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X de Sexo Por Bruna Maia
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O nazismo de Elon Musk, a energia masculina de Zuckerberg e o que isso significa para o sexo

Sexualidade é também política, e ideologias totalitárias e supremacistas afetam a intimidade

Elon Musk, CEO da Tesla e SpaceX - ANGELA WEISS/AFP
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A menos que você não estivesse no planeta Terra nos últimos dias, já deve ter visto algumas vezes a imagem do ex-calvo Elon Musk no dia da posse de Trump fazendo uma saudação nazista. Gesto estranho, disseram alguns veículos de comunicação, talvez para evitar processos.

"Saudação romana" disseram alguns puxa-sacos de bilionário para defendê-lo —pois é, Roma, uma nação bélica e com muitos escravizados. E o que isso tem a ver com o tema da coluna, que é sexo? Bem, bastante.

Já cansei de dizer aqui que sexualidade também é política e a maneira como vivenciamos nossa intimidade, que às vezes nem é tão íntima assim, é afetada pelo mundo em que vivemos. Um governo que legitima determinismo de gênero, masculinismo e LGBTQfobia é um governo que mina direitos sexuais e reprodutivos, como o aborto, a contracepção e até mesmo a prevenção de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs).

Vejamos um exemplo do próprio Musk. Antes das eleições dos Estados Unidos, no ano passado, ele gastou US$ 20 milhões em anúncios alegando que Donald Trump não era a favor da proibição do aborto em todo território nacional, apenas a favor de "restrições federais" ao procedimento. Na prática, as duas coisas são iguais: estabelecer regras sem base científica que impeçam as estadunidenses de abortar, independentemente do estado em que moram.

Em estados mais conservadores, como o Texas e a Georgia, que já trabalham com esse tipo de "restrição", mulheres estão morrendo por falta de assistência médica. Ao chegarem sangrando no hospital porque estão passando por um aborto —provocado ou espontâneo– médicos se negam a realizar os procedimentos cirúrgicos necessários para conter o sangramento, porque a lei os restringe.

As pacientes sangram até morrer, ou acabam tendo sepse. São mortes evitáveis, e, sim, a maioria das vítimas são negras.

O banimento do aborto está intimamente ligado ao controle da sexualidade feminina. Dentro da mentalidade conservadora, o sexo deve ser feito dentro do casamento, com fins reprodutivos, e dane-se o prazer feminino. Toda mulher que não queira participar desse jogo, ou tenha sido forçada a isso, merece ser punida com todo ônus de uma gravidez indesejada ou, até mesmo, com a própria morte.

No nazismo, aliás, era assim. Mulheres eram vistas como reprodutoras da raça ariana, e, quanto mais filhos tivessem, melhor. Inclusive, aquelas que tivessem quatro filhos ou mais recebiam a medalha Cruz de Honra da Mãe Alemã, um prêmio animalizante, que fala muito sobre o lugar da mulher naquele espaço.

Ah, claro, mulheres que não representavam o ideal ariano não raro eram forçadas a se prostituir nos campos de concentração. Uma saudação não é "apenas" um gesto estranho.

Outro bilionário das big techs cansou de fingir que se importava com diversidade e igualdade de gênero. Mark Zuckerberg anunciou que não irá mais disponibilizar a checagem de informações nas plataformas da Meta, que incluem Facebook, Instagram e Whatsapp. Também enxugou seu time de moderação, responsável por tirar do ar conteúdos que atacam minorias. Encerrou o programa de diversidade e inclusão interno da empresa. Ele disse que o "mundo corporativo" precisa de mais "energia masculina".

Mas o que é a tal "energia masculina"? A expressão faz parte de uma crença binária que associa o masculino com razão, agressividade e objetividade, e o feminino com emoção, cuidado e subjetividade, e ai de quem desviar da energia determinada por seus genitais.

É mais uma das místicas totalitárias para reservar o mundo do dinheiro, do poder e da política aos homens, enquanto às mulheres resta a esfera doméstica e o trabalho não remunerado do "amor". Não à toa, todo masculinista quer uma esposa tradicional.

O mundo que esses caras querem passa por restringir o prazer e a liberdade das mulheres, e eles vêm fazendo isso por meio da propaganda. Olhe bem o seu feed, para ver se não está cheio de vídeos de pessoas que você nunca seguiu reproduzindo esses estilos de vida.

Não podemos deixar de lutar.

X de Sexo por Bruna Maia

Bruna Maia é escritora, cartunista e jornalista. Autora dos livros 'Parece que Piorou', 'Com Todo o Meu Rancor' e 'Não Quero Ter Filhos', fala de tudo o que pode e do que não pode no sexo.

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