lembrava de algumas histórias que estão na peça e que eu e o meu grande parceiro Arlindo Cruz tínhamos vivido juntos, por exemplo”, afirma.
O cantor chegou a frequentar os bastidores do espetáculo. “Ele se surpreendeu em como é diferente a preparação do teatro e a de um show”, conta Gustavo Gasparani, autor e diretor do musical, que também interpreta o cantor em uma das partes.
Gasparani teve algumas conversas com Pagodinho para a criação do enredo da peça. “Eu recebi a ideia pura e simplesmente como homenageado. Procurei me intrometer o mínimo possível, já que o pessoal se mostrou bem competente”, completa o cantor.
Um dos poucos pedidos que o sambista fez foi para incluir um personagem que foi muito importante em sua vida pessoal: o Baixinho, um dos seus grandes amigos. "É um homem que vivia dizendo que o Zeca não cantava nada. Mesmo assim, ele gostava tanto dele que o chamou para ser seu caseiro”, conta Gasparani. Atualmente com mais de 90 anos, Baixinho mora em uma casa de repouso paga por Pagodinho.
O cantor também pediu para que as gerações anteriores da música não fossem esquecidas. “Os sambas clássicos nunca deixaram de influenciar a música que o Zeca faz, e até hoje é assim”, encerra Gasparani.
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